Se o ano de 2021 foi ainda de recuperação da pandemia para muitos negócios, o ano passado não podia ter corrido melhor para as empresas detidas pelos homens mais ricos do país. A maioria dos negócios nacionais foram bastante resilientes face às adversidades dos dois anos anteriores e conseguiram reerguer-se e seguir em frente mais fortalecidos do que nunca.
Juntas as 50 famílias mais ricas de Portugal detêm um património empresarial de quase 40 mil milhões de euros, o que corresponde a cerca de 16,5% do PIB nacional, que, em 2022, ascendeu a 242,3 mil milhões de euros. Só as primeiras 10 famílias do ranking, das quais apenas a décima está ligeiramente abaixo dos mil milhões de euros de avaliação, reservam para si uma fatia de 20,3 mil milhões de euros, ou seja, cerca de metade do valor patrimonial da lista dos 50 mais abastados.
As primeiras 10 famílias do ranking dos milionários acumulam uma riqueza conjunta de 20,3 mil milhões de euros, cerca de metade do total dos 50 mais ricos.
Quando a Forbes Portugal realizou o mesmo estudo em 2019, antes da pandemia, portanto, os 50 portugueses presentes na lista acumulavam uma riqueza conjunta de 24 mil milhões de euros, o que representava então 12% do PIB. Por aqui se pode perceber a evolução da valorização dos negócios nestes últimos quatro anos. Tirando o empresário José Neves, da Farfech, que perdeu muito valor em Bolsa desde a avaliação de 2019, e o futebolista Cristiano Ronaldo, que não incluímos na lista deste ano (os critério de avaliação patrimonial seguidos pela Forbes Portugal são difíceis de aplicar ao jogador, que tem uma riqueza mais assente em salários e patrocínios), muitos dos empresários de então mantêm-se seguros no topo.
Distribuição alimentar foi das áreas que mais cresceu
A lista é composta por nomes que atuam em áreas tão diversas como a distribuição alimentar, a energia, o retalho, a produção agroindustrial, a cortiça, as telecomunicações, a saúde, a construção, a indústria, entre muitas outras. A distribuição alimentar foi um dos setores que mais cresceu em tempos de pandemia e que acabou por ganhar com a inflação que subiu em flecha com o despoletar da guerra na Ucrânia em fevereiro de 2022. Veja-se o caso da família Soares dos Santos, herdeira do património do fundador da Jerónimo Martins, Francisco Manuel dos Santos. O ramo familiar descendente do falecido Alexandre Soares dos Santos, o maior acionista da sociedade familiar que controla a Jerónimo Martins tem hoje um património que ascende a 3,37 mil milhões de euros. O seu maior legado é o grupo Jerónimo Martins que valorizou consideravelmente em bolsa no último ano, atingindo um pico de valor em julho deste ano, com a ações a cotar acima dos 26 euros. À data da avaliação da Forbes, a 2 de outubro, negociavam nos 21,30 euros, o que confere à família uma bela parcela da sua fortuna. As vendas de 2022 do grupo de distribuição cresceram cerca de 21%, para os 25,4 mil milhões de euros e o EBITDA aumentou 17%, para 1,8 mil milhões de euros. Além disso, a atividade continua a correr de feição durante este ano: só o lucro do primeiro semestre de 2023 atingiu os 356 milhões de euros, uma subida de 36% face ao primeiro semestre do ano transato.
Dos primeiros dez lugares do top 50 apenas a família Amorim, Soares dos Santos e Azevedo têm a maior parte da sua fortuna indexada às variações da bolsa.
Também a maior fatia da riqueza da família líder deste ranking, a Amorim, está assente na bolsa, através da sua participação na Galp, quer através da corticeira Amorim, empresa que a família controla com António Ferreira de Amorim, irmão do falecido Américo Amorim. Dos primeiros 10 lugares do top apenas três famílias – Amorim, Soares dos Santos e Azevedo – têm a sua riqueza indexada às variações da bolsa. Todos os outros empresários têm patrimónios industriais, que, de alguma forma vão sendo mais estáveis e apresentam crescimentos seguros ano após ano. A família Guimarães de Mello, herdeira do legado do industrial José de Mello, tem a sua fortuna assente nos negócios industriais e na saúde, com o grupo CUF, tendo desinvestido na Brisa, que era um dos seus maiores ativos. Fernando Campos Nunes, com um conglomerado de vários negócios, entre eles as telecomunicações, a indústria e o turismo tem crescido de forma consistente, ultrapassando a fasquia dos mil milhões de euros de avaliação (1.350 milhões de euros), tal como acontece com o empresário António Silva Rodrigues, do Grupo Simoldes (1.320 milhões de euros). Por outro lado, os milionários da Bolsa, como José Neves, acabam por ter uma avaliação de património mais instável ano após ano. Também a nova riqueza, gerada pelos unicórnios (startups de base tecnológica avaliados em mais de mil milhões de dólares) de origem portuguesa – são já 7 com ADN português, embora quase todos com sede fora de Portugal – é muito difícil de contabilizar (ver texto sobre unicórnios).
Turismo recupera em alta
Uma outra área que recuperou de forma excecional da fase pandémica foi o setor do turismo. Os dois maiores patrimónios nacionais assente na hotelaria, o Grupo Pestana e o Grupo Vila Galé, viram as suas avaliações subir consideravelmente face à avaliação de 2019. Em oitava posição do ranking, com uma avaliação de 1.310 milhões de euros, Dionisio Pestana, conseguiu, em 2022, o melhor resultado de sempre do grupo que fundou com o pai, Manuel Pestana, ao alcançar um volume de negócios de 453 milhões de euros, um crescimento de 50% face ao ano anterior. O EBITDA atingiu os 200 milhões de euros, o que contribuiu para uma avaliação mais generosa do seu património. Da mesma forma, Jorge Rebelo de Almeida, posicionado em 11º lugar, avaliado em 980 milhões de euros, registou um volume de negócios do Vila Galé de 117 milhões de euros, e um EBITDA de 73 milhões de euros.
Destacamos nesta edição o cre4scimento das fortunas ligadas à área do setor automóvel, maquinaria e mobilidade, como é caso da família Jervell e da família Jensen de Leite Faria.
De destacar ainda neste estudo o crescimento de fortunas ligadas à área do setor automóvel, maquinaria e da mobilidade. Falamos, por exemplo do crescimento do negócio do grupo Nors, que coloca a família de Tomás Jervell na nona posição. O grupo, que partilha com a família Jensen de Leite Faria – também presente no top 25 -, tem vindo a crescer a olhos vistos nos últimos anos, atingindo, em 2022, a maior faturação de sempre: cerca de 2.685 milhões de euros e um EBITDA agregado de quase os 200 milhões de euros.
Conheça aqui o top ten da lista da FORBES Portugal dos 50 portugueses mais ricos.