Worldcoin Suspensa em Portugal: Reviravolta nas Operações

A Worldcoin, uma das principais protagonistas no atual cenário internacional das criptomoedas hoje em dia criadas, vê-se subitamente envolta em polêmica, com a decisão assumida pela Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD) de suspender as suas operações em território português. Esta medida, que vigorará por um período inicial de 90 dias, representa de facto…
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A Worldcoin vê-se subitamente envolta em polêmica com a decisão assumida pela Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD) de suspender as suas operações em território português.
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A Worldcoin, uma das principais protagonistas no atual cenário internacional das criptomoedas hoje em dia criadas, vê-se subitamente envolta em polêmica, com a decisão assumida pela Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD) de suspender as suas operações em território português. Esta medida, que vigorará por um período inicial de 90 dias, representa de facto uma reviravolta significativa nas atividades da empresa, e tem vindo a provocar uma reação em cadeia no ecossistema das criptomoedas – especialmente no que toca aos debates que têm emergido quanto às implicações éticas resultantes do crescimento e características dessas mesmas moedas.

No epicentro desta controvérsia está a abordagem inovadora da Worldcoin, que emprega tecnologia biométrica para autenticar a ‘humanidade material’ dos utilizadores da sua plataforma.

A Worldcoin não é apenas uma nova criptomoeda, mas sim todo um mundo digital que inclui a World App – uma aplicação que serve como um “passaporte digital”, que visa simplificar a verificação da nossa identidade em diversas situações.

Análise Biométrica: A Base da Identificação na Worldcoin

Esta abordagem inovadora baseia-se na análise da nossa íris, reconhecida como uma das formas mais precisas de autenticação biométrica atualmente disponíveis. A Worldcoin assegura que apenas usuários autorizados (isto é, que tenham registado a sua íris, fazendo-lhe um scan, em pontos de venda espalhados pelo mundo, também em Portugal)  tenham acesso às contas e transações dentro da aplicação.

Com 17 stands da Worldcoin espalhados por Portugal, os scanners de íris, conhecidos como “orbs”, rapidamente tornaram-se uma presença comum em vários centros comerciais.

Origem e Apoio Financeiro da Worldcoin

É de notar que a Worldcoin foi criada em 2019 pela Tools for Humanity, uma empresa sediada em São Francisco e em Berlim, com o apoio financeiro de figuras proeminentes do setor, como Sam Altman, Max Novendstern e Alex Blania. O seu lançamento oficial ocorreu em julho de 2023, entrevisto como um marco significativo no mundo das finanças (e identidade) digitais.

A visão ambiciosa da Worldcoin vai além de simplesmente ser mais uma criptomoeda – ela almeja tornar-se a maior rede digital de identidade e finanças do mundo.

Implicações Éticas e Controvérsias

Como a FORBES argumentou, a troca de dados biométricos por criptomoedas levanta questões éticas complexas, especialmente aquelas associadas à privacidade, à utilização dos nossos dados biométricos (cujo seu armazenamento e utilização não é totalmente transparente) e, claro, a tudo o que possa mexer na justiça social.

World App: a carteira onde pode ter as suas Worldcoins e World ID. Imagem: Worldcoin.

Vários críticos, como mencionámos aqui, argumentam que as práticas da empresa podem estar a explorar indivíduos vulneráveis, como jovens ou aqueles mais economicamente desfavorecidos, o que pode comprometer a segurança e a privacidade dos mesmos no futuro. As preocupações éticas desencadeadas em torno da gestão transparente e adequada dos dados dos seus utilizadores também suscitam um papel crucial na controvérsia que envolve a Worldcoin.

Repercussão da Suspensão em Portugal: Ética e Transparência

A decisão da CNPD de suspender temporariamente as operações da Worldcoin em Portugal repercutir-se-á não apenas no país, mas também no cenário global das criptomoedas. Uma consequência que, manifestamente, reforça a necessidade de uma abordagem criteriosa no desenvolvimento e implementação das novas tecnologias de identificação biométrica, especialmente considerando, como foi já asseverado, alguns dos princípios fundamentais de uma privacidade e segurança dos dados de que, num estado de direito, não devemos prescindir.

Tendo isto em vista e em resposta a estes mais recentes desenvolvimentos, a Worldcoin reafirmou o seu compromisso para com a ética e a transparência em todas as suas operações. Muitas entidades há, porém, que não se sentem suficientemente salvaguardados com as justificações e explicações da empresa norte-americana.

No entanto, a suspensão temporária da Worldcoin, em Portugal e noutros países, serve como um lembrete vívido da importância de uma abordagem responsável e transparente no que toca ao desenvolvimento (e à implementação) de soluções tecnológicas inovadoras. Destacando-se, ainda, a necessidade premente de equilibrar a inovação com uma intocabilidade nos princípios fundamentais de privacidade e segurança dos dados dos usuários.

Este episódio também põe em evidência a importância de uma colaboração estreita entre empresas e entre estas e os órgãos reguladores, de modo a garantir que os padrões mais elevados de proteção de dados sejam mantidos em todas as circunstâncias.

O debate principiou e parece ter apenas começado. Para o bem ou para o mal, é em situações semelhantes a esta que se dá palco a debates merecedores da nossa atenção.

Independentemente da resolução deste problema, a verdade é que a Worldcoin está a querer ditar o início de um próximo capítulo sobre o futuro da identidade digital. Questões de ética e transparência veem-se, assim, inseridas num novo contexto.

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