No contexto do dinâmico universo das criptomoedas, a Worldcoin emerge como um projeto inovador que usa tecnologia biométrica baseada nas características únicas dos padrões da íris dos nossos olhos, para verificar a identidade única de cada utilizador que se regista na plataforma. Não só é uma nova criptomoeda, a WLD, como a Worldcoin tem uma aplicação, a World App, que passa a servir como um “passaporte digital” para conseguirmos verificar a nossa identidade em ocasiões em que tal seja preciso. Este passaporte é conhecido como World ID.
Devido à complexidade e singularidade dos padrões presentes na íris de cada indivíduo, a sua falsificação é extremamente difícil, o que a torna num método de autenticação eficaz e seguro. A Worldcoin assegura que apenas os utilizadores autorizados – isto é, os que registaram a íris deles num stand da Worldcoin – tenham acesso às suas contas e transações, dentro da app. Para registar uma íris, a Worldcoin usa uma orb: um scanner de íris em forma de esfera. Em Portugal já existem 17 stands da Worldcoin, em vários centros comerciais, com as tais orbs.
A análise da íris é tida como uma das formas mais precisas de autenticação biométrica atualmente disponíveis.
Desenvolvido pela Tools for Humanity, com sedes em São Francisco e Berlim, o projeto foi fundado em 2019 por nomes proeminentes como Sam Altman, CEO da OpenAI, Max Novendstern, e Alex Blania. A empresa conta com o apoio financeiro do renomado investidor de capital de risco Andreessen Horowitz. A versão beta do projeto foi lançada em julho de 2023.
A Worldcoin foi pensada para se tornar na maior rede digital de identidade e de finanças a nível global.
Ao tornar-se um utilizador da app Worldcoin, cada indivíduo passa a deter, dentro da plataforma, ativos digitais, como tokens ou criptomoedas. A Worldcoin concede-os, assim como os direitos e controlo dos mesmos. Essa ‘propriedade digital’ pode ser utilizada para uma multiplicidade de fins, incluindo transações financeiras, participação em redes descentralizadas, e acesso a serviços específicos dentro do ecossistema da Worldcoin.
O objetivo da empresa é o de garantir acesso universal à economia mundial, independentemente da localização geográfica ou do contexto socioeconómico de cada um de nós. Desta forma, segundo a Worldcoin, cada ser humano passa a conseguir tirar partido desta era de inteligência artificial.
A Worldcoin foi lançada oficialmente em versão beta a 24 de julho de 2023, com 11 locais de orb nos Estados Unidos. A empresa planeia expandir para 35 cidades em 20 países.
E… implicações éticas?
Claro que um projeto como este, independentemente do quão inovador e futurístico possa ser, nos obriga a pensar nos possíveis problemas éticos inerentes à “troca” dos nossos dados biométricos por criptomoedas.
De facto, ao oferecer aos seus utilizadores um “passaporte digital” (o World ID) e criptomoedas (as Worldcoins) em “troca” de dados biométricos – se assim decidirmos entender o processo, e não como um passo tecnológico no que à nossa identidade digital diz respeito (podendo ambas a posições, claro, co-existir) – não é difícil de perceber a origem de algumas das críticas a que a empresa tem sido sujeita.
Por exemplo, a empresa foi acusada de, essencialmente, “subornar” as pessoas para que estas lhes possam disponibilizar acesso os seus dados biométricos. Os mesmos críticos disseram, ainda, que a privacidade – que um direito fundamental – arrisca tornar-se num luxo que apenas os mais ricos podem “comprar”. De facto, várias pessoas afirmaram, abertamente, que apenas se tornaram utilizadores da Worldcoin por estarem desesperadas em ter mais algum dinheiro. Isto é, as criptomoedas que nos são oferecidas pela empresa uma vez que a nossa íris é registada. Quando assim for, segundo os críticos da Worldcoin, quem está na probeza sujeita-se, portanto, a arriscar a sua segurança futura por necessidade(s) imediata(s) – muitas vezes para sobrevivência própria.
Críticos há que acrescentam, ainda, que a empresa norte-americana deve ser mais transparente em relação à gestão dos dados dos seus utilizadores. Dizem ser esperado pela Worldcoin que os utilizadores “simplesmente” confiem que a empresa elimine ou armazene adequadamente os dados biométricos a que passaram a ter acesso. É, contudo, de realçar que a Worldcoin não está a tentar verificar a identidade dos seus utilizadores num sentido convencional. Está, “apenas”, a atribuir um passaporte digital (World ID) aos que provem não serem bots. Ou seja, a orb e o nosso deslocamento físico a um stand da Worldcoin, é pouco mais do que a maneira mais prática de provarmos que somos humanos.
O scan que é feito à nossa íris, segundo a própria empresa, é eliminado da base de dados da Worldcoin uma vez que convertido para um código único usado no passaporte. O nosso World ID é, depois, guardado numa blockchain decentralisada, para evitar duplicados. Para garantir que o scan é elimando, note que é importante selecionar a opção “without data storage”, quando é feito um scan à sua íris.
Estas questões éticas constituem apenas algumas das críticas de que é alvo a Tools for Humanity, que desenvolveu a Worldcoin. Apesar destas, o projeto não deixou de contar com números impressionantes de utilizadores: ultrapassou, recentemente, os 3.5 milhões.