Apesar das muitas queixas e notícias negativas que se ouvem diariamente sobre o Sistema Nacional de Saúde (SNS), este continua a ser um bom plano de apoio à saúde dos portugueses. Há quem afirme até que poderá estar entre os melhores do mundo. Verdade ou não, a sociedade começa a procurar alternativas para as dificuldades de acesso à saúde no sistema público, que muitas vezes não consegue dar resposta atempada a todas as solicitações.
Boa parte dos portugueses – aqueles que podem pagar – privilegiam a saúde privada e abrem caminho para que mais investidores se instalem com sucesso no território nacional. Grupos como o CUF Saúde, do grupo José de Mello, o Luz Saúde, dos chineses da Fosun, dona da Fidelidade, o Lusíadas Saúde, do grupo francês Vivalto Santé, o Trofa Saúde, da família Vila Nova, e o HPA Saúde, do português João Bacalhau, começam a conquistar terreno nos negócios nacionais e a crescerem a bom ritmo.
Certo é que o mercado da saúde privada em Portugal está a aumentar a bom ritmo, com mais procura de cuidados, mais vidas cobertas por seguros de saúde e menos resposta da oferta pública, com graves problemas estruturais, como encerramentos de emergência, capacidade de resposta limitada em diversas especialidades, e tempos de espera significativos.
Portugueses gastaram 26,5 mil milhões de euros em saúde
Segundo o estudo Portuguese Healthcare and Senior Living, realizado pela consultora CBRE Portugal, que incide essencialmente sobre o panorama atual das residências sénior e dos cuidados de saúde no panorama português, o mercado nacional está dinâmico e oferece oportunidades de investimento. Os dados recolhidos mostram que os portugueses gastaram cerca de 26,5 mil milhões de euros em 2023 em cuidados de saúde, o que representa qualquer coisa como 10% do PIB nacional. Este montante implicou um acréscimo de 50% face aos dados relativos a 2016. Já o valor alocado a cuidados de ambulatório, ou seja, sem internamento, ascendeu a 46% do valor total gasto pelas famílias, representando 1.074 euros per capita.
Fazendo o retrato da saúde privada, o estudo da CBRE mostra que existem em Portugal 243 hospitais que representam uma oferta conjunta de 36 mil camas, sendo que desta oferta 54% diz respeito ao setor privado. Ou seja, existem 131 hospitais privados que disponibilizam 11.700 camas aos pacientes nacionais. E se o número de hospitais privados se manteve estável entre 2014 e 2017, depois desta data cresceu cerca de 8%, tendo sido abertas 18 novas unidades hospitalares, e apenas uma delas no setor público.
Grupos como o CUF Saúde, do grupo José de Mello, o Luz Saúde, dos chineses da Fosun, dona da Fidelidade, o Lusíadas Saúde, do grupo francês Vivalto Santé, o Trofa Saúde, da família Vila Nova, e o HPA Saúde, do português João Bacalhau, dominam 35% da oferta privada.
Os cinco grupos descritos acima dominam 35% da oferta nacional de camas. E a CBRE revela o motivo pelo qual é tão atrativo investir na saúde nacional: enquanto na Europa o rácio é de 5,3 camas por cada mil habitantes, em Portugal esta relação está apenas nas 3,5 camas por mil habitantes. Logo, há espaço para crescer.
De facto, estima-se que em 2050 mais de um terço da população portuguesa seja idosa, colocando Portugal no terceiro lugar das populações mais envelhecidas da Europa. Face a esta expectativas demográficas, o investimento em cuidados continuados é uma aposta necessária.
O estudo da CBRE revela que existem no mercado nacional 377 unidades especializadas neste serviço, que disponibilizam uma oferta de 9.771 camas. Porém, apenas 2% desta oferta provém do setor público, sendo que os restantes 98% são divididos pelas entidades sem fins lucrativos, como IPSS ou a Santa Casa da Misericórdia e pelos privados.
Cerca de 25% do lares são privados
Também 25% das residências seniores, os chamados lares, que atingem um total de 2.632 espaços, são operadas por empresas privadas e registam uma taxa de ocupação de 91,8%. Os cinco principais operadores de residências sénior em Portugal totalizam mais de 3.800 camas sendo eles: as Residências Montepio, o Grupo EMEIS, a DomusVi, a PSHC e Naturidade.
“A falta de camas no serviço nacional de saúde é bastante severa, particularmente nos distritos de Lisboa e Porto. Em 2023 existiam mais de 1.800 pessoas a aguardar por uma cama em cuidados continuados e é previsível que este número venha a aumentar, o que obrigará também a um incremento significativo na oferta”, refere, a propósito José Moutinho, responsável pela área de research na CBRE Portugal, em comunicado.
Igor Borrego, Head of Capital Markets da CBRE acrescenta: “Em Portugal, nos anos de 2020 e 2021, transacionaram-se três importantes portefólios e apesar de desde então não se terem registado transações nestes setores, existem algumas operações em pipeline que ultrapassam os 50 milhões de euros. Acredito que o investimento venha a crescer significativamente no futuro e este setor assista à entrada de novos investidores e operadores internacionais atraídos pela oportunidade que Portugal representa como país”.
A CBRE avança com nove fatores fundamentais que impulsionam o investimento neste segmento de atividade:
1. Aumento significativo do número de idosos e pessoas dependentes
2. Elevado desequilíbrio entre oferta e procura
3. Falta de oferta de cuidados especializados
4. Elevada faixa populacional com cobertura de seguro de saúde, que atinge um terço da população
5. Sector polarizado com enorme potencial de expansão e consolidação dos operadores;
6. Diversas oportunidades de investimento uma vez que o sector é ainda marcado por proprietários também responsáveis pela operação
7. Existência de pensionistas com poder de compra gerados pela propriedade de imóveis ou poupanças
8. Atratividade de Portugal junto de reformados estrangeiros
9. Residências sénior ou clínicas de cuidados especializados representam um investimento estável no longo termo