A Vonzu Tech é uma startup catalã que surgiu com o objetivo de descomplicar o setor do retalho, lançando-se em Portugal com uma plataforma eletrónica para automatizar e controlar numa perspetiva 360º todo o processo de distribuição e logística das empresas, desde a encomenda à entrega ao cliente.
À Forbes, Mario Martínez-Jurado, CEO e fundador da Vonzu, destaca que, desde que foi fundada há quatro anos, a média de crescimento anual desta empresa tem sido de 300%, conseguindo, através da digitalização dos procedimentos, a redução dos quilómetros percorridos pelas frotas dos seus clientes.
Este ano, a empresa planeia abrir escritórios em Lisboa, com fim a começar a construir uma equipa local.
A Vonzu surgiu em 2018 para trabalhar a área do retalho, disponibilizando um software de logística e entrega para agilizar toda a cadeia de distribuição. Como tem sido a evolução do negócio, anualmente, desde que surgiram?
Mario Martínez-Jurado (MMJ): Desde que começámos, há quatro anos, a Vonzu tem registado uma evolução significativa. A proposta de valor e inovação da nossa solução, aliada à entrega da nossa equipa, tem resultado num crescimento anual médio de 300% ao ano. Em termos técnicos, esta evolução tem-se também notado bastante ao nível da nossa plataforma e das funcionalidades que oferecemos. Focamo-nos em adaptar o nosso software às necessidades de logística e distribuição dos nossos clientes e do mercado, pelo que isso impulsiona o nosso constante desenvolvimento. No setor retalhista, por exemplo, uma das maiores necessidades para as empresas é a visão e controlo de todas as operações de entrega, para as quais normalmente são obrigadas a usar softwares distintos entre os vários operadores. Assim, o acompanhamento pós-venda e de entrega torna-se também um desafio. Para estas, implementamos a solução “torre de controlo”, que permite uma visão 360º e controlo total do seu negócio numa plataforma construída para ser extremamente intuitiva. Do lado das empresas de transporte, a maior necessidade foca-se na centralização da sua rede de parceiros e clientes, com o objetivo de otimizar a sua operação a nível de eficiência e rentabilidade. Aqui, o nosso software é chave: permite digitalizar e automatizar processos e operações de distribuição, facilitando assim o acompanhamento em tempo real de todos os envios, recorrendo para isto também à aplicação móvel da Vonzu, usada pelos motoristas. Assim, hoje em dia, o nosso software está pronto a ser usado por qualquer setor de negócio que possua operação de entrega própria ou subcontratada.
De forma resumida, quais diria que são os pontos mais fortes da vossa proposta de serviço, sobretudo face à concorrência?
MMJ: Acredito que um dos pontos mais fortes na nossa proposta é a celeridade com que conseguimos integrar o nosso software com o que já é usado pela empresa. O facto de funcionarmos com uma solução “à medida” trabalha também a nosso favor: esta adaptação às necessidades do cliente é sempre feita com uma abertura e flexibilidade a pensar no mercado e na sua volatilidade. A nossa plataforma prima em primeiro lugar pela intuição e simplicidade, algo que estava em séria falta no setor de retalho e distribuição e, a acrescentar a isto, o facto de ligarmos operadores, retalhistas e distribuidores tem já vindo a originar novos negócios.
“O facto de ligarmos operadores, retalhistas e distribuidores tem já vindo a originar novos negócios”.
De que forma conseguem com que as empresas que recorrem aos vossos serviços reduzam o número de quilómetros percorridos e o número de veículos nas estradas? Ou seja, como é que, na prática, conseguem proporcionar estes ganhos em eficiência?
MMJ: Dentro da nossa aplicação, ocorre aquilo que denominamos comumente como automatização de processos. A tecnologia da Vonzu encarrega-se de procurar uma otimização dentro do ecossistema entre as várias partes envolvidas para reduzir encargos, custos e outros fatores que possam ser trabalhados. Temos como exemplo o caso da Acciona, um cliente que ajudamos – através de um algoritmo desenvolvido internamente – a otimizar as suas rotas tendo em conta fatores como a capacidade dos seus veículos e os horários dos motoristas. Até agora, conseguimos reduzir em 15% o número total de quilómetros percorridos, traduzindo-se num aumento de 18% na sua produtividade (número de entregas/recolhas por hora) e contribuindo assim para um melhor aproveitamento dos seus recursos.
“Conseguimos reduzir [na Acciona, um dos seus clientes] em 15% o número total de quilómetros percorridos, traduzindo-se num aumento de 18% na sua produtividade”
Do ponto de vista do software, irão introduzir algumas novidades este ano?
MMJ: Com as alterações constantes no setor da logística e distribuição, é importante estarmos sempre atualizados para que os nossos clientes possam trabalhar com a tecnologia mais recente aplicada à logtech. Com vista a isso, vamos introduzir melhorias significativas no nosso módulo de Business Intelligence, com mais métricas e informação de distribuição, com um foco especial nas comparações de performance em intervalos de tempo. A acrescentar a isso, o nosso módulo de otimização de rotas também será alvo de atualizações que permitirão uma maior flexibilidade na gestão e modificação de rotas, mesmo em tempo real. Por fim, iremos introduzir um centro de controlo mais personalizável, atualizaremos a nossa secção de reports e implementaremos novas funcionalidades na aplicação para os motoristas.
As empresas que têm optado pela solução da Vonzu são de que dimensão?
MMJ: A nossa solução tem presença a nível ibérico e lidamos com clientes de várias dimensões. Em Portugal, já trabalhamos com empresas que encaixam um pouco em todo o espectro de tamanho de negócio: temos grandes retalhistas como a Leroy Merlin e as Tintas CIN, e operamos também com PMEs de transporte e distribuição como a W Transportes e Elsa Pimenta. Em Espanha, os nossos clientes incluem a BoConcept e a Method Logistics. A acrescentar a isto, contamos também com clientes individuais na área do e-commerce. Isto reflete a versatilidade e potencial de adaptação do nosso software à escala do negócio.
Estão em quantos mercados atualmente?
MMJ: Neste momento, como referimos anteriormente, estamos presentes em Espanha e Portugal, que é onde pretendemos para já reforçar a nossa aposta para crescer.
Desses países, quais são os mais relevantes para o vosso negócio?
MMJ: Sendo Espanha o nosso país de origem, a maior fatia do nosso negócio está aí, mas Portugal já perfaz 15% da nossa faturação total.
“Portugal já perfaz 15% da nossa faturação total. A nossa expectativa é que Portugal supere os 20% na nossa faturação total este ano”
Estão em Portugal desde que ano? Qual a relevância de Portugal no vosso volume de negócios?
MMJ: Os nossos primeiros passos em Portugal foram dados em 2019, com uma pequena empresa de estafetas – que acabou por validar a nossa solução no mercado nacional. No fim de 2020, reforçámos a nossa posição no país com o início da parceria com a Leroy Merlin, o nosso primeiro grande retalhista. Acabaria por ser graças ao desafio que nos lançaram que criaríamos a nossa solução de “torre de controlo” que é, hoje em dia, uma das nossas grandes mais-valias enquanto solução de ponta-a-ponta no setor.
Quais são os clientes em Portugal que recorrem à vossa solução de software?
MMJ: Em Portugal temos já 10 clientes, perfazendo um quarto do nosso portfólio total. Temos vindo a crescer exponencialmente neste mercado e a nossa ambição principal é cimentar essa posição. A acrescentar aos que já mencionámos anteriormente, contamos ainda com as transportadoras Albumov, Reda, Edigespor, Transportes PML, Logisimple e ETE Logística.
Que planos em concreto têm para o nosso país?
MMJ: A nossa expectativa é que Portugal supere os 20% na nossa faturação total este ano. Essa é apenas uma das razões que nos leva a querer ter um espaço de trabalho, ainda este ano, em Lisboa, e que será o primeiro fora da nossa sede em Barcelona – estamos neste momento à procura de uma localização na capital. O nosso investimento é sempre focado primariamente nas pessoas, porque é delas que se fazem os negócios e só assim se faz crescer sustentavelmente uma operação. Os nossos resultados e excelente feedback que temos recebido do mercado português levaram-nos a definir o objetivo de estabelecer uma equipa local que, para já, apontamos para que seja composta por cinco pessoas, em áreas como desenvolvimento de software, vendas e apoio ao cliente. Esperamos, obviamente, que este seja apenas o primeiro passo para um grande crescimento em Portugal. Acreditamos profundamente no potencial de crescimento do setor no país e, como tal, esperamos também colaborar com várias empresas a nível nacional para nos afirmarmos enquanto a melhor solução para as áreas da logística e distribuição.
Qual o objetivo com a abertura de uma delegação em Portugal? Considerando que a Vonzu já conta com uma faturação total de €600M, querem crescer até que valor agora?
MMJ: As nossas estimativas apontam para um crescimento que atinja uma faturação total de um milhão de euros até ao fim do ano de 2022. Como referido anteriormente, deste total, para já a nossa expectativa é que Portugal represente 20%.
Qual o motivo que vos levou a escolher Portugal?
MMJ: Portugal é já uma parte importante da Vonzu. Crescemos com e para os nossos clientes, pelo que, a partir do momento em que vemos a nossa solução ser tão bem acolhida, decidimos reforçar a nossa aposta cá. A acrescentar, a logística e distribuição são setores onde, regra geral, ainda se nota uma profunda falta de digitalização e, sobretudo, de soluções que estejam ao nível das necessidades de qualquer um, como é o caso da nossa. A Vonzu nasceu dessa oportunidade que detetámos e, de todo o mal que a pandemia trouxe, veio de facto ajudar a que o mercado reconhecesse este gap e como nós podemos contribuir para “empurrar” o setor em direção ao seu futuro. Portugal, esperamos nós, será uma parte importante desse empurrão que queremos dar.
A vinda para Portugal representa um investimento de quanto?
MMJ: Para já, a nossa operação em Portugal é gerida maioritariamente via Barcelona, onde temos a nossa sede, pelo que o nosso esforço neste mercado é sobretudo comercial. No entanto, esta vinda para Lisboa, envolverá a longo prazo, conforme o que mencionei anteriormente, um investimento em pessoas, especialmente na sua formação e integração na nossa empresa e no seu desenvolvimento enquanto profissional.
Como pensam fazer crescer o negócio também em Portugal?
MMJ: A nossa estratégia para crescer em Portugal passa pela abordagem personalizada às empresas de logística, distribuição e retalho; só assim conseguimos entender os seus maiores desafios, obstáculos e quais são as possibilidades de colaboração com a Vonzu. Esta vertente é a razão pela qual queremos adicionar membros em Portugal à nossa equipa de vendas. Para além disto, procuraremos estabelecer parcerias com empresas que nos sejam complementares, nomeadamente a nível de software ou consultoria. Para isto, consideramos fundamental estar presentes em eventos e plataformas para networking. Finalmente, investiremos também na comunicação e marketing da nossa solução para ganhar visibilidade e tentar alcançar potenciais clientes.
Têm planos para ir ao mercado captar mais investimento a breve trecho?
MMJ: A nossa última ronda de investimento em setembro do ano passado, no valor de €1,5M, representou um grande incentivo para a nossa operação. De momento, estamos a avaliar o mercado e a estudar a próxima melhor oportunidade.