Pharrell Williams é um nome que se destaca na música, na moda e no universo empresarial. Durante uma palestra inspiradora no palco central da Web Summit Lisboa 2024, Pharrell partilhou durante alguns minutos o seu percurso, desde a infância em Virginia Beach até se tornar uma força criativa global. Com uma infância humilde e uma mente repleta de sonhos, Pharrell mostrou como a imaginação, a disciplina e a convicção nos seus ideais levaram-no a um sucesso que faz questão de partilhar com outros.
As origens e fontes de inspiração
Numa conversa com Join Frank Cooper III, CMO (Chief Marketing Officer) da Visa, Pharrell, que leva mais de 10 mil milhões de streams de música globais combinados até à data, começou por recordar os seus tempos de criança em Virginia Beach, uma cidade que não oferecia grandes oportunidades para quem desejava seguir uma carreira na indústria musical. “Não havia indústria musical onde nasci”, afirmou. “Mas eu tinha uma imaginação fervorosa.” Numa família onde os recursos eram limitados, ele não podia ter o que os seus colegas tinham, como os ténis Vans ou os famosos Air Jordan. Ainda assim, a sua mente criativa ia além: “Eu imaginava esses ténis em cores vibrantes, como amarelo e vermelho. Trinta anos depois, consegui criar esse tipo de versões” através de uma parceria com a Adidas.
O início da carreira na música
O interesse de Pharrell Williams pela música começou cedo, quando conheceu Chad Hugo, com quem formaria a dupla The Neptunes. Pharrell relembrou os tempos em que faziam música num teclado Casio. “Não havia educação musical formal onde eu estava, mas fizemos música de qualquer forma,” através de experimentação.
Lições do skateboarding
A sua paixão por skateboarding foi também importante para a sua formação pessoal, segundo afirmou. “O skateboarding ensinou-me disciplina em várias áreas da vida,” explicou Pharrell, mencionando que a cultura do skate também moldou o seu estilo e ética de trabalho. Outra paixão era o universo de “Star Trek” (“O Caminho das Estrelas”), sendo apelidado de “Dr. Spock” devido à forma das suas orelhas quando criança. Esta alcunha refletia o seu fascínio por explorar novos mundos e ideias: “Adorava quando viu o programa de televisão e fascinava-me quando a tripulação descobria novos mundos e conhecia novas espécies”.
A filosofia do sonho americano
Para Pharrell, o verdadeiro “sonho americano” vai além de acumular riqueza. “Crescemos com a ideia de que temos de fazer o máximo de dinheiro possível, mas isso não deveria ser o foco,” afirmou. Perante a plateia que lotava o Meo Arena, Pharrell incentivou o público a perseguir aquilo que realmente os apaixona.
“No meu país crescemos a pensar em como fazer o maior dinheiro possível. Esse é um falso sentido do que o sonho americano devia ser. O verdadeiro sonho americano não devia ser sobre fazer dinheiro. Devia ser em gastar tempo naquilo de que mais gostamos”, apontou.
“Não temos todos de ser futebolistas, mas podemos fazer trabalhos ligados ao futebol se é isso que nos apaixona, como desenhar equipamentos, conduzir os autocarros das equipas, vender pipocas nos estádios, ser cameraman… há imensas coisas. Se cada pessoa encontrar algo que gosta, será a última a sair do trabalho – e vai amar isso”. Pharrell destacou que, como sociedade, deveríamos orientar as crianças a procurar os seus “dream jobs”, em vez de simplesmente procurar uma carreira lucrativa. A sua visão é clara: “O verdadeiro sucesso é quando encontramos uma forma de servir a humanidade com aquilo que amamos. Para mim era isso que deveríamos dizer às nossas crianças”.
Louis Vuitton “não é um trabalho”
Enquanto diretor criativo da linha masculina da Louis Vuitton, Pharrell destacou que não está simplesmente a desempenhar um trabalho. “Para mim, não é um trabalho. Sou subsidiado para ser criativo”, disse. “A Louis Vuitton dá-me a liberdade para inovar.” Pharrell acredita que a criatividade deve ser sempre guiada por convicções fortes, pois é essa paixão que nos dá experiências únicas e significativas: “Tive sempre a ilusão de que temos de nos manter focados no que queremos. Temos de ter isso. Se não tivermos, não temos convicções. E é preciso convicções”
A cultura afro-americana e a influência no mercado
Pharrell falou também sobre a importância da cultura afro-americana e o seu impacto a nível global. “A cultura é composta por milhões de pessoas, da mesma forma que o oceano é feito de milhões de gotas de água. Cada gota conta, cada pessoa conta,” afirmou o cantor vencedor de 13 prémios Grammy. Filantropo, o artista acentuou a necessidade de as pessoas retribuírem aquilo que a sociedade também lhes deu, algo que também o motiva.
Lembrando as suas origens, Pharrell falou da comunidade afro-americana, historicamente enfrentou desafios significativos. “Nós, afro-americanos, fomos moeda de troca, enfrentámos educação e saúde desproporcionais. Isso marcou-nos durante gerações.”
Nesse espírito e com a preocupação de combater este género de desigualdades, Pharrell fundou o projeto Black Ambition, uma iniciativa que apoia empreendedores afro-americanos e latinos. “Se construíres a tua própria mesa, podes convidar quem quiseres para se sentar nela,” disse Pharrell, incentivando a criação de mais oportunidades e equidade. Referindo-se às recentes eleições nos EUA, o cantor diz que a sua visão é servir os outros e apoiar aqueles que mais precisam, “independentemente das mudanças políticas, de quem se é apoiante ou de quem esteja no poder”.
A chama criativa e o legado
Pharrell, sempre de boné amarelo na cabeça, terminou a sua palestra, pontuada com vários aplausos da assistência, com uma mensagem poderosa: “Tu és a cultura, és a inspiração; a chama está em ti”, exortou quem o ouvia: “Cada um de nós é uma fonte de inspiração. A chama está dentro de nós. Não podemos desperdiçar o nosso potencial. Tens de iluminar, senão és um desperdício de espaço”, insistiu.
Segundo Pharrell, a verdadeira essência da cultura é a capacidade de se reinventar e cada um retribuir. O compositor acredita que, ao ajudarmos os outros, perpetuamos um ciclo de inspiração e transformação. E com isso se chega ao que ele próprio canta: “Because I’m happy”.