Com a guerra na Ucrânia, imposta pela invasão russa a marcar o mundo neste ano, o Comité Nobel da Noruega não fugiu ao tema e decidiu conceder o Prémio Nobel da Paz 2022 a um indivíduo e duas organizações. O indivíduo foi o defensor dos direitos humanos Ales Bialiatski, da Bielorrússia. As organizações distinguidas foram a organização russa de direitos humanos “Memorial” e a organização ucraniana de direitos humanos “Center for Civil Liberties” (“Centro de Liberdades Civis”). Um detalhe: o prémio Nobel da Paz é anunciado no dia do 70º aniversário do presidente russo, Vladimir Putin.

Os laureados do Nobel da Paz “representam a sociedade civil nos seus países de origem. Durante muitos anos, promoveram o direito de criticar o poder e proteger os direitos fundamentais dos cidadãos. Fizeram um esforço notável para documentar crimes de guerra, abusos dos direitos humanos e abuso de poder. Juntos, demonstram a importância da sociedade civil para a paz e a democracia”, justificou o Comité do Nobel.
Os três premiados com o Nobel da Paz 2022
► Ales Bialiatski
Nascimento: 25 de setembro de 1962, Vyartsilya, Carélia, Rússia
Ales Bialiatski foi um dos impulsionadores do movimento democrático que surgiu na Bielorrússia na década de 80 e “dedicou a sua vida à promoção da democracia e do desenvolvimento pacífico no seu país natal”.
Fundou a organização Vjasna (Primavera) em 1996, em resposta às emendas constitucionais que deram ao presidente poderes ditatoriais e desencadearam manifestações generalizadas. Viasna prestou apoio aos manifestantes detidos e às suas famílias. Nos anos que se seguiram, Viasna evoluiu para uma organização de direitos humanos que documentou o uso de tortura por parte das autoridades contra os presos políticos.
As autoridades governamentais têm procurado silenciar Ales Bialiatski. Esteve preso de 2011 a 2014. Na sequência de grandes manifestações contra o regime em 2020, foi novamente preso, estando ainda detido sem julgamento. Apesar das enormes dificuldades pessoais, Bialiatski não cedeu um centímetro na sua luta pelos direitos humanos e pela democracia na Bielorrússia”, enaltece o comité em comunicado.
Bialiatski é a quarta pessoa a receber o Prémio Nobel da Paz na prisão ou detenção, depois de Carl von Ossietzky (Alemanha em 1935), Daw Aung San Suu Kyi (Mianmar em 1991) e Liu Xiaobo (da China em 2010).
► Memorial
Fundação: 1987, Moscovo, Rússia
A organização de direitos humanos “Memorial” foi criada por ativistas de direitos humanos, entre os quais o Prémio Nobel da Paz Andrei Sakharov, na antiga União Soviética com o intuito de assegurar que as vítimas da opressão do regime comunista não fossem esquecidas. “A Memorial baseia-se na noção de que o confronto com crimes do passado é essencial na prevenção de novos crimes”, diz o comité do Nobel.
Com o fim da URSS, além de trabalhar na elaboração de um centro de documentação das vítimas da era estalinista, a “Memorial” compilou informações sobre a opressão política e as violações dos direitos humanos na Rússia.
Durante a guerra na Chechénia, a organização recolheu informações sobre crimes de guerra perpetrados contra a população civil pelas forças russas e pró-russas. Em 2009, a chefe da filial da “Memorial” na Chechénia, Natalia Estemirova, foi morta devido a este trabalho.
Em dezembro de 2021, as autoridades russas decidiram que a “Memorial” seria encerrada, mas “as pessoas por detrás da organização recusam-se a ser encerradas”, salienta o comité.
► Center for Civil Liberties
Fundação: 2007, Kiev, Ucrânia
A cerimónia de entrega do Nobel da Paz acontecerá em Oslo, na Noruega, a 10 de dezembro, no dia da morte de Alfred Nobel.
Três campeões dos direitos humanos
“Ao conceder o Prémio Nobel da Paz de 2022 a Ales Bialiatski, a Memorial e ao Centro de Liberdades Civis, o Comité Nobel da Noruega deseja homenagear três destacados campeões de direitos humanos, democracia e coexistência pacífica nos países vizinhos Bielorrússia, Rússia e Ucrânia. Pelos seus esforços consistentes em defesa dos valores humanistas, antimilitarismo e princípios do direito, os laureados deste ano revitalizaram e honraram a visão de paz e fraternidade entre as nações de Alfred Nobel – uma visão necessária no mundo de hoje.”
Três vencedores entre 343 candidatos
Os candidatos ao Nobel da Paz este ano foram 343 (251 dos quais personalidades individuais e 92 organizações).
No ano passado, foram 329 os candidatos ao prémio, o segundo número mais elevado de sempre. O recorde de candidatos foi de 376 nomeados e foi registado em 2016.
Em 2021, o galardão foi atribuído aos jornalistas Maria Ressa, das Filipinas, e Dmitry Muratov, da Rússia, pela defesa da liberdade de imprensa e de expressão.