Natália Martins, 35 anos, brasileira, descendente de portugueses, construiu do zero, em pouco mais de cinco anos, uma marca forte na área da beleza, que teve como embrião o tratamento estético de sobrancelhas. Hoje, lidera um grupo económico em acentuado crescimento, o Natalia Beauty Group, que já conta com cinco clínicas próprias no Brasil, e faturou, em 2022, um total de 30 milhões de reais (cerca de 7 milhões de euros). O grupo tem atualmente cerca de 120 colaboradores (200 se contarmos com os indiretos). Vai abrir, nos próximos meses, as primeiras unidades fora do Brasil: uma em Portugal (Lisboa) e outra nos Estados Unidos (Miami).
Na capital portuguesa está quase tudo a postos para a inauguração da primeira clínica da marca – que deverá acontecer em 2024, mas, enquanto isso não acontece, Natália iniciou já os primeiros cursos de formação em Portugal, uma das áreas de negócios que mais cresce no grupo. Conhecida por fazer tratamentos a atrizes e influencers famosas, cobra cerca de 8 mil reais (cerca de 1.500 euros) por aplicar a sua técnica na nanopigmentação de sobrancelhas.
As suas colaboradoras, a que chama de artistas – são já 32 a trabalhar nesta área – cobram um pouco menos, cerca de 1.700 reais (322 euros), e têm lista de espera para fazer o procedimento. Natália utilizou, de forma estratégica, o Instagram para partilhar a sua história de vida, as suas batalhas e os seus sucessos, e tem hoje mais de 10 milhões de seguidores nesta rede social. Em 2022, a marca Natália Beauty foi a segunda mais admirada na venda a retalho no Brasil, segundo o ranking IBERVA-FIA, ficando atrás do Boticário e à frente da Natura.
Casada em segundas núpcias – o marido, Felipe Pacheco, é diretor executivo do grupo – tem duas filhas, uma de nove anos e outra de quase dois, e é também a pensar nelas, e no exemplo que lhes deixa, que se empenha nas causas sociais. “Não faço nada que não tenha uma causa, um storytelling. Para me envolver num projeto tem de ter verdade e tenho de acreditar nele”, diz.
Conheça a seguir a mulher de negócios que, mesmo no pior momento da sua vida, não baixou os braços, ganhou forças e deu a volta por cima.
A história de vida de Natália Martins
Natália recebeu a Forbes Portugal no Hotel Ritz Four Seasons, em Lisboa, cidade que marca o arranque da sua internacionalização para a Europa. Descontraída, sem rodeios, começa a contar a sua história de vida enquanto pede um lanche, pois a fome já apertava.
“Tornei-me Natália Beauty por acaso”, revela Natália Martins, mostrando que não estava nos seus planos dedicar-se à área da estética. A empresária nasceu em Osaco, uma cidade no estado de S. Paulo, sendo filha de pai português, que, com origem em Trás-os-Montes, partiu de navio em busca de uma melhor vida no continente sul americano. Chegado ao Brasil, o pai de Natália acabou por abrir um restaurante de venda de comida a peso, onde Natália trabalhou até casar. Ali fez um pouco de tudo, foi rececionista, tratava das loiças e, se fosse, preciso, até cozinhava. “Foi aí que aprendi muito sobre a organização das pessoas e de funções, sobretudo sobre o que era preciso para por um negócio a funcionar. Aquilo foi uma escola para mim”, relembra.
Casou aos 25 anos e confessa que hoje entende porque o fez tão nova: queria sair de casa, pois via que na família as mulheres tinham pouca voz, que, quer a mãe quer as tias e as avós, viviam muito dependentes dos homens. Como não se identificava com esta forma de viver, queria independência. Em criança sonhava ser arquiteta, mas nunca seguiu este sonho, nem sequer seguiu os estudos superiores. Sabe apenas que não via como funcionária de alguém, a cumprir horário, mas sempre como independente e empreendedora – já em criança fazia pulseiras de missangas para vender aos vizinhos.
Porém, nem tudo correu de feição ao casar, pois acabou por não ter a tão desejada liberdade, sendo que apenas repetiu os padrões familiares de dependência. Foi então morar numa cidade do interior de S. Paulo, chamada S. José do Rio Preto, e lá começou a trabalhar numa clínica de estética, que pertencia à família do marido. Tratava da receção, vendia pacotes de tratamentos, tratava da tesouraria e da equipa. Era multifacetada. Entretanto, uma das funcionárias que fazia tratamentos de micropigmentação em sobrancelhas saiu e deixou muitas clientes sem a necessária manutenção. Natália arregaçou as mangas e decidiu estar do lado da solução: fazer o curso desta arte e atender aquelas clientes. Começou aí a sua entrega a esta profissão. “Começaram a chegar clientes de outras cidades e a minha agenda ficou lotada. A técnica era ainda a de micropigmentação antiga. Atualmente a minha técnica é diferente, é a de nanopigmentação”, diz.
(Leia artigo completo na edição de outubro/novembro da Forbes Portugal)