As projeções de outubro do Banco de Portugal (BdP) para a economia portuguesa apontam para uma taxa de inflação de 7,8% este ano. O valor representa uma subida face aos 5,9% da previsão de junho da instituição liderada por Mário Centeno e estão acima da estimativa do Governo, que é de 7,4%.
“Em 2022, a inflação aumenta para 7,8%, refletindo as crescentes pressões externas sobre os preços. A forte procura dos bens e serviços, cujo consumo foi condicionado durante a pandemia, também contribui para a trajetória ascendente da inflação, esperando-se uma inflexão no final do ano”, refere o BdP.
O regulador estima que a taxa de inflação atinja 9,5% no terceiro trimestre deste ano e 9,3% no último trimestre de 2022.
“O enquadramento externo e financeiro tem vindo a deteriorar-se devido aos choques gerados pela invasão da Ucrânia, que resultaram no aumento da inflação e das taxas de juro. Os efeitos adversos destes choques têm sido atenuados pelo bom desempenho do mercado de trabalho, pela poupança acumulada durante a crise pandémica e pelas medidas de apoio”, complementa a sua explicação.
Economia portuguesa
Em relação a outros indicadores, o BdP estima que a economia portuguesa cresça 6,7% em 2022, “continuando a beneficiar da recuperação do turismo e do consumo privado”.
Acrescenta o banco central: “A evolução da atividade ao longo do ano é marcada pela recuperação do nível pré-pandemia no primeiro trimestre e por um abrandamento posterior, que se traduz numa relativa estabilização do PIB”.
Consumo privado
O consumo privado cresce 5,5% em 2022, “beneficiando da eliminação das restrições associadas à pandemia e da realização de despesas adiadas. O rendimento disponível real estagna, condicionado pelo perfil da inflação, enquanto a taxa de poupança se reduz de 9,8% para 4,9%”, afirma ainda o BdP.
O investimento abranda, crescendo 0,8%, “num ambiente de restrições de oferta, aumento dos custos de produção, agravamento das condições de financiamento, baixa execução dos fundos do PRR e elevada incerteza”.
Exportações
As exportações “de bens e serviços mantêm um dinamismo elevado (17,9%), acima da procura externa, implicando ganhos adicionais de quota de mercado. Esta evolução é impulsionada pelas exportações de serviços, em particular os relacionados com o turismo”.
O excedente da balança corrente e de capital permanece em 0,6% do PIB em 2022.
O emprego cresce 2,3% (1,9% em 2021), enquanto a taxa de desemprego volta a diminuir, situando-se em 5,8%, valor historicamente baixo.
E para 2023?
As perspetivas de curto prazo para a economia portuguesa deterioraram-se, realça o BdP, “refletindo as repercussões da invasão da Ucrânia. O impacto dos choques adversos que ocorreram ao longo do ano será mais notório em 2023, antecipando-se uma desaceleração significativa da atividade económica face a 2022”.
Para 2023, o Bando de Portugal antecipa uma desaceleração significativa da atividade económica face a 2022.
Deste modo, atendendo ao “enquadramento externo e financeiro mais desfavorável, é urgente acelerar a prossecução das reformas no âmbito do PRR e promover uma utilização efetiva e eficaz dos respetivos fundos, para sustentar o crescimento económico no curto e médio prazo”, alerta o banco central.
“O choque negativo sobre os termos de troca implica uma perda de rendimento real da economia que deve ser partilhada por todos os agentes, evitando-se aumentos das margens das empresas e de salários que possam gerar pressões persistentes sobre os preços. O efeito diferenciado do aumento da inflação sobre as famílias e empresas pode justificar a adoção de medidas temporárias e específicas, que permitam amortecer o impacto sobre os segmentos mais vulneráveis”, aponta o BdP.