São jovens e empreendedores. E foi o seu espírito aventureiro que os empurrou para o risco dos negócios quando a pandemia nos confinou em casa. Deixaram empregos seguros e lançaram-se no desconhecido para dar luz ao projeto que os unia: a cerveja artesanal Pobeira.
Edgar Gonçalves, 30 anos, e Artur Giesteira, 31, ambos naturais da Póvoa de Varzim, são amigos há mais de uma década, desde os tempos da faculdade. O primeiro cursava Economia na Faculdade de Economia do Porto e o segundo estudava Engenharia Industrial e Gestão na Faculdade de Engenharia do Porto, quando a amizade os uniu em torno de interesses comuns, como as viagens, o desporto e até o empreendedorismo. A primeira viagem que realizaram juntos, em 2015, – estavam então a frequentar um programa Erasmus -, levou-os a conhecer Praga, capital da República Checa, onde descobriram os encantos da cultura cervejeira.
Outras viagens pela Europa se seguiram e a paixão pela produção de cerveja foi-se instalando. Em 2016, por exemplo, estiveram em Amesterdão e visitaram a Heineken Experience, o que representou mais um momento marcante para o percurso futuro dos dois amigos, agora também empreendedores.
“Já estamos em 15 cidades em Portugal e já trabalhamos com um distribuidor regional e a nossa intenção passa por encontrar mais distribuidores nacionais e internacionais, e ainda parceiros internacionais para conseguir continuar a crescer e entrar na grande distribuição”, afirma Edgar Gonçalves.
Em 2018, Edgar, já com um mestrado em marketing, aceita o desafio de ir para a Federação Internacional de Basquetebol e, quatro meses depois, Artur assume uma função na gestão da cadeia de abastecimento da Carlesberg Group. Por mera coincidência, encontram-se os dois a trabalhar na Suíça, embora em regiões diferentes.
“Na Carsberg tive a oportunidade de participar na área de gestão da cadeia de abastecimento, e com esta envolvência, aliada à mentoria dentro da empresa, continuei a desenvolver o bichinho e, em 2019, realizei um curso introdutório de mestre cervejeiro”, relembra Artur Giesteira. O curso foi realizado na escola Institute of Brewing and Destilling, e os ensinamentos foram partilhados com o amigo Edgar.

Foi este o ponto de partida para profissionalizar um projeto que até então era apenas de lazer: o de fazer cerveja artesanal em casa para os amigos. Foi em 2019, antes da pandemia que investiram em equipamento para o fabrico de cerveja em pequena escala e desenvolveram um sistema caseiro, na Póvoa de Varzim. Só conseguiam produzir quando vinham a Portugal nas férias.
Até que surge a pandemia e os dois empreendedores regressam ao país de origem para fazer trabalho remoto, altura em decidem transformar a ameaça em oportunidade. Começaram a testar receitas diferentes, dar a provar a vários restaurantes, e foram assim maturando a ideia de criar um negócio próprio na arte de produzir cerveja artesanal.
O nascimento da marca Pobeira
Em 2021, criaram a marca Pobeira, que representa uma homenagem ao sotaque característico da sua região natal. O projeto nasceu com a visão de que, apesar de ser local, a ambição é chegar o mundo, tornando-se uma marca “glocal”.
“Durante a primeira fase da pandemia, fizemos sete estilos diferentes de cerveja, sempre em lotes de 20 litros. Para testar se poderíamos passar para algo mais sério, avançamos com o nosso primeiro lote industrial, da nossa Lager, e passamos de 20 litros para os 1.500 litros. Fizemos cerca de quatro mil garrafas”, explica Edgar Gonçalves. As primeiras vendas foram feitas na página de Instagram e esgotaram, em apenas três meses, esse primeiro lote. “No momento em que percebemos que o projeto piloto estava a correr bem e estávamos a receber feedback positivo, decidimos fazer uma viagem de mochila às costas e fomos a vários países da Ásia e África, sempre com uma garrafa, vazia, do nosso lote piloto”, recorda Edgar Gonçalves.
Atualmente o portefólio da cerveja Pobeira já é constituído, além da Beach Lager, a Nata Stout, que se inspira no nacional pastel de nata (tem uma nota de lactose) e a Carnation Red Ale, uma edição especial que celebra os 50 anos do 25 de abril.
Estiveram em viagem entre julho e dezembro de 2022, pois nesta fase já tinham deixado os seus empregos na Suíça. De regresso a casa constituíram a empresa, o que aconteceu em fevereiro de 2023, e dedicaram-se a planear o lançamento comercial da sua primeira cerveja, a Pobeira Beach Lager, que remete para a tradição das praias portuguesas. Esta primeira cerveja estava há apenas 7 meses no mercado quando conquistou o terceiro lugar, na categoria Lager, no Concurso Nacional de Cervejas Artesanais 2023, num certame que apresentou mais de 100 marcas concorrentes.
Cerveja Pobeira: Diversificar portefolio e crescimento da marca
Atualmente o seu portefólio já é constituído, além da Beach Lager, a Nata Stout, que se inspira no nacional pastel de nata (que tem uma nota de lactose) e a Carnation Red Ale, uma edição especial que celebra os 50 anos do 25 de abril. Neste último verão lançou ainda um quarto estilo, a Surf Session IPA. “A nossa ideia é que cada estilo de cerveja conte uma história e reflita o que é ser português”, refere Edgar Gonçalves. Para o Natal está já preparada uma edição especial com uma garrafa decorada com branding alusivo à época natalícia.
Em 2024 estiveram presentes em quatro festivais de cerveja, e a marca registou, durante o verão, um crescimento de 90% das suas vendas face a 2023, tendo duplicado os pontos de vendas e triplicado as cidades onde se encontra à venda. “Já estamos em 15 cidades em Portugal e já trabalhamos com um distribuidor regional e a nossa intenção passa por encontrar mais distribuidores nacionais e internacionais, e ainda parceiros internacionais para conseguir continuar a crescer e entrar na grande distribuição”, afirma Edgar Gonçalves.
A angariação de investimento tem também em mente a criação de uma fábrica própria, com taproom, o que permitirá aumentar a produção e ainda proporcionar uma experiência imersiva de consumo de cerveja.
Além disso, a dupla de empreendedores refere à Forbes que a marca procura igualmente investidores ou parceiros que a ajudem a crescer, com a entrada de capital ou apoio na área logística, já que a ambição é grande. “Queremos alavancar um crescimento rápido que nos permita levar a marca a uma área geográfica mais alargada. Percebemos que precisamos ter um crescimento acelerado para o negócio se tornar rentável”, explica Artur Giesteira. Mais do que mero investimento financeiro, a empresa gostaria de ter um parceiro que trouxesse mais valias, como know how, capacidade de distribuição ou capacidade de armazenagem, entre outras.
A internacionalização como objetivo
A internacionalização é dos seus objetivos estratégicos, já que a marca Portugal tem força nos mercados internacionais. Em abril deste ano a cerveja Pobeira iniciou uma pequena exportação para a França, e espera conseguir entrar também na Suíça e no Luxemburgo. “Gostaríamos também de fazer parcerias com cervejeiras já estabelecidas nesses mercados, o que funcionaria como uma porta de entrada, através destas colaborações de produção conjuntas”, diz Edgar Gonçalves.

A angariação de investimento tem também em mente a criação de uma fábrica própria – neste momento têm a produção subcontratada -, com taproom, o que permitirá aumentar a produção e ainda proporcionar uma experiência imersiva de consumo de cerveja, contribuindo para o aumento do turismo industrial na região. “Necessitamos cerca de meio milhão de euros para avançar com este projeto. A nossa ideia é fazer algo futurista, em que os consumidores terão, por exemplo, em cada uma das suas mesas uma torneira de consumo, escolhendo a cerveja e servindo-se a si próprios, e paga o volume que for consumido”, explica Artur Giesteira.
Além das cervejas artesanais, a Cerveja Pobeira oferece ainda outros serviços associados, como a Beer Van, uma Volkswagen Pão de Forma transformada em bar móvel, disponível para eventos, a Pobeira Party Experience, um serviço de aluguer de máquinas de pressão de cerveja para eventos e a criação de rótulos personalizados para festas, casamentos e eventos empresariais.