O Banco Central Europeu (BCE) anunciou esta quinta-feira ter decidido aumentar em 75 pontos base as suas três taxas de juro diretoras. Trata-se, assim, do segundo aumento consecutivo deste ano.
A taxa de juro das principais operações de refinanciamento passa de 0,50% para 1,25%, a taxa aplicável à facilidade permanente de cedência de liquidez passa de 0,75% para 1,50% e a taxa aplicada à facilidade permanente de depósito passa de 0% para 0,75%. Estas subidas têm efeitos a partir de 14 de setembro.
“Este passo importante antecipa a transição do nível extremamente acomodatício prevalente das taxas de juro diretoras para níveis que assegurarão um regresso atempado da inflação ao objetivo de 2% a médio prazo estabelecido pelo BCE”, refere em comunicado o banco central, divulgado após a reunião do Conselho de Governadores.
A subida das taxas de juro produz efeitos a partir de 14 de setembro de 2022.
Este aumento pode, porém, não ficar por aqui, dado que o BCC refere que, com base na sua atual avaliação, espera, nas próximas reuniões, “voltar a aumentar as taxas de juro para atenuar a procura e prevenir o risco de uma persistente deslocação em sentido ascendente das expectativas de inflação”.
“O Conselho do BCE reavaliará regularmente a sua trajetória de política monetária, à luz da informação que for sendo disponibilizada e da evolução das perspetivas de inflação”, deixa como garantia.
O Conselho do BCE tomou a decisão de hoje “– e espera continuar a aumentar as taxas de juro – porque a inflação permanece demasiado elevada, sendo provável que se mantenha acima do objetivo durante um período prolongado”.
De acordo com a estimativa provisória do Eurostat, a inflação atingiu 9,1% em agosto.
A subida muito acentuada dos preços dos produtos energéticos e dos produtos alimentares, as pressões da procura em alguns setores, devido à reabertura da economia, e os estrangulamentos da oferta ainda estão a fazer subir a inflação.
As pressões sobre os preços continuaram a ganhar força e a generalizar-se ao conjunto da economia, podendo a inflação voltar a subir no curto prazo, assume o banco central.
“Com o desvanecimento ao longo do tempo dos atuais fatores impulsionadores da inflação e a repercussão da normalização da política monetária na economia e na fixação de preços, a inflação descerá”, admite o BCE.
Numa análise prospetiva, os especialistas do BCE reviram significativamente em alta as suas projeções para a inflação, esperando se agora que esta seja, em média, de 8,1% em 2022, 5,5% em 2023 e 2,3% em 2024.
Após uma retoma no primeiro semestre de 2022, dados recentes apontam para um abrandamento substancial do crescimento económico da área do Euro, esperando-se uma estagnação da economia na parte final do ano e no primeiro trimestre de 2023.
“Os preços muito elevados dos produtos energéticos estão a reduzir o poder de compra do rendimento das pessoas e, não obstante algum abrandamento, os estrangulamentos da oferta ainda estão a restringir a atividade económica”, argumenta o BCE.
Além disso, prossegue o regulador central, “a situação geopolítica adversa, em especial a agressão injustificada da Rússia contra a Ucrânia, pesa sobre a confiança das empresas e dos consumidores”.
Estas perspetivas encontram se refletidas nas projeções mais recentes dos especialistas do BCE para o crescimento económico, as quais foram revistas em baixa de forma acentuada para o resto do presente ano e para 2023.
Os especialistas esperam agora que a economia registe uma taxa de crescimento de 3,1% em 2022, 0,9% em 2023 e 1,9% em 2024.
“As vulnerabilidades duradouras causadas pela pandemia ainda representam um risco para a transmissão regular da política monetária. Por conseguinte, o Conselho do BCE continuará a aplicar flexibilidade no reinvestimento dos reembolsos previstos no âmbito da carteira do programa de compra de ativos devido a emergência pandémica (pandemic emergency purchase programme ‒ PEPP), a fim de contrariar os riscos para o mecanismo de transmissão relacionados com a pandemia”, remata, lembrando que “o Conselho do BCE está preparado para ajustar todos os seus instrumentos, no âmbito do seu mandato, a fim de assegurar que a inflação estabiliza no objetivo de 2% a médio prazo”.