Os trabalhadores atuais dão cada vez mais prioridade à flexibilidade no trabalho, ao equilíbrio entre a vida pessoal e profissional e ao alinhamento entre os valores das empresas e os seus próprios. Esta é a grande conclusão do estudo Workmonitor – The Voice of Employees 2024, realizado pela empresa especialista no mercado do trabalho Randstad, que inquiriu 27 mil trabalhadores em cerca de 35 geografias na Europa, na Ásia e nas Américas.
Esta edição do estudo incide sobre o modo como o tema da ambição e da progressão na carreira é vista atualmente pelos profissionais, revelando que mais de metade, ou seja 56% dos trabalhadores, se consideram ambiciosos, uma fatia que cresce para 69% no caso da Geração Z. Ainda assim, cerca de 47% dos trabalhadores não está focada na progressão e a mesma proporção está disposta a permanecer numa função de que gosta, mesmo que não haja espaço para progredir ou desenvolver-se. Para além disto, cerca de um terço, ou seja, 34%, dos trabalhadores não quer assumir funções de direção.
Cerca de 42% dos inquiridos referem que o seu empregador não está a proporcionar flexibilidade suficiente para trabalhar a partir de casa.
De uma forma geral, a esmagadora maioria, cerca de 93%, dos colaboradores inquiridos consideraram o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional fundamental na sua vida, sendo a flexibilidade no que diz respeito ao horário de trabalho (81%) e o apoio à saúde mental (83%) como outros dos fatores bastante relevantes no emprego.
Este estudo mostra ainda que o facto de os colaboradores não apresentarem como principal foco a progressão de carreira, assumindo, por exemplo, funções de liderança, tal não significa que não tenham interesse no seu próprio desenvolvimento. Os dados recolhidos mostram que 72% dos trabalhadores classificam as oportunidades de formação e desenvolvimento como importantes e 29% deixariam um emprego se não lhes fossem oferecidas oportunidades de aprendizagem e desenvolvimento para prepararem as suas competências para o futuro, com enfoque na Inteligência Artificial.
De um modo geral, o estudo dá alguma pista sobre o que os trabalhadores do futuro pretendem nos seus locais de trabalho. Assim, 42% dos inquiridos referem que o seu empregador não está a proporcionar flexibilidade suficiente para trabalhar a partir de casa. Por outro lado, cerca de 32% referem que não aceitariam um emprego em que a empresa empregadora não estivesse de acordo com os seus valores sociais e ambientais, 35% dos inquiridos referem que não aceitariam um emprego que não oferecesse formação para melhorar as suas competências.
A que dão valor os trabalhadores portugueses
No caso particular dos portugueses, a sua maior ambição no mundo de trabalho vai também de encontro ao dos restantes trabalhadores mundiais: garantir um equilíbrio estável entre a vida profissional e pessoal, tornando-se este ponto até prioritário face a um salário mais elevado. Os cinco principais elementos relativos ao emprego atual ou futuro são o equilíbrio entre o trabalho e vida pessoal, com 97% de respostas; o salário (com 96%); o apoio à saúde mental (com 94%); a segurança no emprego (com 93%); e a flexibilidade do horário de trabalho, assim como as oportunidades de progressão na carreira, que atinge os 88%.
Cerca de 39% afirmam que deixariam um emprego que os impedisse de desfrutar da sua vida pessoal, mas, no entanto, 36% referem estar preocupados em perder o seu emprego.
A preocupação de manter um bom equilíbrio atinge 60% dos inquiridos que referem que não aceitariam um emprego que considerassem que iria afetar o seu equilíbrio de vida, sendo que 50% referem que a vida pessoal é mais importante do que a vida pessoal. Ou seja, 39% afirmam mesmo que deixariam um emprego que os impedisse de desfrutar da sua vida pessoal, mas, no entanto, 36% referem estar preocupados em perder o seu emprego. Relativamente à ambição profissional, 57% acreditam que são ambiciosos relativamente à sua carreira, porém 37% entendem que mesmo que não haja espaço para progressão em determinada função de que gostem, continuariam a desempenhá-la.
Flexibilidade vai além do teletrabalho
Este estudo mostra que, para os trabalhadores nacionais, a flexibilidade vai além do teletrabalho, pois inclui também o horário de trabalho, que é um elemento essencial na hora de escolher determinado emprego ou função. Foram cerca de 29% os inquiridos que referiram que não aceitariam falta de flexibilidade relativamente à localização e 32% face ao horário.
Cerca de 26% deixaria o emprego se lhes fosse pedido para passar mais tempo no escritório, sendo que 42% entendem que o empregador não está a proporcionar a flexibilidade suficiente para trabalhar a partir de casa. Cerca de 30% das respostas vão no sentido de que as entidades patronais se tornaram mais rigorosas em relação aos trabalhadores irem ao escritório.
Este estudo mostra que, para os trabalhadores nacionais, a flexibilidade vai além do teletrabalho, pois inclui também o horário de trabalho, que é um elemento essencial na hora de escolher determinado emprego ou função. Foram cerca de 29% os inquiridos que referiram que não aceitariam falta de flexibilidade relativamente à localização e 32% face ao horário.
Tal como os trabalhadores de outras nacionalidades, também os portugueses estão a valorizar mais os empregadores que se alinham com os seus propósitos e valores pessoais e que tomam medidas concretas para melhorar os locais de trabalho. O destaque vai ainda para o facto de que os portugueses também darem valor à formação, nomeadamente na aquisição de competências na área da Inteligência Artificial.
Isabel Roseiro, diretora de marketing da Randstad, refere a propósito deste estudo, que “Percebemos que a tendência para a valorização do salário emocional é cada vez maior, com vertentes como a flexibilidade e a formação em grande destaque e que os profissionais estão cada vez mais preocupados com o seu bem-estar e em garantirem que se mantêm relevantes no mercado de trabalho, sobretudo quando vimos a inteligência artificial cada vez mais presente no nosso dia-a-dia”. Refere ainda que as dinâmicas do mercado de trabalho estão a mudar e é fundamental que as empresas reconheçam estas mudanças e que construam a sua estratégia de atração e retenção de talento cada vez mais alinhada com aquilo que os profissionais procuram.