O ator norte-americano James Earl Jones, conhecido por emprestar a voz a Darth Vader e pela sua prolífica carreira no teatro e no cinema, morreu hoje aos 93 anos, anunciaram os seus agentes.
Para além dos seus papéis de dobragem, como o lendário vilão da saga Star Wars ou Mufasa em “O Rei Leão”, o ator afro-americano é reconhecido pela sua longa carreira tanto no grande ecrã como nos cinemas.
No entanto, nada o predestinou para se tornar numa das vozes mais emblemáticas da história do cinema: até aos 8 anos, o jovem James Earl Jones mal falava devido a uma forte gaguez.
“A gaguez é dolorosa. No catecismo, estava a tentar ler as lições e as crianças atrás de mim rebolavam no chão de tanto rir”, contou ao Daily Mail, em 2010.
Nascido em 1931 no Mississipi, um Estado segregacionista do sul, James Earl Jones mudou-se com a família para Michigan, no norte dos Estados Unidos, aos 5 anos.
Recupera finalmente o controlo da fala graças à recitação de poemas, por iniciativa do seu professor de Inglês, ele próprio poeta.
No entanto, o jovem ainda não considera uma vocação artística, mas sim estudar medicina, ou seguir a carreira militar.
Depois de completar o seu serviço no Exército dos EUA como tenente, mudou-se para Nova Iorque em meados da década de 1950 para tentar tornar-se ator, enquanto à noite trabalhava como porteiro. “Limpei algumas casas de banho”, destacou à rádio NPR, em 2014.
O ator estreou-se na Broadway em 1958 com a peça “Sunrise at Campobello” no Cort Theatre, rebatizado James Earl Jones Theatre em 2022.
Entre 1961 e 1964, representou em Nova Iorque em “The Blacks”, uma peça de Jean Genet, ao lado da poetisa Maya Angelou.
Em 1969, Jones participou na realização de filmes de teste para a Rua Sésamo, que foram fundamentais para o que se tornou o formato da veterana série educativa para crianças.
O seu primeiro papel no cinema surgiu com “Doutor Strangelove”, de Stanley Kubrick, onde interpretou o Tenente Zogg a bordo de um bombardeiro B-52.
O tema militar será frequentemente recorrente na sua filmografia, nomeadamente através do seu papel de Almirante Greer na saga cinematográfica “Jack Ryan”, ou mesmo de sargento-mor em “Stone Gardens” de Francis Ford Coppola em 1987.
O seu primeiro reconhecimento na indústria surgiu em 1969, com a vitória nos Tony Awards, prémios do teatro americano, pelo papel principal na peça “O Insurgente” (“The Great White Hope”).
Conta a história verídica de Jack Johnson, o primeiro pugilista afro-americano campeão e da “grande esperança branca” esperada pelo público branco norte-americano para o destronar.
Sucesso de crítica, a peça foi adaptada para filme no ano seguinte. James Earl Jones repete o papel de Jack Johnson e a sua prestação valeu-lhe uma nomeação ao Óscar e um Globo de Ouro.
Jones foi o segundo ator afro-americano, depois de Sidney Poitier, a ser nomeado para um Óscar na categoria de Ator Principal por “The Great White Hope” em 1970. O vencedor desse ano foi George C. Scott por Patton.
Ao todo, o ator foi nomeado quatro vezes para os Tony Awards entre 1969 e 2012, e ganhou dois, além de um Tony especial para toda a sua carreira em 2017. O cinema distinguiu-o ainda em 2011 com um Óscar de honra.
No entanto, no seu papel mais icónico, nunca surgiu no ecrã. George Lucas, o criador de Star Wars, escolheu-o, depois de considerar Orson Welles, para interpretar a voz daquele que viria a ser o vilão mais famoso da história do cinema, Darth Vader.
“O George queria uma voz mais sombria. Então contratou um tipo que nasceu no Mississipi, cresceu no Michigan, tinha gaguez e essa voz era eu”, salientou James Earl Jones numa entrevista, em 2009, ao American Film Institute.
O ator inicialmente não queria que o seu nome aparecesse nos créditos dos primeiros episódios de Star Wars, acreditando que o seu trabalho se assemelhava mais a efeitos especiais, e preferindo que o reconhecimento fosse para o ator por detrás da máscara, David Prowse, segundo a revista especializada Far Out.
Entre os seus outros papéis de destaque está o do Rei Jaffe Joffer em “Um Príncipe em Nova Iorque”, ou o vilão Thulsa Doom em “Conan, o Bárbaro”.
Na década de 1990, Jones deu voz a várias personagens na animação Os Simpsons em três temporadas distintas.
“Desde a sabedoria gentil de Mufasa até à ameaça assustadora de Darth Vader, James Earl Jones deu voz a algumas das maiores personagens da história do cinema. Um célebre ator de teatro com cerca de 200 créditos no cinema e na televisão, as histórias que deu vida com uma presença única e uma verdadeira riqueza de espírito deixaram uma marca indelével em gerações de audiências”, afirmou Bob Iger, CEO da Disney, em comunicado.
“Aquela voz estrondosa. Aquela força tranquila. A bondade que ele irradiava. Muito pode ser dito sobre o seu legado, por isso vou apenas dizer o quanto estou grato por parte dele incluir Field of Dreams”, escreveu Kevin Costner no Instagram.
“James era um ator incrível, uma voz única tanto na arte como no espírito. Durante quase meio século, ele foi Darth Vader, mas o segredo de tudo é que ele era um belo ser humano. Deu profundidade, sinceridade e significado a todos os seus papéis, entre os mais importantes o de marido dedicado à falecida Ceci e pai do Flynn. A falta de James será sentida por muitos de nós… amigos e fãs”, disse o criador da Guerra das Estrelas, George Lucas.
“Este homem era a personificação viva da arte, integridade, criatividade e dignidade. James Earl Jones é a única razão pela qual me tornei ator”, escreveu o ator Wendell Pierce no X. ”Ele despertou em mim uma vocação que deu voz às canções não cantadas do meu coração. Com o seu exemplo, conduziu-me à exploração da minha própria humanidade pessoal e ao estudo do comportamento humano nos outros e da alma intangível e sempre presente. Ele foi um talento único numa geração que deixou um enorme legado na cultura americana”.
(com Forbes Internacional e Lusa)