Sidney Poitier, que faleceu esta sexta-feira, aos 94 anos, marcou toda uma geração, aparecendo como um herói cinematográfico em plena época de segregação racial, em paralelo com a luta política de figuras como Martin Luther King.
Sidney Poitier fez mais de meia centena de filmes e entra para a história de Hollywood em abril de 1964 quando, em pleno ambiente de tensões raciais ligadas ao Movimento dos Direitos Civis norte-americano, tornou-se o primeiro ator negro a receber o Óscar de Melhor Ator. Aconteceu na 36ª cerimônia de entrega dos Óscares, graças à película “Lírios do Campo” (“Lilies of the Field”, no original, fita de 1963), realizada por Ralph Nelson.
Em “Lírios do Campo”, o ator desempanha o papel de um trabalhador desempregado que acaba por ajudar uma comunidade de freiras a construir uma nova capela, com estas a acreditar que ele foi enviado por Deus.
De resto, com o filme “Os Audaciosos”, de 1958 (original: “The Defiant Ones”), Poitier teve, igualmente, a sua primeira nomeação para as estatuetas douradas de Hollywood, sendo também o primeiro ator negro a conseguir esse feito.
Extra Hollywood, Sidney Poitier foi, também, em 1957, o primeiro negro a ganhar um prémio no Festival de Cinema de Veneza, pela participação no filme “Sangue Sobre a Terra” (original: “Something of Value”).
Em 2002, Poitier tornou-se igualmente o primeiro artista negro a receber um Óscar honorário pelo conjunto da sua obra.
“Aqui estou eu, no fim de uma viagem que em 1949 era considerada quase impossível”, afirmou quando recebeu a estatueta.
“Tinha um sentido de responsabilidade, não só para comigo e para com o meu tempo, mas, certamente, para as pessoas que representava”, reconheceria em 2008.
Com dupla nacionalidade, Sidney Poitier cresceu nas Bahamas, mas uma infância com grandes carências fez com que abandonasse os estudos aos 13 anos e aos 15 anos regressasse a Miami, nos EUA, onde nascera por acidente a 20 de fevereiro de 1927, durante uma visita dos pais.
Emigrado para os EUA, o artista haveria de adotar a nacionalidade norte-americana, tornando-se num dos ícones das décadas de 1950 e 1960 em Hollywood.
Depois de passar por Miamim, Poitier partiu para Nova Iorque onde começou por lavar pratos. Foi rejeitado num casting no American Negro Theatre, local onde conseguiria depois um emprego na manutenção desse teatro, onde a troco de uma parte do ordenado tinha aulas de interpretação. Um dia, Poitier substituiu o ator Harry Belafonte e no espaço de dois anos conseguiu o seu primeiro papel no cinema, no filme “Falsa Acusação”, de 1950 (original: “No Way Out”), de Joseph L. Mankiewicz, fita na qual Poitier faz o papel de um médico alvo da vingança de um marginal racista (papel de Richard Widmark).
A interpretação conduziu-o a outras propostas e papéis mais relevantesdo que aqueles que eram habitualmente oferecidos a outros atores negros. Um desses papéis, o de um estudante rebelde em “Sementes de Violência”, de 1955 (original: “Blackboard Jungle”), catapultou-o, em definitivo, para o protagonismo em Hollywood.
Outros fitas em que Sidney Poitier se destacou foram “Porgy e Bess”, de 1959 (original: “ Porgy and Bess”), “Gigantes do Mar”, de 1964 (original: “The Long Ships”), “O Ódio Que Gerou o Amor”, de 1967 (original: “To Sir, with Love”), “No Calor da Noite”, de 1967 (original: “In the Heat of the Night” e Óscar de Melhor Filme), “Adivinha Quem Vem Jantar”, de 1967 (original: “Guess Who’s Coming to Dinner”),”Atirar a Matar”, de 1988 (original: “Shoot to Kill”), “O Pequeno Nikita”, de 1988 (original: “Little Nikita”), “Heróis Por Acaso”, de 1992 (original: “Sneakers”) e “O Chacal”, de 1997 (original: “The Jackal”).
Além do trabalho no cinema, Poitier também foi um grande ativista pelos direitos civis, algo que o levou a receber a Medalha Presidencial da Liberdade, concedida pelo então presidente dos EUA, Barack Obama, em 2009.