Num momento em que o setor de tecnologia aplicada ao retalho (o chamado retail tech) está cada vez mais competitivo, a equipa portuguesa da Hitachi Vantara está a implementar no mercado mundial uma solução de loja autónoma diferenciadora.
Consiste numa tecnologia que permite que os retalhistas tenham lojas sem caixas e proporcionem uma melhor experiência do cliente no momento da compra, ao evitar filas.
Implementada em retalhistas no Japão e em Israel, o objetivo é que seja adotada por mais cadeias americanas e europeias.
Como funciona?
Ao recorrer ao sistema LiDAR (da sigla inglesa Light Detection And Ranging), também usado nos sistemas de assistência à condução nos automóveis, a tecnologia criada pela Hitachi Vantara permite acompanhar o movimento das pessoas dentro do espaço da loja (fazendo, portanto, o seu tracking), salvaguardando, todavia, a sua identidade e “atuando de acordo com a legislação europeia de proteção de dados, ao contrário do que acontece com um sistema CCTV tradicional”, indica a empresa.
O LiDAR regista os produtos que o cliente acrescentou, ou retirou do seu cesto, sem necessitar que efetue mais alguma ação.
“Esta tecnologia é altamente atrativa e relevante, num momento em que a experiência do consumidor está a mudar e há uma preocupação acrescida com os aglomerados de pessoas em lojas, devido ao distanciamento social”, explica Paulo Valério, diretor de inovação na Hitachi Vantara e responsável do projeto.
Vantagens desta tecnologia
Os criadores da tecnologia referem que os sensores permitem ainda reduzir o tempo e custos por metro quadrado de implementação, estando, por isso, acessível a uma maior variedade de negócios.
“Por fim, os dados gerados pelos sensores LiDAR exigem menor capacidade de processamento, pelo que permitem acompanhar o processo de compra em tempo real de forma mais eficiente”, salienta a empresa.
“Sendo esta uma tecnologia desenvolvida na totalidade pela nossa equipa portuguesa, queremos muito vê-la implementada no país”, diz Paulo Valério.
A solução da loja autónoma fica completa com um conjunto de prateleiras inteligentes, onde são colocados os produtos, que permitem reconhecer quando um produto é retirado ou colocado na prateleira, através do peso, comunicando diretamente com a aplicação do comprador.
“Ver uma tecnologia desenvolvida integralmente em Portugal a ser exportada para o Japão, um dos maiores polos tecnológicos do mundo, é um grande marco e um reconhecimento do nosso trabalho. Estamos muito orgulhosos por inovar e liderar num conceito que já é muito conhecido e usado por várias empresas em todo o mundo”, acrescenta Paulo Valério.
No escritório português da Hitachi Vantara, está instalado uma loja autónoma em formato laboratório, onde a equipa desenvolve e testa a solução. De momento, existe uma equipa de profissionais da Hitachi Vantara dedicada a este projeto, sendo que a empresa pretende aumentar esta equipa.
“No nosso escritório, nas Amoreiras, temos instalado um laboratório onde desenvolvemos e testamos a tecnologia”, diz Paulo Valério.
Entrevista à FORBES de Paulo Valério, Diretor de Inovação da Hitachi Vantara Portugal:
Em que países e em que empresas têm já a vossa tecnologia?
O desafio chegou à Hitachi Vantara através de um cliente de retalho em Israel, há cerca de ano e meio, e, atualmente, a nossa tecnologia está implementada não só neste país, mas também no Japão, sendo que esperamos expandir rapidamente para os mercados europeus e americanos. Ver a nossa tecnologia desenvolvida integralmente em Portugal a ser exportada para um país como o Japão, um dos maiores polos tecnológicos do mundo, é um grande marco e um reconhecimento do nosso trabalho.
Qual o ramo de atividade em que estão a lançar os projetos em Israel e Japão? Área alimentar? Outra?
Atualmente, a solução de loja autónoma da Hitachi Vantara encontra-se implementada no Japão e em Israel, em clientes de retalho. O objetivo é continuar a expansão deste novo conceito de loja ao longo de 2022. Contamos ainda que esta solução seja adotada por mais cadeias, nomeadamente europeias e americanas.
O nosso objetivo é não só chegar a mais países, mas também a diferentes setores, uma vez que representa uma enorme mais-valia para comerciantes e para clientes, ainda para mais, num momento em que a experiência do consumidor está a mudar e há uma preocupação acrescida com os aglomerados de pessoas em lojas e com o assegurar do distanciamento social, devido à pandemia.
Qualquer setor pode beneficiar desta solução, basta que tenha uma loja física. O mercado está em evolução e a experiência do consumidor deve acompanhar este crescimento, recorrendo às soluções tecnológicas que estão cada vez mais acessíveis.
A tecnologia de LiDAR a que recorrem para concretizar este projeto foi equipada com um algoritmo desenvolvido por vocês? Está preparado para identificar pessoas e produtos, registando os bens que foram colocados no cesto?
Ao utilizar a tecnologia LiDAR desenvolvida no seio do grupo Hitachi, a nossa solução de loja autónoma combina esta funcionalidade de fazer o tracking das pessoas dentro do espaço, sem as identificar.
O que a diferencia de um sistema CCTV tradicional é que consegue salvaguardar a identidade das pessoas, atuando de acordo com a legislação europeia de proteção de dados.
Do ponto de vista operacional, o sistema regista os produtos que o cliente acrescentou, ou retirou do seu cesto, sem necessitar que efetue mais alguma ação. As prateleiras inteligentes estão equipadas com sensores de peso que registam o que foi retirado, ou colocado na mesma.
Assim, ao entrar na loja, o sistema identifica o movimento da pessoa e acompanha-a ao longo do seu percurso, ao mesmo tempo que regista todos os produtos que são colocados no seu cesto.
De que forma é efetuado o pagamento? Existe um sistema de self check-out ou o débito do valor das compras é feito automaticamente, assim que a pessoa sai do estabelecimento? No caso de ser feito automaticamente, a que tecnologia recorre para o pagamento ser processado?
Quando uma pessoa chega a uma prateleira e retira produtos, é automaticamente criado um cesto de compras no sistema do supermercado, não havendo necessidade de fazer a leitura de códigos de barras, uma vez que o nosso sistema comunica com o sistema de back office do retalhista.
No final, basta sair da loja e o processo de check-out é iniciado no sistema do retalhista, o processo de pagamento validado e processado no meio de pagamento associado ao sistema do retalhista.
Perspetivando o crescimento, quais são os passos que preveem para a empresa (novos mercados ou novas evoluções do vosso sistema)?
Implementámos a nossa solução de loja autónoma numa primeira loja em Israel e para além das cinco em que estamos a trabalhar neste momento, contamos que a restante cadeia vá aumentar ao longo de 2022. Adicionalmente, já estamos também no Japão e contamos ainda que esta solução seja adotada por mais cadeias, nomeadamente europeias e americanas.
Neste sentido, monitoramos e avaliamos constantemente as oportunidades de crescimento dentro dos diferentes mercados. O nosso objetivo é facilitar o dia-a-dia das pessoas e apoiar o crescimento dos comerciantes, e colocar desta forma a tecnologia ao serviço da sociedade.
Está prevista a ida ao mercado para se financiarem? Em caso afirmativo, quando e qual o valor que precisam? Esse hipotético investimento destina-se a financiar que novos desenvolvimentos?
A Hitachi Vantara financia-se nos orçamentos de I&D corporativos.
E Portugal: quando terá uma destas lojas autónomas? Há negociações com algum operador?
Avaliamos constantemente as oportunidades de parcerias com operadores em Portugal. Sendo esta uma tecnologia desenvolvida na totalidade pela nossa equipa portuguesa, queremos muito vê-la implementada no país. No nosso escritório, nas Amoreiras, temos instalado um laboratório onde desenvolvemos e testamos a tecnologia, no sentido de a potenciar ao máximo. Nos últimos anos, Portugal tem-se tornado num pólo tecnológico muito promissor e a Hitachi Vantara reconhece esse valor ao país, debitando muita confiança nos projetos que desenvolvemos localmente.