A subida generalizada dos preços levou os bancos centrais a atuarem. Na Zona Euro, o Banco Central Europeu (BCE) tem vindo a subir as taxas de juro de referência. Este aumento da taxa diretora tem elevado os custos de financiamento e gerado restrições nos balanços, o que se tem traduzido em critérios mais rigorosos para a concessão de crédito a famílias e empresas no terceiro trimestre deste ano.
Os especialistas da Allianz Trade, acionista da COSEC – Companha de Seguro de Créditos –, no estudo “Europe: How big will the interest rate shock be in 2023?” admitem que os critérios para a atribuição de crédito no bloco da moeda única sejam ainda mais rigorosos neste quarto trimestre, o que terá efeitos sobre as famílias e empresas nos próximos meses.
Para as famílias, incluindo as portuguesas, o choque das taxas de juro deverá estar a aproximar-se, podendo mesmo materializar-se no próximo ano, referem estes especialistas em seguro de créditos que estimam que o pico da taxa de juro de referência na Zona Euro seja alcançado no primeiro trimestre de 2023.
Nesse sentido, a COSEC estima que o período médio de passagem da taxa de juro de referência para as taxas bancárias, no caso de Portugal, deva ocorrer no segundo trimestre de 2023, à semelhança das projeções para Espanha e Itália.
No caso da economia alemã e francesa, as previsões apontam que esta transmissão só deverá acontecer no terceiro trimestre do próximo ano.
O aumento das taxas de juro deverá levar as famílias a perder poder de compra.
Para as famílias, o pass-through da taxa de juros deve atingir 210 pontos-base em média, indica a COSEC.
Olhando para o peso dos empréstimos a taxa variável (ou seja, menos de 10% do total dos empréstimos contra cerca de 40% antes de 2012), “estimamos que a perda em termos de poder de compra das famílias da Zona Euro se situe em -1pp em média, equivalente a cerca de 500 euros por agregado familiar. As despesas com juros em 2023 representariam cerca de 20% a 30% da poupança total pós-COVID na Alemanha e em França, 45% em Itália e mais de 50% em Espanha”.
No entanto, os economistas da acionista da COSEC admitem que as poupanças obtidas durante a pandemia podem ajudar a compensar parte dos efeitos que a escalada dos juros vai ter no orçamento das famílias da área do euro.
“Num contexto de subida das taxas de juro e de agravamento das perspetivas económicas, a dinâmica favorável de crédito na Zona Euro não deverá durar muito mais tempo. Como mostram os dados do BCE, depois de um ano de estabilização dos padrões de empréstimo, os bancos tornaram-se significativamente mais avessos ao risco. É possível que os padrões de crédito se tornem mais restritivos à medida que os bancos diminuem a sua tolerância ao risco”, afirma Ana Boata, Head of Economic Research da Allianz Trade.
A taxa Euribor a seis meses, a mais utilizada em Portugal nos créditos à habitação e que depois de andar negativa durante seis anos e sete meses (entre 6 de novembro de 2015 e 3 de junho de 2022), passou para terreno positivo em 6 de junho.
A média da Euribor a seis meses subiu de 1,997% em outubro para 2,321% em novembro e , na passada terça-feira para 2,443%, mais 0,007 pontos, o que constituiu um novo máximo desde janeiro de 2009.
Empresas com quebras nas margens
A Allianz Trade prevê uma subida das taxas de juro para as empresas também no primeiro semestre do próximo ano. As previsões da acionista da COSEC sugerem que a dívida das empresas não financeiras deverá subir para novos recordes em termos absolutos e um aperto global das condições financeiras. Estes dois efeitos deverão intensificar as despesas com juros e aumentar os custos das empresas.
A continuação da subida das taxas de juro de referência vai aumentar os juros que as empresas pagam para se financiar, levando a uma diminuição das margens de lucro das empresas. Entre as principais economias do euro, a Itália, Espanha e França são os países em maior risco de enfrentarem este cenário, aponta a COSEC.
Segundo esta análise, para as empresas, é esperado um aumento médio das taxas de juros em +200 pontos base no primeiro semestre de 2023.
“Olhando para o futuro, o aumento da dívida financeira das empresas não financeiras para novos recordes em termos absolutos, combinado com o aperto global das condições financeiras, devem intensificar as despesas com juros e aumentar os custos das empresas. Prevemos que novos aumentos na taxa básica de juros aumentariam as taxas médias de juros para empresas em 200 pontos-base adicionais até meados de 2023, o que, por sua vez, reduzirá as margens das empresas em mais de -3 pontos percentuais. Itália, Espanha e França estão em maior risco. No entanto, refira-se que mais de 50% dos empréstimos a empresas aumentaram a sua maturidade para mais de cinco anos, com menos de 20% para menos de um ano”.