“Procuramos criar um ambiente seguro, onde o erro é encarado como uma oportunidade de aprendizagem e não como um obstáculo”

Margarida Loureiro é a nova Presidente da Junitec para o mandato de 2025/26, assumindo a liderança da júnior empresa do Instituto Superior Técnico num modelo de gestão integralmente conduzido por estudantes. Finalista do mestrado em Engenharia Informática e de Computadores, com especializações em Engenharia e Ciência de Dados e Inteligência Artificial, ingressou na Junitec em…
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Numa sociedade em que a pressão pelo desempenho começa cada vez mais cedo, a Junitec afirma-se como um espaço onde errar não é sinónimo de falhar. Sob a liderança de Margarida Loureiro, a júnior empresa do Instituto Superior Técnico reforça uma cultura de aprendizagem prática, inovação tecnológica e proximidade ao mercado, apostando na formação de talento que aprende fazendo e crescendo com cada tentativa.
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Margarida Loureiro é a nova Presidente da Junitec para o mandato de 2025/26, assumindo a liderança da júnior empresa do Instituto Superior Técnico num modelo de gestão integralmente conduzido por estudantes.

Finalista do mestrado em Engenharia Informática e de Computadores, com especializações em Engenharia e Ciência de Dados e Inteligência Artificial, ingressou na Junitec em 2024, onde se destacou pela liderança em projetos de consultoria tecnológica. Depois de uma licenciatura em Engenharia Física Tecnológica, concluída com Diploma de Excelência, assume agora a presidência com o objetivo de consolidar a Junitec como uma ponte ativa entre a academia, a inovação e o mercado de trabalho.

 

Como é que descreve a missão central da Junitec? O que é que a Junitec faz (que tipo de projetos desenvolve)?
A missão da Junitec é, sobretudo, valorizar o estudante universitário, através de uma formação orientada para a inovação, tecnologia e empreendedorismo, ao mesmo tempo que o aproxima do meio empresarial. Com mais de 35 anos de experiência, a Junitec é especializada em prestar consultoria tecnológica a empresas. Inclusive, já colaborámos com várias empresas líderes de mercado para estabelecer a ponte entre a academia e a indústria. Ao longo dos últimos anos, desenvolvemos diferentes projetos como o “Oficina dos Sons”, que pretende levar as crianças a adquirirem consciência linguística de forma lúdica, ou o “CEiiA 2”, uma pulseira inteligente, reutilizável e esterilizável, que monitoriza o estado dos doentes após a triagem e enquanto aguardam atendimento no hospital. O nosso objetivo é precisamente este, criar projetos com impacto e formar talentos preparados para os desafios do mercado de trabalho.

A Junitec é gerida apenas por estudantes, mas funciona com estrutura e exigência de uma empresa. Como é que fazem para ter esse nível de profissionalismo? Os professores também vos apoiam?
Todos os anos a nossa direção é renovada e damos muita importância à passagem de testemunho para a equipa seguinte. Acompanhamos de perto os novos membros e transmitimos conhecimento e experiência, de forma a garantir que cada direção possa superar a anterior. Procuramos, ainda, parcerias estratégicas, como a Armilar, que nos apoia ao longo do ano na parte da inovação e a Kearney, que nos acompanha nos nossos processos internos e ajuda-nos a construir uma visão para o futuro da JUNITEC.

Que tipo de projetos chegam normalmente à Junitec e que setores mais procuram os vossos serviços?
Na Junitec recebemos essencialmente projetos tecnológicos, que vão desde o desenvolvimento de software e plataformas, até soluções com componente de Inteligência Artificial, passando por modelação e impressão 3D. Graças a esta diversidade de competências, trabalhamos com um número crescente de setores, nomeadamente, empresas de tecnologia, que procuram inovação constante, assim como com organizações e entidades de áreas variadas que necessitam de consultoria tecnológica personalizada.

Como é que o vosso trabalho em áreas como IA, machine learning, análise de dados ou web development vos coloca a competir com consultoras tecnológicas estabelecidas?
Combinamos inovação com a ligação direta ao meio académico e oferecemos soluções tecnológicas atualizadas e criativas, sustentadas pelo acesso contínuo a talento jovem altamente qualificado. A nossa estrutura enquanto júnior empresa dá-nos flexibilidade e custos reduzidos, o que nos permite ser uma alternativa eficiente às consultoras tradicionais, com rigor e qualidade a preços competitivos.

Além disso, o nosso trabalho já recebeu reconhecimento internacional e nacional, como o prémio de Júnior Empresa do Ano na Europa por duas vezes e quatro vitórias consecutivas na categoria de Júnior Empresa do Ano pela JE Portugal. A experiência acumulada em projetos reais para empresas e instituições reforça ainda mais a nossa credibilidade e capacidade de entrega no mercado.

Tem exemplos concretos de antigos membros que tenham seguido carreiras influenciadas pela passagem nesta júnior empresa?
Claro que sim, temos vários exemplos inspiradores. Um dos mais marcantes é o de Paulo Dimas, cofundador da Junitec, que já admitiu que a passagem pela nossa júnior empresa foi transformadora do seu percurso profissional. Com o sonho de ser cientista desde criança, estava na altura no INESC quando se juntou à Junitec e foi aqui que viu ideias ganharem forma, que aprendeu a usar a inovação para criar produtos, que viu as coisas acontecer. Tudo isto fê-lo compreender que não queria dedicar a sua vida unicamente à investigação, o que o levou a decidir sair do INESC.

Outro caso é o de Ana Matos, presidente da Junitec em 2022/2023, que mudou totalmente o seu rumo profissional: formada em Arquitetura, descobriu na Junitec o interesse pela área digital e de gestão, e atualmente trabalha na Google, em Dublin, na área de Sales.

No fundo, a Junitec funciona muitas vezes como o primeiro contacto com o mercado de trabalho, o que acaba por transformar significativamente o percurso profissional dos seus membros.

Nova direção da Junitec

Como é que promovem uma cultura que não tenha medo de falhar, sobretudo num ambiente académico onde o erro muitas vezes é penalizado?
Na Junitec procuramos criar um ambiente seguro, onde o erro é encarado como uma oportunidade de aprendizagem e não como um obstáculo. Reforçamos sempre que cada tentativa, mesmo que falhada, faz parte do processo de crescimento. Queremos que os nossos membros tenham confiança para testar ideias e aprender na prática, algo que muitas vezes não é possível no contexto académico tradicional.

O Programa Apollo que desenvolvem consiste no apoio a start-ups? Que tipo de startups procuram acelerar e quais têm sido os resultados mais relevantes?
Sim, o Apollo é um programa de aceleração de startups que visa apoiar jovens com uma mentalidade inovadora e disruptiva, ao longo de 15 semanas. As startups que participam neste programa passam a integrar a comunidade de inovação da JUNITEC e a ter a acesso a mentoria especializada, workshops e oportunidades de networking, com o apoio da Unicorn Factory Lisboa, principal parceiro desta iniciativa. Até agora, já acelerámos 18 startups universitárias, com casos de destaque como a Rootkey, especializada em soluções blockchain com presença internacional, a Bookycar, uma plataforma de car-sharing, e a SafetyScope.ia, que otimiza a monitorização de segurança através de reconhecimento de padrões para deteção rápida de ameaças.

Qual a diferença do Programa Apollo para o Innovation Hub, dado que neste último também procuram desenvolver start-ups?
O Programa Apollo é um programa externo, aberto a todos os estudantes, incluindo internacionais, enquanto o Innovation Hub é um programa interno do departamento de inovação da Junitec que tem como objetivo apoiar os membros no desenvolvimento de startups tecnológicas que resolvam problemas reais da sociedade. O programa começa com um bootcamp para ideação e formação de equipas, seguido de um challenge day, onde são selecionadas as startups que recebem apoio da Junitec ao longo do ano em áreas como gestão, marketing, jurídica e financiamento, até desenvolverem o MVP e apresentá-lo no Unicorn Day, um demo day também organizado pela Junitec.

Relativamente ao Innovation Hub, pode partilhar alguns projetos que tenham saído deste programa?
No ano passado, selecionámos três startups: a Lumera, uma plataforma digital que liga marcas e influenciadores nano e micro através de um sistema de matchmaking; a weCond, uma solução para gestão de condomínios que simplifica contratação e gestão de prestadores de serviços; e Huddle, uma plataforma que apoia gestores de clubes desportivos na gestão de atletas (pagamento de mensalidades, convocatórias, mensagens para os pais).

Quais são as prioridades ou projetos da Junitec para 2025 e 2026?
Queremos consolidar ainda mais o nosso know-how no desenvolvimento de projetos de consultoria tecnológica e continuar a ser um verdadeiro polo de inovação no meio universitário. Vamos dar continuidade aos nossos programas internos e externos, como o Innovation Hub e o Programa Apollo, sempre à procura de melhorar a experiência para todos os envolvidos, especialmente os estudantes, e garantir que cada ano seja mais enriquecedor e desafiante do que o anterior.

No seu caso pessoal, como é que se gere uma “empresa” enquanto continua a ser estudante a tempo inteiro no IST?
Para mim, gerir a Junitec enquanto sou estudante exige muita organização e definição clara de prioridades. Um dos segredos está no trabalho em equipa: saber distribuir tarefas e confiar nos outros, pois ninguém lidera sozinho. No final, a motivação de trabalhar num projeto com impacto real na sociedade, aliada ao apoio de uma equipa dedicada, torna tudo equilibrável e extremamente enriquecedor. Muitas das competências que desenvolvi e ainda desenvolvo na Junitec acabam também por ter um impacto positivo no meu percurso académico e pessoal.

Que desafios de liderança enfrenta diariamente e como é que organiza a agenda para conseguir conciliar tudo?
Um dos maiores desafios é garantir que todos os departamentos se mantêm alinhados e motivados, tendo em conta que cada membro tem ritmos, horários e responsabilidades diferentes. Liderar implica saber ouvir e criar condições para que cada pessoa possa dar o seu melhor sem comprometer o equilíbrio pessoal e académico.

Que conselho daria a um estudante que hoje pense ingressar numa júnior empresa, mas não se sinta preparado?
O conselho que eu daria é não esperar estar totalmente preparado. Entrar numa júnior empresa, como a Junitec, é um processo de aprendizagem intenso, onde se desenvolvem competências que dificilmente se adquirem apenas na sala de aula. É normal sentir receio ou insegurança no início, porém, é precisamente ao enfrentar esses desafios que se cresce profissional e pessoalmente. A chave é ter coragem para experimentar e disponibilidade para aprender com os erros, num ambiente onde todos se apoiam e ajudam mutuamente a evoluir.

Além disso, é importante perceber que ninguém entra já a saber tudo. As júnior empresas são feitas para estudantes em diferentes fases do percurso, e o crescimento acontece de forma progressiva. Com atitude, curiosidade e vontade de trabalhar em equipa, qualquer pessoa pode encontrar o seu espaço e evoluir e ganhar confiança ao longo do caminho.

O que é que aprendeu sobre liderança, pessoas e tomada de decisão neste papel que levará para a sua carreira profissional?
Liderar é apoiar a equipa, ouvir cada pessoa e ajudá-la a dar o seu melhor. Cada decisão deve ser bem ponderada, no entanto, por vezes, é necessário agir rapidamente e assumir a responsabilidade pelos resultados. Pessoalmente, acho que estas lições serão fundamentais na minha carreira, porque demonstram que o sucesso depende tanto de trabalhar em equipa como de tomar decisões estratégicas e bem fundamentadas.

Ao longo deste percurso, aprendi também a importância da empatia e de uma comunicação clara na gestão de pessoas, especialmente em contextos exigentes e de grande responsabilidade. Levo ainda comigo a noção de que liderar passa por dar o exemplo, assumir erros e construir relações de confiança, garantindo continuidade e impacto sustentável.

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