Paulo Dimas, CEO do Centro para a Inteligência Artificial Responsável, destacou na Forbes Annual Summit 2024 que estamos a viver um momento crucial de democratização da Inteligência Artificial (IA). “Neste momento, estamos na fase da democratização da inteligência artificial”, disse. Durante a sua apresentação, trouxe exemplos concretos de como a IA está a transformar a sociedade, como a criação de tutores personalizados para explicar disciplinas como geometria, combinando elementos visuais e voz humana. “Com isso, consegue-se ter um explicador ou tutor personalizado para as crianças, com paciência infinita e conhecimento sobre a matéria”, explicou.
Dimas também mencionou a criação de “Daisy”, uma personagem fictícia, representando uma idosa, desenvolvida para enganar burlões telefónicos, mantendo-os ocupados em conversas de 40 minutos de duração.
O especialista sublinhou o avanço dos modelos de IA generativa, treinados com triliões de dados, que hoje dificultam que se distingam humanos de máquinas. Contudo, chamou a atenção para as limitações da tecnologia atual, que ainda depende de feedback humano para corrigir erros e vieses. “Os modelos atuais ainda carecem de feedback humano para serem corrigidos”, salientou. Para ilustrar, partilhou um exemplo prático: ao introduzir o prompt “um homem está para CEO como uma mulher está para…” no ChatGPT, a resposta foi “secretária”. Este viés nos dados demonstra que há muito trabalho pela frente para evitar este tipo de preconceitos.
Além disso, Dimas revelou um episódio curioso em que a IA replicou uma resposta errada de um vídeo viral de “Os Ídolos”. Ao ser questionada sobre “há quantos anos são irmãos”, a IA forneceu a mesma resposta hilariante e incorreta dada por uma participante do programa, evidenciando as falhas nas informações retiradas da internet.
Apesar destas limitações, Paulo Dimas desvalorizou alarmismos sobre a extinção da espécie humana devido à IA. “Isso é um alarme que nos distrai do essencial. E o essencial é salvar vidas humanas, descobrir medicamentos, e a IA dará um contributo relevante”, afirmou. Contudo, alertou para os riscos associados à persuasão de modelos mais avançados sobre outros menos sofisticados. “O risco é significativo, mas não é o risco da extinção da espécie”, reforçou.
Dimas também apontou as transformações que a IA trará ao mercado de trabalho. “Oitenta por cento das profissões vão ser impactadas pela IA generativa”, afirmou, prevendo o desaparecimento de funções e profissões como o telemarketing, enquanto outras, como juiz ou advogado, terão de se adaptar. Para Paulo Dimas, a IA vai ter também um impacto no crescimento do PIB.
Outro tema central focado foi o da IA responsável. Num relato pessoal, Dimas revelou que usou o ChatGPT para interpretar o relatório de uma ressonância magnética que fez devido a tonturas e dores de cabeça. “Como o ChatGPT respondeu que não tinha razões para me preocupar, não voltei ao médico”, contou, questionando até que ponto se pode confiar nos modelos de IA. Para ele, três pilares fundamentais devem guiar o desenvolvimento da IA: confiança, equidade e energia. “Teremos de ter uma IA que abranja uma dimensão cultural, sem ideias preconcebidas, de género e étnicas, entre outras, para que não haja distorções”, acentuou. Acrescentou ainda que o aumento da exigência energética da IA já levou alguns países a reativar centrais nucleares.
Dimas concluiu com exemplos de inovação em Portugal, como a startup Sword Health, que desenvolve soluções de fisioterapia e é a segunda maior no mercado dos EUA, mas enfrenta dificuldades para se estabelecer em Portugal. Apontou também avanços no uso da IA para aumentar a eficiência hospitalar e restaurar a capacidade de fala em pessoas que perderam a voz, sublinhando a importância destas inovações para a saúde e a identidade pessoal.
“Estamos apenas no início de perceber e aproveitar o poder transformador da inteligência artificial”, concluiu Paulo Dimas, apelando a uma abordagem colaborativa e estratégica para enfrentar os desafios e explorar as imensas potencialidades desta tecnologia.