Mal desembarcamos na estação de Akihabara, entramos num mundo diferente. As ruas enchem-se das luzes e das cores dos letreiros dos vários salões de jogos, lojas de manga (banda desenhada japonesa), de anime (desenhos animados japoneses) e de miniaturas de figuras e outros adereços. Por entre os grupos de jovens com farda da escola ou t-shirt e calças de ganga, surgem os cosplayers, vestidos, maquilhados e penteados como se fossem uma personagem de anime. Não se intimidam com os olhares indiscretos e caminham pelas ruas com máscaras, perucas e cara pintada, como se tal fosse a coisa mais natural.
Estamos no coração de uma subcultura icónica do Japão: o otaku. O termo surgiu com o aparecimento de uma nova tribo na sociedade japonesa na década de 1980. Os jovens menos populares na escola refugiavam-se nos clubes de manga e anime, criando um culto em torno das personagens e narrativas. Ser otaku era uma forma de escapar à dura realidade lá fora e, por isso, a manga e o anime adquiriram uma popularidade generalizada e ultrapassaram as fronteiras da adolescência. Na década de 1990, esta subcultura explodiu com o acesso à Internet, tornando-se um autêntico movimento à escala global. O mercado de manga está actualmente avaliado em 2 mil milhões de euros e o mercado do anime em 16 mil milhões de euros. A popular convenção de manga de Tóquio Comiket recebeu no seu ano inaugural 600 visitantes, hoje recebe mais de meio milhão.
Cultura de milhões
Inicialmente conotados negativamente como anti-sociais e algo estranhos, os membros da cultura otaku vivem de forma quase obsessiva as personagens e as narrativas, e coleccionam todo o tipo de itens relacionados com a sua paixão. Ao típico “nerd”, especialista no tema ao qual se dedica, o otaku acrescenta uma dose de criatividade e interação. Muitos cosplayers fabricam os seus próprios adereços, estudando a maquilhagem e o penteado para imitarem as personagens que os movem. Nas lojas de manga existem corredores inteiros dedicados às histórias dos fãs, que criam finais alternativos e autênticas sequelas, paralelas à história original. Nos salões de videojogos, os jogadores podem viver as personagens na primeira pessoa. Orientado para a acção, altamente imaginativo e cada vez mais social, os otakus tornaram-se populares, e é aqui, no bairro de Akihabara, que se encontra o epicentro deste movimento e alguns dos locais ideais para conhecer esta cultura fascinante que para muitos se tornou um modo de vida.