Antes de chegarem às mãos dos condutores, os automóveis passam por testes intensivos. A marca espanhola Seat, integrada no Grupo Volkswagen, revela agora que os próprios engenheiros e técnicos que estão ligados à criação das últimas novidades automóveis também têm de se sujeitar a alguns ensaios clínicos para garantir que estão à altura da exigência.
Em Martorell, arredores de Barcelona, onde a Seat tem o seu Centro Técnico, o fabricante conta com um inovador centro equipado com câmaras climáticas. Significa isso que não é necessário deixar o “laboratório” para passar do calor mais extremo às temperaturas que congelam a água em milésimos de segundo.
A -40 graus…
Para testar como reage o motor eletrificado do Seat Leon e-Hybrid, a primeira coisa que Vicente Sancho, engenheiro do Centro de Motores da Seat, faz é vestir um casaco térmico, botas de montanha, luvas e um gorro de lã. Não é para menos.
Entrar numa sala a -40º de temperatura assim o requer. “Queremos comprovar em quanto tempo um motor elétrico ou híbrido é capaz de descongelar um para-brisas completamente coberto de gelo”, comenta Vicente Sancho.
Casacos térmicos, botas de montanha, luvas e óculos que protegem dos raios ultravioleta: o equipamento essencial dos engenheiros nas salas climáticas.
Primeiro, o automóvel esteve a aclimatizar dentro da câmara durante cerca de 10 horas. Posteriormente, pulverizaram-no com água, que acabou transformada em gelo. Vicente entra no veículo, liga a climatização e, antes de 20 minutos, a capa de gelo do para-brisas que impedia a visão desaparece.
Além destes testes, a equipa do Centro de Motores controla que todos os componentes funcionam perfeitamente a essa temperatura e que, mesmo viajando para a Antártida, o veículo manterá o seu desempenho a 100%.
… e a +60º
Na sala adjacente, a temperatura muda drasticamente. Os ventiladores gigantes aquecem a cabine a +60º e os painéis de luz geram a mesma intensidade que encontraríamos sob o sol do deserto. Aqui o guarda-roupa muda e o mais importante é proteger os olhos com óculos de alta proteção. “Este tipo de testes é necessário para verificar a resistência de todos os componentes ao calor extremo. Não é necessário viver no meio do deserto para um automóvel suportar temperaturas acima dos 50º. Também é importante verificar a capacidade de resistência aos raios ultravioleta gerados pelo sol, garantindo assim a qualidade tanto nas tintas como noutros elementos”, afirma Vicente Sancho.
5.000 metros de altura
Os testes de altura também são fundamentais. “Alguns condutores podem não considerar chegar aos 5.000 metros com os seus veículos, mas em países como o México, onde a Seat tem uma grande presença, é essencial”, segundo Vicente Sancho. Nesta ocasião, a equipa que testa os automóveis a esta altitude teve de passar por uma verificação médica especial para poder aceder ao recinto e conduzir o veículo durante horas, mas só pode entrar se não ultrapassar os 3.000 metros.
E o que acontece quando se tem que fazer testes a um nível mais alto? É aqui que entra a tecnologia. Um robot assume o lugar dos engenheiros. Através de um simulador fora da sala, o robot recebe as ordens e leva o veículo para o topo do Mont Blanc sem contratempos. Mais uma vez, tudo sem sair de Martorell.
14.300 motores por ano
Além das salas climáticas, este centro de testes tem nove bancos multi-energia que permitem testar qualquer tipo de motor, desde a fase de desenvolvimento até à sua homologação. Para isso, operam 24 horas por dia e realizam mais de 14.000 testes de motor por ano com foco na eletrificação. “As novas instalações dos motores e a grande capacidade técnica do equipamento permitem testar e calibrar os novos motores para garantir um desempenho ótimo com especial enfoque nos motores híbridos e elétricos”, conclui o Werner Tietz, vice-presidente de I+D da Seat.