O plano do presidente norte-americano Joe Biden de acelerar as vendas de carros elétricos, híbridos e a hidrogénio nos Estados Unidos para 50% de todas as aquisições de veículos novos até 2030 poderia incluir incentivos mais generosos a entregar aos consumidores de até 12.500 dólares, cerca de 10.500 euros.
Contudo, os modelos feitos pela Tesla, o maior construtor de automóveis movidos a bateria, poderão não vir a qualificar-se para esse valor máximo, já que as suas instalações de montagem localizadas nos Estados Unidos não utilizam mão de obra sindicalizada.
Numa reunião na Casa Branca, esta quinta-feira, Biden foi apresentado por um representante do poderoso sindicato United Auto Workers (UAW), e acompanhado pela CEO e presidente da General Motors, Mary Barra, pelo CEO da Ford Jim Farley e pelo COO da Stellantis, Mark Stewart.
Todas estas três empresas, os chamados “Big Three”, contam com funcionários do UAW. A Tesla, o quarto maior construtor dos EUA em volume de vendas – mas que não tem representação do UAW para os seus trabalhadores – esteve ausente do evento, o que motivou um comentário do próprio Elon Musk que, no twitter, referiu que “parece estranho que a Tesla não tenha sido convidada”.
Yeah, seems odd that Tesla wasn’t invited
— Elon Musk (@elonmusk) August 5, 2021
Durante o briefing, Biden centrou-se numa proposta de dois senadores democratas, Ron Wyden (do Oregon) e Debbie Stabenow (do Michigan), que passaria por alargar os 7.500 dólares (cerca de 6.300 euros) em créditos fiscais federais que foram decretados há mais de uma década (e que já terminaram para compradores de veículos GM e Tesla), adicionando-lhes outros incentivos para veículos produzidos nos EUA e por trabalhadores sindicalizados.
Fazer com que as vendas de veículos elétricos cresçam “significa alocar incentivos para que os consumidores optem por veículos limpos, feitos por sindicatos, aqui na América”, disse Biden.
O presidente pretende que o Congresso aprove a proposta de Stabenow e Wyden que fornece “um crédito básico de 7.500 dólares, um crédito de 2.500 dólares (2100 euros) para veículos feitos em solo americano e um crédito adicional de outros 2.500 dólares (2100 euros) para veículos feitos por trabalhadores sindicalizados”.
A soma desses benefícios potenciais extra para os compradores também seria uma grande ajuda para as marcas dos Grupos GM, Ford e Stellantis (em concreto para as americanas Chrysler, Jeep e Dodge), já que estes três gigantes norte-americanos se preparam para expandir de forma significativa as suas gamas de modelos movidos a bateria, os chamados BEV.
Ao crédito base de 7.500 dólares, somar-se-ia um bónus de 2.500 dólares para veículos “Made in USA” e outros 2.500 dólares para carros feitos por trabalhadores sindicalizados.
Mesmo que o “incentivo sindicalizado” acabe por não ser transformado em letra de lei, qualquer expansão do apoio federal para as vendas de veículos elétricos, combinado com o plano do governo de construir 500 mil novas estações públicas de recarregamento de veículos elétricos em todo o país, poderia aumentar incrivelmente a procura pelos 100% elétricos.
Fazer a mudança do mercado, ainda enraízado no petróleo, nos próximos nove anos não será fácil, mesmo com incentivos e mais postos de carregamento. Até agora, em 2021, os veículos elétricos a bateria representaram apenas 2,2% das vendas de veículos novos nos EUA, estimam os analistas da Edmunds. Mesmo sendo uma cifra superior aos 1,4% de quota do primeiro semestre de 2020, não deixa ainda de ser um valor minoritário.
A “Lei de Energia Limpa para a América” (“Clean Energy For America Bill”) que está em tramitação no Senado oferece incentivos apenas para veículos elétricos cujo preço de venda seja inferior a 80.000 dólares (67.700 euros) e serão disponibilizados até que seja alcançada uma taxa de penetração de mercado de 50%.
Se forem aprovados, os mais acessíveis Model 3 e o Model Y da Tesla, e potencialmente a sua pickup Cybertruck, qualificar-se-iam para os bónus estatais de até 10.000 dólares (cerca de 8400 euros). Todavia, os mais dispendiosos Model S e X ficaram excluídos.
O crossover Mach-E da Ford é atualmente construído no México, embora a empresa planeie produzir a sua esperada pickup elétrica F-150 Lightning no Rouge Electric Vehicle Center. A GM constrói o elétrico Bolt na sua fábrica de Orion, Michigan, e está a preparar-se para expandir a produção de futuros modelos EV na sua Factory Zero em Hamtramck, Michigan, e em Spring Hill, Tennessee.
Musk em rota de colisão com sindicatos
Para a Tesla não ficar totalmente de fora deste articulado que a Casa Branca está a desenhar, o sindicato UAW terá de conseguir convencer funcionários suficientes na fábrica da Tesla em Fremont, Califórnia, a qual, curiosamente, foi uma unidade fabril associada aos sindicatos durante décadas nas suas encarnações anteriores como fábrica da GM e depois como fábrica da joint venture entre Toyota e GM.
Aliás, Musk, o patrão da Tesla, também se opôs à sindicalização da fábrica. Em março, o National Labor Relations Board (NLRB), agência federal independente destinada a proteger os direitos dos trabalhadores do setor privado, decidiu que o empresário bilionário violou o código de trabalho dos Estados Unidos ao despedir um funcionário da fábrica de Fremont que defendia o UAW e por um tweet no sentido de desencorajar os trabalhadores de se filiarem no sindicato.
“Nada impede a equipa da Tesla na nossa fábrica de votar no sindicato. Poderia fazer isso amanhã se quisessem. Mas por que pagar taxas sindicais e desistir de opções de ações por nada? ”, escreveu Musk no Twitter.
Nothing stopping Tesla team at our car plant from voting union. Could do so tmrw if they wanted. But why pay union dues & give up stock options for nothing? Our safety record is 2X better than when plant was UAW & everybody already gets healthcare.
— Elon Musk (@elonmusk) May 21, 2018
“Os nossos registos de segurança [no trabalho] são duas vezes melhores do que quando a fábrica estava no UAW e todos têm cuidados de saúde”, acrescentou o responsável da Tesla.
Mediante isto, o NLRB também ordenou que Musk excluísse o tweet. O homem forte da Tesla ainda não atendeu ao pedido e apelou da decisão.
Pouco antes do início do briefing de Biden, na Casa Branca, Musk partilhou a sua opinião sobre o facto de não ter sido incluído no evento com os restantes fabricantes com um meme a dizer: “Não estou a afirmar que é sabotagem. Mas é sabotagem”.
— Elon Musk (@elonmusk) August 5, 2021