O realizador português António-Pedro Vasconcelos, autor de filmes como “O Lugar do Morto” e “Os Imortais”, morreu em Lisboa, os 84 anos, revelou a família em comunicado. Estava internado no Hospital da Cruz Vermelha em Lisboa.
“A família de António-Pedro Vasconcelos informa que o nosso A-PV partiu esta noite, a poucos dias de completar 85 anos de uma vida maravilhosa”, pode ler-se no comunicado divulgado hoje.
Realizador, produtor, crítico, e professor, António-Pedro Vasconcelos estudou Direito na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, e Filmografia na Universidade de Sorbonne, cursos que nunca terminou.
Responsável por alguns dos maiores sucessos comerciais nas salas portuguesas, é um dos nomes incontornáveis no Cinema Português.
O site da Academia de Cinema Português lembra que os seus primeiros filmes, “Perdido por Cem”(1973) (produzido pelo Centro Português de Cinema) e “Oxalá”(1980), foram fortemente influenciados pela Nouvelle Vague.
Os seguintes, “O Lugar do Morto”(1984) e “Jaime”(1999), foram um grande êxito junto do público.
António-Pedro Vasconcelos realizou séries documentais e de ficção para a televisão, como foi o caso da co-produção luso-francesa “Aqui d’El Rei”(1992). Em 2015, foi vencedor dos Prémios Sophia para Melhor Filme e Melhor Realizador com “Os Gatos Não Têm Vertigens”. Mais recentemente realizou “Amor Impossível” (2015) que lhe valeu o Sophia de Melhor Filme e “Parque Mayer” (2017), tendo-lhe sido atribuído o Sophia de Melhor Realizador.
A par da realização foi produtor de cinema, tendo sido um dos fundadores da V.O. Filmes, Opus Filmes e da cooperativa Centro Português de Cinema, que produziu a maior parte dos filmes do Cinema Novo Português. Foi ainda professor na Escola de Cinema do Conservatório Nacional e coordenador da licenciatura em Cinema, Televisão e Cinema Publicitário da Universidade Moderna de Lisboa.
Foi apresentador do programa Cineclube, na RTP2; fez crítica literária e cinematográfica, tendo chefiado a redação de O Cinéfilo (suplemento de cinema de O Século), com João César Monteiro, e sendo diretor Fernando Lopes; foi colunista da Visão e director de A Semana, suplemento do Independente. É autor de Serviço Público, Interesses Privados, de 2002.
Foi provedor do leitor no desportivo Record; em 1985 representou Portugal no Fórum Cultural de Budapeste, a convite do Ministro dos Negócios Estrangeiros; presidiu ao Grupo de Trabalho do Livro Verde para a Política do Cinema e Audiovisual, dirigido pela Comissão Europeia, e presidiu à Associação Portuguesa de Realizadores, de 1978 a 1984, ao Secretariado Nacional do Audiovisual, de 1991 a 1993, e ao Conselho de Opinião da RTP, entre 1996 e 2003.
Foi professor da Escola de Cinema do Conservatório Nacional e coordenador executivo da licenciatura em Cinema, Televisão e Cinema Publicitário da Universidade Moderna de Lisboa.
António-Pedro Vasconcelos, que era adepto do Benfica, frequentemente expressava as suas opiniões sobre o clube da Luz.
Um dos campos de intervenção foi a Associação Peço a Palavra, que se bateu publicamente contra a privatização da TAP.
“Hoje, mais do que nunca, temos a certeza que o nosso A-PV, que tanto lutou para que todos fôssemos mais justos, mais corretos, mais conscientes, sempre tão sérios e dignos como ele, será sempre um Imortal”, escreveu a família em comunicado.
João Soares foi dos primeiros a partilhar uma nota de pesar pelo desaparecimento de António-Pedro Vasconcelos, no Facebook: “Recebo com grande tristeza a notícia da morte de António-Pedro Vasconcelos. Admirava-o muito como cineasta, a obra que nos deixa é notável. Também como cidadão cujas opiniões respeitava, e muitas vezes seguia. Um homem de esquerda, desde quase sempre próximo do PS. Teve um papel muito importante na campanha presidencial do meu pai em 1986. Foi amigo e apoiante sem falhas de Mário Soares, sempre”.
A RTP dedicou-lhe um documentário quando o realizador tinha 80 anos de idade.
com Lusa