O filme “Mal Viver”, de João Canijo, é o candidato de Portugal a uma nomeação para os Óscares de 2024, revelou hoje a Academia Portuguesa de Cinema.
“Mal Viver” foi o mais votado pelos membros da academia, entre quatro que estavam a votos: o díptico “Mal Viver” e “Viver Mal”, ambos de Canijo, “Légua”, de Filipa Reis e João Miller Guerra, e “Nayola”, longa-metragem de animação de José Miguel Ribeiro.
O filme “Mal Viver” é, assim, o candidato de Portugal a uma nomeação ao Óscar de Melhor Filme Internacional da 96.ª edição dos prémios norte-americanos de cinema.
Produzido e distribuído pela Midas Filmes, “Mal Viver” e “Viver Mal” são duas ficções que se interligam, tendo como cenário um hotel gerido por uma família.
trailer | MAL VIVER & VIVER MAL, 2 filmes de João Canijo from Midas Filmes on Vimeo.
As filmagens aconteceram em 2021, durante a pandemia, no Hotel Parque do Rio, em Ofir, Esposende.
“‘Viver Mal’ é um espelho do filme ‘Mal Viver’. Num espelho a imagem reflectida é invertida, neste filme a imagem mostra o que só pode ser imaginado no outro filme: os clientes do Hotel que são só sombras e vultos fugazes, em aparições muito fragmentadas, no primeiro filme, passam a ser os protagonistas. E a família do Hotel, protagonista do outro filme, passa a ser sombra e vulto fugaz, em aparições fragmentadas, que perturbam a narrativa das histórias dos clientes neste”, salienta a produtora Midas Filmes.
Os dois filmes estrearam-se no festival de Berlim: “Mal Viver” na competição oficial acabou mesmo por vencer o Urso de Prata do Prémio do Júri, e “Viver Mal”, exibido na secção “Encounters”.
Em maio, aquando da estreia nacional, João Canijo resumia assim à TSF o enquadramento dos seus dois filmes: “O ‘Mal Viver’ é um filme sobre como a ansiedade da responsabilidade de ser mãe, pode impedir de ser mãe carinhosamente; o ‘Viver Mal’ (inspirado nas peças de August Strindberg) é como as mães são absolutamente terríveis”.

“Mal Viver” “é a história de uma família de várias mulheres de diferentes gerações, que arrastam uma vida dilacerada pelo ressentimento e o rancor, que a chegada inesperada de uma neta vem abalar, no tempo de um fim de semana”, lê-se na sinopse.
Tudo se passa num hotel familiar junto à costa norte de Portugal, onde vivem várias mulheres da mesma família de gerações diferentes.
“Numa relação envenenada pela amargura tentam sobreviver no hotel em decadência. A chegada inesperada de uma neta a este espaço claustrofóbico provoca perturbação e o avivar de ódios latentes e rancores acumulados”, reforça a sinopse.
“O filme parte da ideia de como as mães determinam a desgraça das filhas, que por sua vez vão determinar a desgraça das netas. É um filme sobre a ansiedade de ser mãe e como isso provoca incapacidade de amor incondicional”, explica a produtora.
“Mal Viver” venceu o Urso de Prata – Prémio do Júri na Berlinale.
São “três gerações de mulheres vítimas da ansiedade das suas mães: a ansiedade de uma avó tornou-a incapaz de ser mãe de uma filha que foi incapaz de ser mãe da sua neta. As atrizes não se transformam, adaptam-se à situação e circunstâncias das personagens, mas nunca deixam de ser a mesma pessoa. O argumento foi desenvolvido durante dois anos de discussões e ensaios com as atrizes pela necessidade de conseguir a verdade de cada uma”, complementa a Medeia Filmes.

“Viver Mal” segue em paralelo àquela história, focando-se nos hóspedes que passam pelo mesmo hotel, no mesmo fim-de-semana.
Tudo irá girar à volta de três núcleos familiares: um homem (Jaime) vive dividido entre a atenção a dar à sua mulher (Camila) e o espaço que ocupa a sua mãe no meio deles. Uma mãe (Elisa) promove o casamento da filha (Graça) para facilitar a sua relação amorosa com o genro (Alex). Outra mãe (Judite), controladora, quer passar tempo com a filha (Júlia) que traz consigo a namorada, impedindo-a de tomar as suas próprias decisões.
O elenco, predominantemente feminino, conta com Rita Blanco, Anabela Moreira, Madalena Almeida, Cleia Almeida, Vera Barreto, Filipa Areosa, Leonor Silveira, Lia Carvalho, Beatriz Batarda, Leonor Vasconcelos e Carolina Amaral, e ainda Nuno Lopes e Rafael Morais.
No díptico de João Canijo, o escolhido pela Academia Portuguesa de Cinema para tentar uma nomeação para os Óscares foi “Mal Viver”.
Nos cinemas portugueses, “Mal Viver” somou 16.457 espectadores. Para outubro está prevista a estreia dos dois filmes em França.
Nos Óscares, Portugal nunca teve um filme nomeado na categoria de Melhor Filme Internacional, anteriormente conhecida como Melhor Filme Estrangeiro, em língua não-inglesa.
Este ano, o filme “Ice Merchants”, do realizador português João Gonzalez, esteve nomeado na categoria de Melhor Curta-Metragem de Animação.
Os nomeados para a 96.ª edição dos Óscares, os prémios de cinema dos Estados Unidos, são divulgados a 23 de janeiro de 2024 e a cerimónia está marcada para 10 de março, em Los Angeles, Califórnia.
* com Lusa