Durante o evento de apresentação dos dois primeiros livros da série Knockemout, traduzidos para português e publicados pela editora Marcador, Lucy Score afirmou ter encontrado a profissão para a qual nasceu no momento em que começou a passar para o papel as histórias e personagens que tinha na cabeça. Mas até lá chegar passou por uma fase de tentativa e erro, entre áreas como o jornalismo, yoga, marketing e atendimento ao público.
Hoje é uma das autoras que mais dá que falar entre o universo do booktok e booktube, que, para os mais distraídos, são os grupos de leitores que partilham as suas dicas e opiniões sobre livros nas redes sociais TikTok e Youtube. Uma pesquisa rápida na primeira rede social é suficiente para explicar o impacto: A hashtag com o nome da autora conta com mais de 141 milhões de visualizações no TikTok.

Foi em 2021 que a indústria começou a notar esta tendência nas redes sociais. Entretanto, Colleen Hoover transformou-se num dos principais rostos deste impacto, ao tornar-se uma das principais best sellers em vários países.
Segundo a página no website “Goodreads” de Lucy Score, a autora norte-americana começou a publicar as suas histórias em 2015, o que a coloca como profissional nesta indústria já na época das redes sociais. Livros como “Rock Bottom Girl” ou “By a Thread” são presença frequente nos vídeos de criadores de conteúdo, mas foi com o lançamento de “Things We Never Got Over” (traduzido para português como “Coisas que Nunca Superámos”) que tudo mudou.
“Nesta série, juntei todas as minhas tropes favoritas: enemies to lovers, grumpy sunshine, forced proximity e algum suspense romântico. Juntei tudo em três livros”, diz Lucy à FORBES.
Em Portugal, dois dos seus livros estão traduzidos, mas a editora garante que o terceiro e último livro da série Knockemout será publicado em português no início do próximo ano.
“Temos andado a viajar pela Europa nas últimas três semanas. É divertido ver as cidades, mas ver os leitores em cada cidade tem sido muito divertido”, acrescenta.
Como é que se sente quando um dos seus livros é traduzido para outro idioma?
Isto é um sonho tornado realidade. Até há dois anos, ter os meus livros numa prateleira algures ainda era um sonho e agora saber que estão em Portugal e em todo o lado. É muito entusiasmante. Os meus leitores no Facebook têm uma coisa chamada “Lucy in the wild”. Quando veem um dos meus livros algures, publicam uma fotografia e dizem onde está. Estão por todo o lado, é tão emocionante.

De que forma é que as redes sociais mudaram a indústria?
Acho que as redes sociais provocaram uma grande mudança, especialmente para os autores. Enquanto crescia e era obcecada por um autor, não podia falar diretamente com ele. Mandava uma carta ou um e-mail para a editora ou algo do género. Mas com as redes sociais os leitores podem interagir diariamente com os seus autores preferidos. Penso que cria uma ligação muito especial, em que temos de facto uma relação.
E qual foi o impacto das redes sociais na sua carreira?
O TikTok levou este livro, especialmente o primeiro, a um nível completamente novo que eu nunca teria alcançado sozinha. E não fui eu que estive no TikTok a criar conteúdos, foram os leitores que leram o livro e disseram a toda a gente o quanto o adoraram. Foi muito emocionante para mim testemunhar isso. Vimo-lo com os livros de Colleen Hoover, vimo-lo com vários autores, e fazer parte disso dá-me literalmente arrepios. Estou muito entusiasmada e honrada.
Este impacto nas redes sociais mudou a forma como os autores escrevem? Pensam na forma como as histórias serão recebidas nas redes?
Penso que alguns autores o fazem, penso que alguns autores são muito inteligentes e têm uma visão de negócio. Quando escrevem dessa forma estão cientes do mercado, estão cientes de quem vai pegar nos livros e do que podem dizer sobre eles. Quem me dera ser um pouco mais assim, eu apenas me sento e escrevo a história que quero ler, e essa não vai ser necessariamente a história mais popular para toda a gente. Vejo alguma reação a isso, mas acho que isso é parte do que torna a Knockemout tão especial. É que as pessoas gostaram mesmo muito, e depois houve algumas que não gostaram muito. Penso que, para que algo tenha tanto sucesso, é preciso criar essa tensão.
E a pressão é maior?
A minha carreira sempre teve as redes sociais. Posso imaginar que seria muito mais difícil para um autor que começou mais cedo, alguém que tenha começado antes do Instagram, do TikTok ou do Facebook. Mas acho que a pressão agora é: Sempre que há uma nova rede social, quero aprender a usá-la? Será que quero ter uma presença nela? Neste momento, a resposta é geralmente não. Tenho uma conta no TikTok, mas não sei muito bem como criar vídeos e conteúdos. Quando vejo o conteúdo do booktok, eles são tão criativos e tão bons a contar pequenos fragmentos de histórias num período de tempo tão curto, e depois vemos os meus livros e são tijolos gigantes. Para mim, as redes sociais são para desfrutar e não para criar.

As reviews têm impacto em si?
Na verdade, tento não ler. Obviamente que é impossível, mais tarde ou mais cedo alguém vai partilhar alguma coisa e vou ver. Tento não olhar para as críticas boas ou más. A minha equipa envia-me, por vezes, críticas que encontraram e que são ótimas, mas é inevitável que me depare com alguém que diz “deixe-me dizer-lhe todas as razões pelas quais odeio tanto este livro”. Penso que muitos autores são como eu, são pessoas sensíveis, por isso quanto mais conseguir limitar a exposição direta a qualquer negatividade, melhor serei a escrever comédias românticas.
Qual foi o primeiro livro que a fez perceber que as coisas estavam a mudar para os autores com o digital?
Para mim foi, sem dúvida, “Coisas que Nunca Superámos”. Já andava a seguir o TikTok antes disso e a ver outros autores e as suas listas de livros a serem elevados pelo TikTok. Nunca pensei que isso fosse acontecer comigo, porque escrevo heroínas e heróis que são um pouco mais velhos, estão na casa dos 30, início dos 40, e historicamente o TikTok tem um público bastante jovem. Quando descobriram “Coisas que Nunca Superámos” e quando se viram no Knox e na Naomi, fiquei muito entusiasmada. Encontrei toda uma nova geração de leitores que gostavam do que eu estava a fazer.
Consegue identificar alguns dos criadores que alavancaram os livros logo ao início?
Mantemos uma lista com os nomes deles, para lhes podermos enviar pequenos agradecimentos. Não precisavam de o fazer, foi algo que aconteceu quando pegaram no livro e se apaixonaram por ele e depois falaram dele às pessoas, o que foi fantástico. Tive a oportunidade de conhecer alguns deles pessoalmente e é muito entusiasmante. Como estávamos a falar antes, já existe uma relação por causa dos livros e das redes sociais. É como se estivéssemos finalmente a conhecer um amigo pessoalmente pela primeira vez.