Um surfista sonha em surfar ondas grandes quando começa na modalidade, ou torna-se um desejo ao longo da carreira?
Torna-se um desejo ao longo da carreira, é uma espécie de passo a passo. Apaixonamo-nos pelo desporto, por estar no mar, e depois começamos a apanhar ondas maiores e a sentir mais emoção. E depois só queremos continuar assim até apanharmos ondas realmente grandes.
Que características são essenciais num surfista de ondas grandes?
Eu diria que é importante ser um bom surfista, ter uma boa técnica e treinar. Quando se entra em ondas grandes, o oceano é mais poderoso, por isso é importante ter um corpo mais forte. Surf técnico, desejo de surfar ondas grandes e mais treino físico, diria eu. E fazer treino de apneia também, com pessoas a olhar, é muito importante fazê-lo com um professor.
Como é que te preparas para uma situação tão extrema?
Muito treino na água, na prancha, com a equipa, muito treino no ginásio para a parte do treino físico. Conhecer o meu material, ter uma boa comunicação com a equipa, definir os meus objetivos.
A nível mental, como tem sido o processo de preparação ao longo dos anos?
Tenho uma pessoa que me acompanha já há alguns anos, antes de eu surfar ondas grandes na Nazaré. Ela é espetacular, ajuda-me a fazer boas escolhas, está aqui para me ajudar a equilibrar a minha vida e a minha cabeça, e a tomar as decisões certas. Diria que é a coisa mais importante em que estamos a trabalhar. E ir passo a passo também é muito importante.
O que é que sentes quando estás prestes a surfar uma onda grande?
Sinto-me viva, sinto muitas emoções. Todas as emoções. É muito intenso. Quando estou demasiado stressada com o dia, isso significa que talvez me tenha escapado alguma coisa a nível de preparação, e se estou demasiado relaxada talvez não esteja suficientemente concentrada. Só preciso de encontrar o ritmo certo. Estar um pouco stressada, mas não demasiado, estar suficientemente concentrada no meu surf para apanhar boas ondas.
Como descreves a Nazaré?
Eu descrevo a Nazaré como o lugar onde se pode realmente aprender sobre si próprio, porque na Nazaré não há limites. Tornamo-nos nos nossos próprios limites. É um sítio louco, onde estão as maiores ondas do mundo. É uma arena, é tão intenso. E pode ser muito bonita quando não há ondas e o tempo está ensolarado. É um sítio fantástico
A Nazaré agora é a tua casa. O que é que a Nazaré tem que nenhum outro sítio tem?
Eu diria que a Nazaré é uma vila, mas não é pequena nem demasiado grande, tem o tamanho certo. Há muita natureza à volta. Estou sempre muito perto das ondas, não é demasiado remoto. A falésia é fantástica porque se pode ver o espetáculo e pode-se surfar a partir da praia. É um pouco mais quente do que o sudoeste de França, de onde somos. As pessoas são simpáticas.
Há espaço para marcas e organizações fazerem mais no surf de ondas grandes?
O desporto precisa de ser ainda mais profissionalizado. Não há competições suficientes. Pode ser num formato diferente, como uma sessão em direto. Há tantas coisas para fazer no surf de ondas grandes e isso é muito entusiasmante, mas ao mesmo tempo é do género: ‘Ok, vá lá. Temos de fazer coisas para atrair mais marcas, para tornar o surf de ondas grandes num desporto profissional melhor. Mas não é assim tão fácil, de certeza. Relativamente às marcas, tenho muita sorte. Há muito tempo que tenho boas marcas a apoiar-me e elas acreditam realmente no meu percurso.
Qual é a tua mensagem para as mulheres atletas que podem estar a lidar com alguma pressão em relação à gravidez durante a carreira desportiva?
É muito importante fazermos o que realmente desejamos, o que queremos. E se a gravidez é um objetivo maior do que ganhar um campeonato, talvez seja uma boa altura para o fazer. O campeonato acontecerá depois do bebé, com o bebé e será uma vida ainda mais fantástica com uma família. Eu diria que as mulheres, com certeza, não precisam de esperar pelo fim da carreira para constituir família. É bom agora que temos o apoio das marcas e é possível ter o bebé durante a carreira. Pelo menos era esse o meu desejo e foi o que fiz.
Quais são os objetivos para o próximo inverno?
Estar muito forte, surfar ainda melhor do que antes, ter uma melhor preparação e estar mais em forma.
(Artigo completo na edição de abril/maio da FORBES, já nas bancas)
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