Ao longo de seis meses, o Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC) irá integrar o projeto-piloto da semana de quatro dias, tornando-se a primeira instituição de I&D, em Portugal, a associar-se à iniciativa do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social. O período experimental arranca com os colaboradores de um dos 13 centros de I&D da Instituição.
“Enquanto Instituto de Investigação e Desenvolvimento queremos ser os primeiros a aceitar este desafio e testar novas metodologias de organização do trabalho”, avança Luís Seca, administrador executivo do INESC TEC.
Não é possível “continuar a olhar para as jornadas de trabalho do mesmo modo que há 20 ou 30 anos”, refere Luís Seca.
O administrador executivo do INEC TEC refere que aos “novos desafios, impostos sobretudo pela nova geração que chega ao mercado de trabalho, temos de dar resposta, nomeadamente na sua flexibilização, procurando conciliar a satisfação profissional com a vida pessoal e familiar”.
No segundo semestre deste ano, os colaboradores do Centro de Telecomunicações e Multimédia (CTM) do INESC TEC passarão a adotar novas formas de trabalho distribuídas ao longo de quatro dias.
Luís Seca defende que a chave para o sucesso será o planeamento: “Acredito que podemos manter ou até aumentar a produtividade do trabalho se conseguirmos organizar e respeitar o tempo de outra forma, otimizando a duração das reuniões, priorizando tarefas e definindo objetivos de forma regular e clara”.
Para Luís Seca, o desafio está muito para além da redução de horário de trabalho, já que, acredita, “estamos perante uma mudança na forma como a sociedade olha para o trabalho”.
“O equilíbrio entre a vida pessoal e profissional dos colaboradores é algo em que nos queremos focar e esta é mais uma forma de o fazer”, diz Luís Seca.
O INESC TEC opera, atualmente, em regime híbrido e horário flexível, mas “achamos que podemos ir mais longe. Temos a particularidade de ter um trabalho com uma elevada componente criativa, que beneficia largamente da existência de períodos de descanso onde as pessoas possam realizar outro tipo de atividades pessoais. Acreditamos, por isso, que a semana de 4 dias terá um resultado muito positivo na nossa comunidade, levando a que consigamos aumentar a nossa capacidade de reter os nossos talentosos colaboradores”, assegura o administrador.
O “Programa-Piloto Semana de 4 dias” arranca em junho e prevê a redução do número de horas semanais dos trabalhadores, sem qualquer redução salarial ou perda de direitos.
O grupo de trabalho do programa é coordenado por Pedro Gomes, que defende que “a inovação é o motor do crescimento económico”.
“A relação entre a descoberta de novas ideias e o tempo de trabalho está longe de ser linear”, adianta, dando como exemplo que “as descobertas emblemáticas de Arquimedes ou Newton não ocorreram na secretária”, lembra Pedro Gomes.
Pedro Gomes acredita que “tal como na tecnologia, também o mundo do trabalho necessita de inovação, e para isso é preciso experimentar novas formas de trabalhar”.
Para o Secretário de Estado do Trabalho, Miguel Fontes, “este projeto-piloto resulta de um compromisso do Governo para estudar novas formas de gestão e equilíbrio dos tempos de trabalho, incluindo a ponderação de aplicabilidade de experiências como a semana de quatro dias em diferentes setores. Do lado dos trabalhadores, iremos medir os efeitos no bem-estar, qualidade de vida, saúde mental e saúde física, bem como o seu nível de compromisso com a empresa, satisfação com o trabalho e intenção de permanecer na organização. Do lado das empresas, o foco vai ser na produtividade, competitividade, custos intermédios e lucros”. Para além disso, acrescenta, “com a entrada em vigor da Agenda do Trabalho Digno, este estudo adquire uma grande importância na construção de um dos grandes pilares desta agenda: a conciliação entre a vida profissional, pessoal e familiar”.