A Worldcoin está a lançar no mercado o primeiro protocolo de identidade que permite, de forma privada e descentralizada, provar que uma pessoa é real ao usar um serviço online ou uma aplicação.
O projeto dá pelo nome de World ID e tem o objetivo de criar a maior rede financeira de preservação de privacidade do mundo e a empresa reuniu alguns jornalistas em Lisboa para lhes explicar o projeto.
A Worldcoin tem a particularidade de ter sido co-fundada em 2020 por Sam Altman, um dos gurus tech do momento, ele que é o atual CEO da OpenAI (que criou o badalado Chat GPT).
Como funciona?
O World ID verifica a singularidade de uma pessoa através do reconhecimento da íris, ao mesmo tempo que assegura a sua privacidade através de criptografia.
Um dispositivo biométrico é a peça central do sistema: o Orb, uma esfera tecnológica que, após verificar através de sensores de temperatura e leitura facial, se está perante um humano, prossegue a análise, captando a imagem dos olhos de uma pessoa, ao jeito de um “scan”, convertendo-a num código numérico único. A imagem captada é eliminada de imediato.
O código que se gera, que equivale a um bilhete de identidade ou passaporte digital intransmissível, permite iniciar sessões em websites, plataformas e aplicações sem divulgar dados pessoais, como o nome ou o email, algo que hoje não sucede quando, por exemplo, alguém faz login automático noutro site com as credenciais do seu Gmail.
Trata-se, por isso, de uma tecnologia “zero knowledge”, o que significa que, sempre que é solicitada a sua validação, o sistema verifica apenas se a informação a respeito daquela pessoa em concreto é verdadeira ou falsa. Se fizer “match” é sim. Se não fizer é não.
“Comprovar a identidade na Internet tem sido, desde a sua criação, uma missão difícil – mais de 50% da população mundial não possui uma identidade humana verificável. Na era da Inteligência Artificial, onde a linha entre o que é ou não real está cada vez mais ténue, esta prova torna-se ainda mais importante”, refere a empresa.
Onde pode vir a ser usado?
O World ID, que também neste momento, pelo menos, admite também a verificação da identidade através do número de telemóvel, poderá vir a ser usado, por exemplo, para identificar bots, votar em eleições ou combater fraude em pagamentos financeiros.
O World ID está atualmente a ser testado em sete países, entre os quais Portugal, onde existe também um centro de apoio (localizado no Porto e que vai empregar 50 pessoas). Os restantes seis países são Chile, Argentina, Espanha, Quénia, Uganda e Índia.
Portugal foi escolhido para a estreia da tecnologia no mercado europeu.
No caso português, a empresa montou espaços seus em, para já, seis locais, caso da Gare do Oriente e do Centro Comercial Ubbo, por exemplo, isto na zona da Grande Lisboa.
Nesses espaços, as equipas de operadores fazem a demonstração da tecnologia e dos dispositivos Orb. Quem aceder, instala uma App (World App), que funciona como carteira virtual, incluindo para transação das criptomoedas Ethereum, Bitcoin e Dai. Para incentivo, recebe cerca de 9 dólares em criptomoedas.
130 mil portugueses registados
Quase um ano depois de ter sido lançada em Portugal, a Worldcoin conta já com 130 mil inscrições no país – o que se traduz em quase mil novas inscrições a cada dois dias.
“Os resultados que vemos em Portugal mostram a vontade das pessoas em ter maior acesso a sistemas financeiros descentralizados e preservadores de privacidade em atividades online. A população portuguesa é bastante informada sobre como a tecnologia está a avançar e sobre a inovação que está a ocorrer na era da Inteligência Artificial – e estes números demonstram o que pode acontecer quando esta abertura se cruza com uma regulamentação clara e transparente e com fortes parcerias profissionais”, defende Pedro Trincão Marques, manager do mercado ibérico do projeto.
A empresa pretende nos próximos meses estabelecer acordos com parceiros, como empresas para ações de ativação de marca e de marketing e junto de empresas com gestão de equipas grandes, para fazer chegar a sua proposta, progressivamente, a um público maior.
“O escalar do projeto será uma questão de tempo”, na perspetiva de Tiago Sada, responsável de Produto, Engenharia e Design da Worldcoin que, respondendo a perguntas dos jornalistas por videoconferência, indica que o alcance deste identificação através da íris e subsequente criação de uma identidade digital única não será meramente restrita ao mundo digital: “Não deverá ser limitado à web 3.0 ou realidade cripto, mas também ao mundo da Web 2.0 e das aplicações mobile”.
Nesse sentido, o mundo financeiro será, de acordo com a Worldcoin, um campo em que a identificação World ID fará todo o sentido, até por uma razão simples: “Não é possível separar o mundo do dinheiro da identificação das pessoas [que o movimentam]”.