O vice-presidente executivo e Chief People Officer do grupo Inetum, Bruno Da Sola, esteve em Lisboa para tomar o pulso da filial portuguesa e conversou em exclusivo com a Forbes Portugal sobre as apostas estratégicas para continuar a crescer num mundo tecnológico marcado por inovações como a Inteligência Artificial, mas onde o fator humano mantém-se no centro das atenções, sobretudo na hora de recrutar talento. O gestor destacou a importância de Portugal no futuro da tecnológica, que está incluído na aposta de trazer novo talento, sendo que o país irá ganhar mais 400 colaboradores. Diversidade e inclusão é outro tema essencial na Inetum, sendo que Bruno Da Sola garante que tem como objetivo pessoal atingir a equidade na percentagem de mulheres nos cargos de gestão de topo. Para já, 29% dos colaboradores são mulheres, mas o objetivo é aumentar essa percentagem para 50%.
Qual a estratégia da Inetum para conquistar mercado?
A Inetum é uma empresa europeia em rápido crescimento, que está no centro da transformação digital, especialmente na revolução da IA Generativa. É um dos principais players na Europa, com 2,5 mil milhões de euros em receitas e 28 mil colaboradores em 19 países e mais de 130 localizações. Após uma década de crescimento contínuo, a Inetum registou uma aceleração significativa, assente num crescimento orgânico e por via de aquisições estratégicas: o lançamento de uma nova identidade corporativa em 2021; a chegada de um novo parceiro financeiro em 2022 – a Bain Capital Private Equity – e a nomeação de um novo Presidente e CEO, Jacques Pommeraud, em março de 2023.
Portugal está a contribuir para esta estratégia de crescimento?
Portugal é um dos quatro países estratégicos para o Grupo Inetum, juntamente com França, Espanha e Bélgica. No país, a Inetum posiciona-se entre os três maiores fornecedores de serviços de TI. As nossas principais áreas de negócio são: ‘Solutions’, com foco em SAP, Microsoft, Salesforce e ServiceNow, e ‘Tecnologies’, onde se incluem projetos de Managed Services e Infraestrutura. O nosso objetivo é também fazer crescer a área de ‘Consulting’, na qual, queremos nos posicionar como parceiro estratégico dos clientes em Portugal.
De que forma as inovações tecnológicas como IA e ChatGPT estão a ter impacto na estratégia da Inetum?
A estratégia da Inetum tem por base um crescimento sólido, com um grande foco na IA Generativa. Enquanto empresa de serviços digitais, estamos determinados em potenciar a disponibilização de ferramentas de IA Generativa aos nossos clientes, mas também às nossas equipas internas. Criámos o programa ‘Do You Speak GenAI?’, pois priorizamos o investimento em formação, e queremos todos os nossos colaboradores (os 28 mil) preparados e adaptados às novas tecnologias no trabalho, sempre a par das mais recentes disrupções tecnológicas. Este programa tem quatro percursos de formação: IA; IA Generativa; XR; e Desenvolvimento Sustentável. Um programa que tem tido um impacto muito positivo: já formámos mais de metade dos nossos colaboradores, cerca de 18.300, e desses, 11 mil são utilizadores certificados.
Quais os ganhos que têm conquistado na área dos recursos humanos com a aposta nas inovações tecnológicas?
O impacto da IA generativa nos recursos humanos vai ser enorme e transversal – vai abranger todos os cargos sem exceção, mesmo os trabalhos mais manuais. A própria equipa de RH vai ser impactada e os gestores e responsáveis por essa área vão ocupar um lugar central no apoio à mudança. A área de gestão de RH tem de ser ágil e proativa na forma como apoia os colaboradores. A IA Generativa veio automatizar tarefas repetitivas, e libertar mais tempo para a reflexão e para a inovação. Há diversas tarefas que estão a ser simplificadas pela IA, como a análise de dados, o próprio recrutamento e a gestão da relação empregador-trabalhador. Por conseguinte, é crucial formarmos os nossos colaboradores para tirarem o máximo potencial desta tecnologia, e alocar o tempo poupado a serem mais criativos e inovadores – para servirem melhor os nossos clientes e os restantes colaboradores. A IA Generativa está a revolucionar a função de RH, e as empresas que a integraram em larga escala, e com sucesso, já estão a colher benefícios consideráveis.
E quais são esses benefícios?
A estimativa de ganho de tempo na Inetum é de 30% para os recrutadores, o que significa que os recursos alocados a esse cargo terão mais tempo disponível para acrescentar valor ao processo através de uma maior interação humana. Um inquérito realizado pelo LinkedIn indica isso mesmo, 59% dos profissionais de recrutamento acreditam que a IA Generativa vai aumentar o envolvimento dos colaboradores. Nos últimos dez anos investimos significativamente em inovação tecnológica na área dos RH. Criámos, por exemplo, a nossa própria ferramenta de Chatbot, que veio facilitar as relações entre a empresa e os seus colaboradores. Também estamos a implementar outras ferramentas de IA e de IA Generativa nas práticas de recrutamento. Conseguimos a elaboração de ofertas de emprego mais consistentes com a realidade do trabalho e mais atrativas; uma melhor correspondência entre currículo e vaga e uma melhor seleção de candidatos, quer no LinkedIn, quer em outras plataformas de emprego, assim como a automatização de e-mails e mensagens para acompanhamento dos candidatos. Todos os recrutadores da Inetum estão agora 100% certificados em IA Generativa e participaram em workshops sobre casos práticos utilizando diferentes ferramentas. Também utilizamos no Grupo Inetum a solução de software líder mundial em recrutamento, SmartRecruiters. Esta implementação alinha-se com o novo propósito da Inetum de ter processos mais rápidos e simples, tornar o recrutamento mais eficiente e conseguir um maior envolvimento dos gestores no processo. A utilização do SmartRecruiters em RH é comparável à utilização do Salesforce nas funções de vendas na Inetum, reflete o nosso compromisso com a inovação e eficiência em todas as áreas da empresa.
Como podem os líderes de recursos humanos garantir uma transição bem-sucedida?
Para conseguir uma transição bem-sucedida, os líderes de RH precisam de ter foco – de ter uma visão clara do impacto da IA Generativa nos negócios e nas organizações. É essencial que percebamos quais as competências essenciais para garantirmos a contínua satisfação dos nossos clientes. Uma boa comunicação também é fundamental, pois as equipas de RH têm de garantir que a visão estratégica da empresa está alinhada e refletida em todas as iniciativas, sejam de formação, mentoria, liderança ou mudança organizacional. Precisamos de explorar novas formas de utilizar a IA nos RH, tanto para melhorar a experiência dos colaboradores e candidatos, como para antecipar as futuras necessidades da empresa. Se adotarmos uma abordagem visionária da IA aplicada aos RH, transformamos essa função num motor de crescimento e sucesso para a empresa.
Na Inetum, quais as máximas que prevalecem na estratégia de recrutamento?
A nossa estratégia de recrutamento está alinhada com o propósito de ‘criar impacto digital’ de uma forma mais rápida e simples, e que beneficie todos. Na Inetum, procuramos contratar novos colaboradores, futuros colegas que partilhem a mesma visão do impacto do digital, que sejam apaixonados pela tecnologia que faz a diferença. A nossa estratégia de recrutamento assenta em pilares como a diversidade, agilidade e inovação. Valorizamos indivíduos com um forte sentido de propósito e com o compromisso de gerar um impacto positivo. E privilegiamos as interações humanas. Temos um processo de recrutamento dinâmico e híbrido, que se adapta às necessidades de um mercado em constante mudança.
Hoje a retenção de talento não se baseia apenas em oferecer salário. Na empresa, quais as premissas para atrair e reter talento?
Os nossos colaboradores da Inetum têm acesso a percursos profissionais que lhes permitem trabalhar em diferentes setores de negócio, ocupar diferentes lugares e funções, e desenvolver diferentes capacidades e competências sociais – e em qualquer um dos 19 países em que operamos. Somos uma empresa ágil, que adotou práticas de trabalho remoto, com um grande foco na formação e no desenvolvimento profissional e na mobilidade, tanto geográfica como profissional. Este ano implementámos o ‘Dia da Solidariedade’, uma iniciativa única no setor da consultoria em TI, e que consiste na disponibilização de um dia a cada colaborador, para que apoie uma instituição de solidariedade à sua escolha. Na Inetum, importamo-nos com o impacto que podemos ter, junto dos nossos clientes ou como empresa no seu todo. A Inetum é um local de trabalho onde as pessoas podem fazer a diferença.
Diversidade e inclusão são dois pontos que têm vindo a ganhar relevância nas empresas. No vosso caso, como lidam com estes dois pilares?
Valorizamos a diversidade e a inclusão em todos os níveis da nossa organização. Isto manifesta-se tanto na nossa dedicação em criar um ambiente de trabalho acolhedor e equitativo, como num investimento significativo em formação para todos os colaboradores. Hoje, 29% dos nossos colaboradores são mulheres, mas o nosso objetivo é aumentar essa percentagem para 50%. E o meu objetivo pessoal é também atingir a equidade na percentagem de mulheres nos cargos de gestão de topo da empresa. Para o conseguir, estamos a implementar o Programa Women@Inetum, porque queremos incentivar o acesso das mulheres a cargos de liderança na empresa. Outra área é a da contratação de pessoas com deficiência, na qual, apostamos há bastante tempo. E, em 2023, atingimos uma taxa de emprego de pessoas com deficiência próxima dos 4%.
Face ao crescimento da empresa, equacionam reforçar o número de colaboradores a nível global? E em Portugal?
Em 2024, vamos integrar entre oito mil e nove mil novos talentos no grupo, desses, cerca de 400 em Portugal. Estamos constantemente à procura dos melhores talentos para satisfazer as necessidades dos nossos clientes e apoiar a sua transformação digital. O nosso caminho está assente num crescimento sustentado e numa expansão internacional, com foco nas tecnologias emergentes e na formação contínua.