Numa entrevista exclusiva à FORBES, Paddy Cosgrave, CEO da Web Summit, aborda os momentos complicados em que a Web Summit esteve quase a colapsar, em 2020, quando o evento decorreu no formato online, e o que permitiu trazer das cinzas aquele que é o maior acontecimento de Ted Talks do planeta.
Com a edição 2022 a acontecer de 1 a 4 de novembro, na Altice Arena, FIL, em Lisboa, Paddy Cosgrave antecipa quais são as principais novidades que a organização preparou para este ano.
Ucrânia, tecnologia, cibersegurança, Inteligência Artificial, start-ups de impacto são algumas das grandes tendências do momento em relação às quais a Web Summit não passará ao lado.
Esta edição da Web Summit está a bater vários recordes. O que podemos esperar para 2022?
Patrick “Paddy” Cosgrave (PC): Teremos o maior número de expositores em geral e o evento viu os seus bilhetes esgotados três semanas antes do seu começo. Nunca tinha acontecido isso anteriormente, tão depressa. São, claramente, aspetos a destacar, ainda por cima porque no início de 2021 era muito possível que a Web Summit tivesse entrado em colapso. Estamos, por isso, a voltar de uma espécie de “intervalo”, de um ponto em que a Web Summit esteve para não existir mais para o que somos neste novembro. Foi de loucos! Tivemos muita sorte.
Em 2020 foi a primeira vez desde que a Web Summit existe que houve prejuízo. Em 2021 isso também aconteceu?
PC: Ficamos praticamente no ponto de equilíbrio. Não perdemos muito dinheiro, mas também não ganhamos dinheiro. Mas este ano estamos de volta!
Enquanto empresário, como conseguiu fazer crescer a faturação da empresa desde aquele difícil 2020?
PC: Com uma equipa incrível. Em tempos difíceis – parecerá muito um cliché o que vou afirmar –, mas quando se trabalha em equipa é o calibre, a qualidade e a dedicação das pessoas à sua volta que é relevante. O que fez a diferença no nosso caso foi que, como equipa, decidimos que não desistiríamos. Decidimos lançar os dados e tentar o máximo que pudermos e fazer de tudo para trazer a Web Summit de regresso. E funcionou. Ao longo do caminho, houve muitas decisões que tomamos que acho que são muito importantes. Um caso notório disso aconteceu em 2020: quando todos os outros grandes eventos do mundo estavam a rescindir os contratos com as pessoas, dispensando 20-30 ou até 90% das suas equipas, e a reduzir salários, diminuindo as semanas de trabalho, fizemos o oposto: apostamos que se mantivéssemos a nossa equipa, porque acreditávamos no nosso talento e no facto dos elementos da nossa equipa serem muito experientes, iríamos emergir da pandemia numa posição única na indústria com uma equipa completa e pronta, sem necessidade de efetuar recontratações agora. Pensamos que a pandemia demoraria umas oito semanas, pelo que esta nossa aposta foi uma decisão louca, que, no final, contudo, demonstrou estar acertada. A aposta realmente funcionou porque a velocidade com que conseguimos sair da pandemia foi muito mais rápida, penso eu, do que a que envolveu muitos outros eventos.
Quais são as grandes novidades que foram preparadas para a Web Summit de 2022?
PC: Existem várias conferências inteiramente novas dentro da Web Summit. Temos tracks temáticas ou “mini-cimeiras” dentro da Web Summit e elas concentram-se no que achamos que são áreas importantes. Uma das coisas que eu considero muito importante é a segurança eletrónica. O mundo está a ser cada vez mais atormentado por ataques cibernéticos avançados. Tomemos a Irlanda como exemplo: todo o nosso sistema de saúde foi feito refém [em maio] no ano passado por aquilo que se acredita terem sido hackers russos que desligaram todo o sistema informático do serviço de saúde irlandês e não o ligariam novamente até que um resgate fosse pago. O sistema de saúde foi abaixo, mas o governo recusou-se a pagar qualquer resgate [os servidores foram sendo repostos ao longo dos meses e em setembro de 2021, o governo irlandês acreditava que 95% dos serviços e servidores estavam repostos, n.d.r.].
A Cibersegurança será um tema em foco, portanto…
PC: Sim. Existem também questões geopolíticas atuais relacionadas com a Ucrânia que destaco e que será compreensível que seja um foco, dado que esta será a maior representação ucraniana de todos os tempos na Web Summit. Há um grande número de startups ucranianas, políticos ucranianos muito notáveis que estarão presentes. Está previsto que eles estejam presencialmente em Lisboa, mas infelizmente a situação na Ucrânia, com a guerra, está a mudar a cada dia. Em Kiev, após meses de estabilidade, há muitos problemas. Tenho sempre dificuldade em destacar o que entendo que é mais importante na Web Summit, porque teremos a decorrer 26 tracks temáticas separadas. A Web Summit é realmente a maior conferência ted talk do mundo e há algo para todos, de todos os setores.
O que é que os participantes não podem perder? Qual seria a sua sugestão?
PC: O orador final: Noam Chomsky. A sua contribuição para a Inteligência Artificial (IA) e para a linguística das ciências cognitivas – é o pai da linguística moderna – tornam-no alguém especial. Ele tem algo muito importante a dizer sobre a Inteligência Artificial e a IA está a desempenhar um papel cada vez maior nas nossas vidas. Na minha opinião, há muitas afirmações exageradas sobre o impacto da IA. Estamos a falar de carros autónomos há uma década e penso que o progresso fala por si, acho que é realmente mínimo. Noam Chomsky tem algumas coisas sérias a dizer sobre o progresso neste domínio, as reivindicações que estão a ser feitas e as áreas que podem mostrar alguma promessa interessante nas quais talvez devêssemos focar mais a nossa atenção. Chomsky fez uma profunda contribuição para o mundo e tendo ele agora 93 anos de idade [fará 94 anos a 7 de dezembro, n.d.r.] , estou ansioso para ouvir os seus pensamentos sobre a Inteligência Artificial e o setor de tecnologia de forma mais ampla.
Em relação às startups presentes na Web Summit qual será a tendência marcante deste ano?
PC: As startups de impacto são imensas. Teremos o maior número de start-ups portuguesas, um grande contingente das quais são, precisamente, start-ups de impacto, com um foco amplo em sustentabilidade e impacto social também. São start-ups que estão a fazer coisas muito interessantes e estou expectante para ouvir algumas delas no palco. Estou igualmente ansioso para ver o local do evento, já que o local será esticado ao seu limite absoluto em termos de capacidade – estamos a construir 22.500 metros quadrados de estruturas temporárias para lidar com o enorme volume de pessoas que esperamos, pelo que mal posso esperar para ver tudo isto.
E quanto ao seu discurso, o que é que vai dizer ao público?
PC: Terá de vir e ver! [risos]
Eu irei, mas o que é que nos pode antecipar?
PC: Foi um ano único e a tecnologia nunca perde de vista os problemas maiores que estão a acontecer no mundo. E em relação a esses problemas maiores que estão a acontecer agora no mundo, talvez haja coisas que as empresas de tecnologia possam fazer – certamente há algumas empresas de tecnologia como a Starlink [projeto de internet por satélite lançado pela empresa americana SpaceX, de Elon Musk, n.d.r.] está a ajudar na Ucrânia e provavelmente há mais empresas que podem dar o seu apoio.
Lisboa vai organizar a Web Summit só até 2028 ou depois também? Pode já anunciar uma extensão do contrato?
PC: Eu não faço ideia. Eu só consigo pensar no que tenho pela frente dentro de duas semanas. Duas semanas para a frente, nem consigo pensar, pelo que 2028 parece tão distante no momento.
O que diria para os leitores da Forbes que virão à Web Summit?
PC: Que venham com a mente aberta. Lembrem-se que a maioria das pessoas não vem à Web Summit para as palestras, mas sim para o networking e o networking acontece de dia e de noite. Se de alguma forma houver quem não tenha bilhete – o evento está esgotado – haverá pessoas em Lisboa todas as noites durante a Web Summit, pelo que o networking não irá parar às 17h, prosseguindo depois dessa hora, ao mesmo tempo que se pode ficar a conhecer os belos restaurantes da cidade. Então, venha com a mente aberta e pronto para estabelecer contactos porque a maioria das pessoas estará lá. Para os leitores da Forbes, diria que estou ansioso para vê-los. Venham com a mente aberta e há 70.000 pessoas maravilhosas para conhecer. Não se trata apenas dos oradores em palco, trata-se muito do networking, não apenas de dia, mas de noite na maravilhosa cidade de Lisboa.