Enquanto os EUA e a União Europeia respondem à invasão da Ucrânia pela Rússia com sanções económicas, outra “opção nuclear” que foi considerada foi o eventual corte do acesso da Rússia ao sistema internacional de pagamentos SWIFT. O que significa isso e por que motivo está a Europa hesitante para impedir a Rússia de usá-lo?
Principais factos
A SWIFT, que significa Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication (Sociedade para Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais), foi criada em 1973 e está sediada na Bélgica e lida com solicitações e mensagens de pagamento entre 11.000 instituições financeiras em todo o mundo, entregando 42 milhões de mensagens por dia em 2021.
Atualmente a maioria das transações interbancárias internacionais, como ordens de pagamento e transferências bancárias, são realizadas através da rede SWIFT.
O Washington Post compara o sistema ao “Gmail do banco global” e o Financial Times (FT) observa que, embora a Rússia e outros países ainda possam realizar transações bancárias com outros países sem o SWIFT, seria muito mais trabalhoso e caro.
Cortar a Rússia do SWIFT teria um impacto económico significativo: quando os EUA ponderaram expulsar a Rússia da plataforma em 2014 devido à anexação da Crimeia, o ex-ministro das Finanças russo, Alexei Kudrin, estimou que o Produto Interno Bruto da Rússia encolheria 5% num ano sem o SWIFT , e o então primeiro-ministro Dmitry Medvedev comparou a mudança a uma “declaração de guerra”.
O FT também observa que a medida prejudicaria a capacidade da Rússia de lucrar com as exportações de petróleo e gás, que representam 40% da receita do país.
A Rússia estabeleceu um sistema de pagamentos alternativo e a China também tem o seu próprio sistema que a Rússia poderia usar, mas o Atlantic Council observa que ambas as plataformas são significativamente menores que a SWIFT e não compensariam suficientemente a dor de serem cortadas.
De acordo com números citados pelo FT, 1,5% é a parcela das transações SWIFT em 2020 que vieram da Rússia.
O que não sabemos é se o acesso da Rússia ao SWIFT será realmente cortado.
Alguns líderes mundiais, como o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, pediram que a Rússia seja expulsa da SWIFT, mas a Reuters relata que as autoridades da UE ainda olham como pouco provável que se dê esse passo nesta fase, dadas as possíveis ramificações. “Iria criar-se uma grande confusão na Rússia, mas também para os serviços de pagamento transfronteiriços”, explicou um executivo sénior de um credor estrangeiro, ao FT. “Como é que a Europa pagaria a sua conta de gás sem o SWIFT?”, lança a questão.
Ou seja, a expulsão da Rússia do SWIFT prejudicaria também a capacidade da UE de pagar as importações de petróleo e gás russos dos quais depende.
As autoridades dos EUA também disseram que é, para já, muito cedo para considerar esta mudança, mas que “nenhuma opção está fora da mesa”, aponta o FT.
A saída do sistema SWIFT prejudicaria a capacidade da Rússia de negociar com a maior parte do mundo.
Antecedentes-chave
A Rússia invadiu a Ucrânia na manhã desta quinta-feira, após semanas de especulação de que um ataque era iminente, provocando uma condenação generalizada de autoridades de todo o mundo.
Os EUA e outros governos estrangeiros até agora optaram por responder às agressões da Rússia por meio de sanções económicas, com o presidente americano Biden a recusar-se a colocar tropas americanas na Ucrânia porque isso poderia desencadear “uma guerra mundial”.
Países como EUA, Reino Unido, Austrália, Canadá, Japão e UE já tinham anunciado algumas sanções, após o presidente russo, Vladimir Putin, ter aberto caminho para o ataque na segunda-feira, ao reconhecer formalmente os estados rebeldes de Donetsk e Luhansk, no leste da Ucrânia.
Biden declarou a “primeira parcela” de sanções da administração americana contra a Rússia na terça-feira, que incluiu o “bloqueio total” de dois bancos russos de aceder os mercados financeiros ocidentais e penalidades destinadas a “elites russas e seus familiares”.