A Sogevinus é responsável por icónicas marcas de vinhos do Porto (como a Kopke, Calém, Burmester, Velhotes) e do Douro, como a marca São Luiz, Quinta da Boavista, entre outras que já ganharam o seu espaço e admiração dentro do segmento dos vinhos e junto do consumidor.
À Forbes, Sergio Marly Caminal, CEO da Sogevinus Fines Wines, salienta que o enoturismo é uma aposta assumida pelo Grupo Sogevinus e depois da abertura, neste mês de agosto, do “The Vine House”, entre a Régua e o Pinhão, seguir-se-á o projeto de um hotel de 5 estrelas com a insígnia Kopke, já em construção e com abertura prevista para 2024.
Apesar do vinho do Porto continuar a ser a estrela da empresa, o vinho DOC Douro tem vindo a ganhar importância: valendo já quase 10% da faturação e assinalando um crescimento de 46% face a 2019, isto num mercado que cresceu 12,8%.
Sergio Marly Caminal destaca ainda o desempenho de novos mercados como Coreia do Sul, onde a penetração do vinho do Porto do Grupo disparou 62% em relação a 2020.
O enoturismo tem crescido em Portugal. Como olha para esta realidade, numa altura em que o grupo inaugura em agosto o “The Vine House”, entre a Régua e o Pinhão? Que próximos projetos estão previstos nesta área do lado da Sogevinus?
Sergio Marly Caminal (SMC): O crescimento do enoturismo foi uma oportunidade identificada há já vários anos pelo Grupo Sogevinus e, nesse sentido, temos vindo a desenvolver vários projetos nessa área. Há vários anos que temos abertas ao público as nossas caves da Burmester – remodeladas em 2021 – e da Calém – remodeladas em 2017. As caves Calém são, atualmente, as caves de vinho do Porto mais visitadas, e têm um conceito inovador, que alia a tradição à tecnologia, apresentando várias curiosidades que tornam a sua visita atrativa para todas as idades. As caves de vinho do Porto da Cálem e Burmester, que se encontram em Vila Nova de Gaia, foram novamente distinguidas com o prémio “Traveller ́s Choice”, na edição de 2022.
No segmento da hospitalidade, este ano marca o arranque da primeira experiência da Sogevinus com a abertura da The Vine House da Quinta de São Luiz, um espaço pensado para os verdadeiros apreciadores de enoturismo, uma casa de campo que convida à descoberta e à degustação daquela que é a mais antiga região demarcada do mundo, num ambiente repleto de charme e conforto, proporcionando aos hóspedes a oportunidade de acompanhar o dia-a-dia de uma quinta vinhateira. Temos também, nesta área, o projeto do hotel Kopke, já em construção e com abertura prevista para 2024. Este será um hotel de 5 estrelas, com cerca de 150 quartos, situado na Rua Serpa Pinto, no Porto, que irá homenagear a mais antiga marca do portefólio da Sogevinus.
No enoturismo, este ano marca o arranque da primeira experiência da Sogevinus com a abertura da The Vine House da Quinta de São Luiz. o trupo tem também em marcha o projeto do hotel Kopke, de 5 estrelas, já em construção e com abertura prevista para 2024.
A Sogevinus tem na sua gama de produtos vinhos do Porto e do Douro. Qual destes dois tipos de vinhos mais tem crescido?
SMC: A Sogevinus é um produtor já consolidado na área dos vinhos do Porto, as suas marcas têm vários séculos de experiência nesta categoria, já nos vinhos tranquilos a experiência é bem mais recente, sendo uma aposta da empresa para o futuro. Claro que o vinho do Porto continua a ser a estrela da empresa, tendo contribuído em 2021 com cerca de 80% da faturação, mas o vinho DOC Douro tem vindo a ganhar importância no portfolio, tendo contribuído com quase 10% no mesmo ano.
Em 2021, a Sogevinus teve um crescimento de 17% nas suas marcas de vinho do Porto vs 2019 num mercado que cresceu 8,2%. Nos DOC’s registou um crescimento da faturação de +46% vs 2019 num mercado que cresceu 12,8%.
O conjunto das várias marcas de vinhos do Porto da Sogevinus continua a ser o produto “estrela” para a Sogevinus, valendo 80% do negócio. Mas o vinho DOC Douro tem vindo a ganhar importância.
A Sogevinus tem marcas icónicas de vinho do Porto. Gostava de perceber que planos futuros tem a empresa para cada uma delas: Kopke, Cálem, Burmester e Velhotes?
SMC: Presente em mais de 60 países, o Grupo Sogevinus reúne no seu portfólio grandes marcas que incluem a mais antiga Casa de Vinho do Porto (Kopke), a marca de Vinho do Porto mais vendida em Portugal (Velhotes) e a Cave de Vinho mais visitada em território nacional com cerca de 295.000 visitantes anuais (Cálem). Para além destas marcas, o grupo integra ainda a Burmester e a Barros que, em conjunto, representam cinco séculos de vinho.
A marca “Velhotes” nasce em 1934, no seio da histórica Casa Cálem, é representada pela pintura dos três Velhotes que faz parte da memória dos consumidores, imagem que é reproduzida em milhões de garrafas, que anualmente saem das nossas caves em Vila Nova de Gaia, para ocupar um lugar de destaque à mesa dos consumidores representados um pouco por todo o mundo. Velhotes é, atualmente, a marca nº1 de Vinho do Porto em Portugal, uma marca icónica do imaginário nacional, bem-humorada e próxima, que procura simplificar o consumo do vinho do Porto.
A Kopke, por sua vez, fundada em 1638, é a Casa mais antiga de Vinho do Porto – que, com um legado histórico de quase quatro séculos, é reconhecida como especialista em Portos Colheita. Os Colheitas são verdadeiros tesouros que foram passando de geração em geração e que são disponibilizados em quantidades muito limitadas e engarrafados à medida que são encomendados.
Quando se trata de vinhos tranquilos, o destaque vai para as marcas São Luiz e Quinta da Boavista, com referências representativas dos seus terroirs e que vêm reforçar neste segmento, o selo de qualidade que as marcas de vinho do Porto vêm consolidando há séculos.
Em termos internacionais, as vossas marcas têm conseguido manter os seus volumes de exportação? Tem havido crescimento?
SMC: Em 2021, no que diz respeito ao valor de exportações, registamos um crescimento pelo 4º ano consecutivo, ficando cerca de 20% acima do valor de exportações de 2019.
Qual a vossa marca que está a revelar um crescimento maior, por um lado, no mercado nacional, e, por outro lado, no mercado de exportação?
SMC: No mercado nacional, Velhotes é líder de mercado em volume e valor, com 27,3 e 28,4% de quota respetivamente (Fonte: Nielsen YTD 17 de julho 2022), enquanto no mercado internacional é sobretudo Kopke que tem uma presença mais forte. A Sogevinus é líder no mercado da Dinamarca, com quota de 25,6% (€) e 22,4% (vol.) (Fonte: Nielsen MAT Week 12 2022), sendo Burmester e Kopke as duas marcas com maior relevância. Já no mercado holandês, Kopke é líder em valor no segmento Liquor shops com 24,9% de quota.
Em 2021, as exportações da Sogevinus cresceram pelo 4º ano consecutivo, ficando cerca de 20% acima do valor de 2019.
Que impacto teve a pandemia na atividade da Sogevinus?
SMC: Após um ano difícil, em 2020, marcado pelo fecho do turismo e do canal Horeca, a Sogevinus apresentou resultados muito positivos em 2021, quando comparados com o ano de 2019. A faturação da Sogevinus superou os objetivos fixados para o ano alcançando valores de cerca de 40M€
O crescimento no segmento Porto foi de 17% vs 2019, considerando um mercado que cresceu 8,2%. De destacar ainda o desempenho de novos mercados como Coreia do Sul (+62% vs 2020), ou a manutenção da liderança em mercados como a Holanda e Dinamarca.
Quando olhamos para o segmento dos DOC, alcançámos um crescimento na faturação de +46% vs 2019, num mercado que cresceu 12,8%, destacando-se, neste caso, os mercados do Canadá, de França.
As vendas em Portugal da Sogevinus representam que percentagem do vosso negócio? Qual o volume de exportação da Sogevinus?
SMC: Podemos dizer que o valor de vendas no mercado externo e no mercado interno têm, aproximadamente, o mesmo peso. Falamos de 40% de exportação e 40% de mercado interno, considerando 20% para o turismo, de uma forma mais geral.
Kopke, Cálem, Burmester e Velhotes: cada uma destas marcas tem um perfil de cliente diferente?
SMC: Cada marca tem um perfil singular, atraindo diferentes tipos de cliente. Velhotes, fazendo parte da história do Calém, é efetivamente uma marca que lidera em volume e valor e está na garrafeira de uma grande parte dos portugueses. Porto Calém Velhotes é atualmente uma marca icónica do imaginário nacional, bem-humorada e próxima que procura simplificar o consumo do vinho do Porto.
Os vinhos do Porto Kopke são referências mais raras, para um consumidor que procura opções de vinhos mais envelhecidos, verdadeiros sinais do tempo, fascinantes e com histórias para contar. Do terroir aos etéreos armazéns em Vila Nova de Gaia, a história da Kopke é feita de esmero, experiência e dedicação que se refletem em néctares únicos, uma prova de mestria e paixão que atravessou gerações para chegar hoje até nós. Os Calém, nascidos no Douro, envelhecidos em Gaia e cuidados ao longo de mais de quatro gerações, contam uma história de aventura, arrojo e ousadia de um homem – António Alves Cálem. O sentido de lugar e o orgulho em preservar a melhor tradição portuguesa são os valores que a Cálem tem propalado ao longo dos seus 160 anos de existência.
A individualidade da Burmester é marcada pela sua ligação à Quinta do Arnozelo, no Douro Superior, com cerca de 100ha de vinha plantadas em solos predominantes de xisto. O encepamento é o tradicional da região, com o compromisso diário entre natureza e intervenção vitícola, em nome da preservação da biodiversidade. A promessa da marca consiste em proporcionar experiências com carácter em todos os momentos que a vida nos proporciona, pessoal e profissionalmente. Carácter é o princípio holístico da marca e dos seus vinhos. É um compromisso que inspira e motiva a Burmester através da sua personalidade. Todas estas características, história e origens que formam o conceito de cada marca, atraem para si os apreciadores e clientes que se identificam, naturalmente com cada um destes aspetos.
Há novos mercados em termos internacionais em que se estão a lançar? Quais?
SMC: Estamos a assistir a um crescimento muito interessante do consumo das nossas marcas de vinho do Porto, na Coreia do Sul, alavancado sobretudo por jovens consumidores, o que demonstra que o Vinho do Porto pode ser relevante nas tendências contemporâneas de consumo de álcool. O Porto Tawny “on the rocks” é uma tendência em vários locais de consumo em Seul.
“Estamos a assistir a um crescimento muito interessante do consumo das nossas marcas de vinho do Porto, na Coreia do Sul, alavancado sobretudo por jovens consumidores”
Que perspetivas têm para este ano em termos de negócio? E 2023?
SMC: A nossa expectativa é sempre de manter ou superar os resultados que vamos obtendo em anos anteriores, sendo que no setor do vinho há muitos fatores que podem condicionar o resultado dos nossos produtos, como os fatores naturais associados ao clima, entre outros. Confiamos, no entanto, que temos a equipa e as condições necessárias para continuar a lançar produtos de referência, tanto no segmento de Porto como nos DOC, capazes de responder às preferências dos consumidores das várias marcas, pelo que, olhamos com otimismo para a segunda metade do ano corrente e para o ano 2023.
Qual foi a qualidade das colheitas de 2020 e 2021 quer para o vinho do Douro e do Porto. Foram anos de qualidade? Como se estima que venha a ser a vindima de 2022?
SMC: O ano 2020 foi chuvoso até maio o que possibilitou a reposição natural da água no solo para o bom desenvolvimento da videira. No entanto, de maio a setembro, o tempo foi seco e muito quente o que provocou algum escaldão nas vinhas e como consequência uma quebra de produção. Em finais de agosto, a chuva acelerou as maturações e a própria vindima. As castas tintas com melhor desempenho nos Vinhos do Porto foram a Touriga Nacional, o Tinto Cão e o Sousão. Já nas brancas, destacamos a performance do Viosinho, Arinto e Malvasia Fina.
Em 2021, o Inverno foi frio com exceção do mês de fevereiro, altura em que a precipitação foi particularmente elevada relativamente às normais climatológicas (NC). A Primavera ficou marcada por um clima ameno, mas com um nível de precipitação ligeiramente superior à NC, sobretudo em abril, o que permitiu repor os níveis de água no solo, essenciais para a região do Douro. Junho registou grande instabilidade ao longo do mês com ocorrência de trovoadas, queda de granizo em alguns locais da RDD, mas sem registo de prejuízos nas nossas quintas. O verão, por sua vez, manteve-se seco com julho e agosto sem ocorrência de precipitações. Este ano fiou, assim, marcado pelo ritmo irregular da maturação das uvas que originou níveis de açúcar ligeiramente baixos, proporcionando o cada vez mais importante alinhamento e proximidade com as equipas de viticultura para determinar com rigor a data ótima de vindima como fator critico na qualidade dos vinhos. As uvas colhidas antes do maior período de pluviosidade resultaram em mostos mais concentrados na cor e no aroma, contrastando com a restante vindima vincadamente marcada por vinhos mais frescos e elegantes.
Relativamente à performance das castas, o blend da Touriga Nacional, Touriga Franca e alguma Tinta Roriz permitiu produzir Vinhos do Porto de excelente qualidade. Relativamente às castas brancas, destacamos o Viosinho que, em 2021, deu origem a vinhos frescos e densos, e a Malvasia Fina que, devido aos níveis de açúcar mais elevados, contribuiu para vinhos mais estruturados. Apesar de ter sido uma vindima difícil estamos bastante satisfeitos com os vinhos produzidos.
Teremos para breve o lançamento de algum vintage ou alguma edição especial de alguma marca?
SMC: Recentemente lançámos o Kopke 50 anos, uma nova categoria aprovada pelo IVDP no início deste ano, sendo que fomos a única marca que lançou um 50 anos em versão Tawny e White. Usando vinhos muito especiais provenientes da nossa “livraria” de vinhos antigos. É precisamente graças a este património que esta Casa centenária pode posicionar-se na vanguarda da recém-criada categoria com o lançamento, das duas referências, ambas “50 Anos”.
Para setembro temos previsto também o lançamento dos Porto Vintage 2020 das marcas Kopke, Burmester, Calém e Barros. São vinhos que nos orgulham também pela sua qualidade e complexidade, que lhes confere uma personalidade muito específica.
“Para setembro temos previsto o lançamento dos Porto Vintage 2020 das marcas Kopke, Burmester, Calém e Barros”
Há algumas novas marcas ou referências que estejam previstas serem lançadas?
SMC: Em setembro faremos o lançamento das novas colheitas dos vinhos premium São Luiz, tais como o São Luiz Winemakers Collection Folgazão e Rabigato 2017, o Quinta de São Luiz Vinhas Velhas 2017 e o Quinta de São Luiz Vinha Rumilã 2016. Estas são referências de grande qualidade e já distinguidas pela crítica internacional, nomeadamente Wine Advocate. E Wine Enthusiast
Como é que analisa o panorama do setor dos vinhos em Portugal, atualmente? Quais os seus aspetos mais fortes e fracos?
SMC: Há sempre aspetos positivos e negativos a apontar. Nos pontos positivos destaco a qualidade dos vinhos portugueses, que é cada vez melhor e começa a ser fortemente reconhecida no universo internacional.
Os aspetos menos positivos passam por um mercado muito atomizado e com demasiados players. Por outro lado, é uma categoria altamente promocionada, sendo Portugal um dos países onde a percentagem de vendas em promoção é mais elevada.
A Sogevinus manterá o seu foco na região do Douro? Planeiam entrar noutras regiões? Em caso afirmativo, quais e quando?
SMC: Por enquanto, os nossos planos passam por uma aposta na região do Douro. Uma região que viu nascer as nossas marcas e que nos continua a apaixonar e a surpreender todos os dias. No entanto, estamos sempre atentos a oportunidades interessantes que possam surgir.