Antes da pandemia, o termo nómada digital foi cunhado para os Millenials que queriam viajar pelo mundo, enquanto ganhavam um salário substancial. Pós-pandemia, estima-se que haja mais de 35 milhões de nómadas digitais e, nos EUA, o número mais do que duplicou. Em 2018, nos EUA, havia 4,8 milhões em comparação com os 11 milhões em 2021. Calcula-se que o valor económico da comunidade global de nómadas digitais seja de US$ 787 biliões por ano.
A maioria dos nómadas digitais tems os pés assentes em terra, mas depois há aqueles que assumem riscos adicionais ao realizar negócios no mar, enquanto trabalham num barco.
Erin Carey, fundadora da Roam Generation, lançou a sua empresa de comunicação enquanto navegava pelo mundo com a sua família. Depois de assistir a um documentário online sobre viver num veleiro, ela e o seu marido apostaram em quebrar o seu padrão de trabalho e experimentar uma aventura extrema.
Esse risco levou Carey a encontrar um nicho no mercado e a tornar-se uma nómada digital empreendedora em tempo integral.
“Para nós, o maior desafio foi mudar a nossa mentalidade de acreditar que poderíamos fazer isso porque a reação que recebemos da nossa família, amigos e desconhecidos foi que era apenas uma ideia maluca”, compartilha Carey. “Tivemos que realmente bloquear esse barulho…, com o tempo eles apoiaram-nos.”
Um documentário que mudou a vida
Carey começou a sua carreira na área da comunicação. Ela e o marido trabalhavam para o governo australiano, vivendo o sonho da “moradia com uma cerca branca” e com os filhos. Então, uma noite, assistiram ao documentário de 2013, da Netflix, “Maidentrip“, sobre Laura Dekker, de 14 anos, que partiu numa viagem de dois anos em busca do seu sonho de se tornar a pessoa mais jovem a navegar à volta do mundo sozinha. Bastou aquele filme. Carey e o marido começaram imediatamente a procurar famílias que viviam em barcos, tentando perceber como é que eles mesmos poderiam fazer isso.
Passagem só de ida para as Caraíbas
Levou dois anos e dois meses para Carey e a sua família voarem para fora da Austrália em passagens só de ida para as Caraíbas para apanhar o barco que compraram. Ambos tiraram uma licença sem vencimento dos seus empregos e prepararam as crianças para estudar em casa. Tiveram dois anos para experimentar este estilo de vida.
Carey queria fazer algo criativo depois de viver sem trabalhar nas Caraíbas durante um ano. Além disso, o seu orçamento estava a esgotar-se mais rápido do que o esperado.
“Eu queria descobrir uma maneira de ganhar dinheiro que também nos permitisse prolongar a nossa viagem”, explica Carey. “No grupo do Facebook que eu ía mantendo, as pessoas diziam: ‘É uma boa escritora. Deveria tentar escrever.’… Quando se tem esse espaço e tempo para ser criativo e se está a sentir-se inspirado, eu pensei, ‘Por que não tentar?’… Eu não tinha nada a perder, eu suponho. Então comecei a escrever e acabei a ganhar um bom dinheiro todos os meses, a publicar artigos principalmente para revistas de navegação e viagens. Então, ao longo do caminho, conhecemos o YouTuber de vela número dois do mundo, Sailing SV Delos”, canal do YouTube que narra as viagens e as aventuras de bloggers e youtubers a bordo do veleiro Delos.
Carey entrevistou o grupo para um dos seus artigos. Eles perguntaram se ela gostaria de trabalhar com eles numa vertente de relações públicas. Carey percebeu que era boa nisso ao garantir a cobertura da imprensa e a ajudar no treino com os media. Ela então começou a estudar como ser empreendedora, como escalar um negócio e até encontrou um mentor.
Só que, entretanto, o plano de dois anos de Carey e do seu marido chegou ao fim. Eles prepararam o barco para o inverno e voaram de regresso para a Austrália. Era para durar apenas seis meses, período que daria a Carey a possibilidade de garantir mais clientes antes de voltar para o mar. Só que, depois de dois meses em casa, o mundo entrou em quarentena devido à pandemia.
“Vendemos a nossa casa e nunca nos arrependemos”, diz Carey.
“Ficamos ‘presos’ durante 18 meses”, afirma Carey. “Mas, em retrospectiva, isso permitiu-nos sentir muito à vontade para vender a nossa casa. Após 18 meses de volta à Austrália, mergulhando totalmente na rotina de sempre do trabalho, todos concordamos que perdemos. Assim, vendemos a nossa casa e nunca nos arrependemos.”
Agora, com quase um ano de compromisso total com a vida no mar, Carey ajuda outros nómadas digitais a promoverem as suas histórias na imprensa mundial, enquanto o seu marido cuida do barco e educa as crianças em casa. Ela admite que esse estilo de vida não é para todos, mas vale a pena arriscar se se deseja uma mudança de ritmo.
Esta nova vida permitiu a Erin conhecer as mais variadas pessoas e visitar os destinos mais inspiradores. São essas pessoas e as marcas e empresas que representam que a Roam Generation quer ajudar a promover. A Roam Generation foi desenvolvida para apoiar a indústria de viagens e tudo o que a envolve, “para continuar a mudar a vida das pessoas por meio de aventuras, destinos de classe mundial e experiências que mudam a vida”, como refere.
A Roam Generation foi desenvolvida para apoiar a indústria de viagens e tudo o que a envolve.
E ao partilhar histórias de clientes, através de Relações Públicas e criação de conteúdo, a Roam Generation pretende inspirar mais pessoas a saírem da sua zona de conforto e a viver uma vida menos comum.
Enquanto Carey continua a expandir a sua marca e a se adaptar ao estilo de vida nómada digital, ela refere à FORBES quais são os passos essenciais que ela segue:
- Procure um grande mentor que tenha feito o que você quer fazer. Ter essa orientação tornará o processo mais gerível.
- Esteja aberto a diferentes possibilidades. Por exemplo, você pode pensar que há apenas uma maneira de fazer o que tem em mente, quando, na realidade, existem várias maneiras.
- Não perca tempo concentrando-se em pequenas tarefas, como projetar o seu logótipo no início. Certifique-se de ter um negócio viável antes de gastar dinheiro e tempo em branding; tudo se vai encaixar quando tiver clientes.
“Descobri que sou muito mais resiliente do que jamais soube, à conta de estar na vida do barco”, conclui Carey. “Tornei-me um solucionador de problemas muito melhor. Essa resiliência ajuda-me a não desistir, por mais difícil que seja. Há muitas vezes nesta vida de barco em que não é possíve parar o barco. Muitas vezes tive vontade de dizer: ‘Para o barco. Eu quero sair agora.” Então só tem de aguentar isso e encontrar um espaço na sua mente onde se possa lidar com o desconforto. Aprendi a ficar confortável com o desconforto”.