(Esta é a segunda parte de um artigo publicado na edição de agosto/setembro da Forbes Portugal, agora nas bancas, sobre a temática do turismo de fãs. Acompanhe, agora, o dia da final da Liga dos Campeões feminina, que colocou frente a frente o Arsenal e Barcelona, em Lisboa, no final da época passada)
“É o Barcelona contra quem?”, perguntaram no carro pedido para fazer a viagem entre a praça do Rossio e o Estádio José Alvalade. Sem surpresa, uma vez que ao início da tarde do dia da final da Women’s Champions League eram os adeptos da equipa catalã que enchiam as ruas da baixa lisboeta. O que era também indicativo do que se esperava em relação ao jogo: entre Barcelona e Arsenal, o favoritismo entrou em campo com as espanholas.
Na Praça do Comércio, num espaço montado pela organização para reunir os adeptos, patrocinadores e convidados, como a britânica Alex Scott, a festa começou cedo e já se começava a moldar ao que seria possível ver ao longo de todo o dia, entre as ruas de Lisboa e o estádio que recebeu a final: um grupo de adeptos reunido em nome do futebol feminino.
Quando se fala em “festa do futebol” atualmente, já se torna difícil não se associar esse momento a possíveis conflitos entre adeptos nas ruas das cidades ou nas zonas dos estádios. O que esta final provou é que, pelo menos no que ao feminino diz respeito, o futebol continua a ser um momento de convívio, emoção, respeito e um excelente programa em família.
No que ao jogo diz respeito, o resultado acabou por surpreender, com o Arsenal a levar a melhor contra a equipa que vinha de duas épocas consecutivas a vencer a Liga dos Campeões. A dupla Beth Mead e Stina Blackstenius saíram do banco mais inspiradas que a formação catalã. A assistência de Mead e o golo de Blackstenius deram à equipa londrina a segunda Liga dos Campeões da sua história, 18 anos depois da última conquista europeia da formação.
No final de toda a experiência, foram as palavras de Kika Nazareth à Forbes Portugal – capa digital de outubro de 2024 – que realmente se fizeram sentir: “Eu quero muito que o futebol feminino continue a evoluir, mas não quero que o futebol feminino perca uma coisa que eu acho que dá mil a zero ao futebol masculino, que é a autenticidade, a rivalidade saudável, a genuinidade dentro de campo. Claro que quero um dia que as gerações futuras façam disto vida sem qualquer tipo de problema, sem qualquer tipo de luta, mas onde há dinheiro há mais pessoas envolvidas, há mais problemas envolvidos. E eu quero o melhor dos dois mundos. Quero que as pessoas percebam que o futebol feminino é diferente do futebol masculino, e ainda bem. Que esta evolução continue a acontecer, mas que o futebol feminino continue a dar uma lição moral ao futebol masculino. Talvez por sermos mais sentimentais, por haver mais relação, acho que vivemos o futebol de uma forma genuína e acho que isso é brutal. Gostava que lá fora as pessoas também percebessem isso, que o futebol não é só futebol, há mais coisas além de futebol”.