Como forma de mostrar a solidariedade europeia para com o povo ucraniano devido à invasão de que a Ucrânia foi alvo pela Rússia a 24 de fevereiro, Ursula von der Leyen, Presidente da Comissão Europeia, vestiu de amarelo e azul no discurso do estado da União.
Com Olena Zelenska, a primeira dama da Ucrânia presente no plenário em Estrasburgo, como convidada de honra, von der Leyen salientou que a ”solidariedade com a Ucrânia permanecerá inabalável” e que “com coragem e solidariedade, Putin será derrotado e a Europa prevalecerá”.
Relativamente ao apoio à Ucrânia, a Presidente da Comissão disse que a “Europa já disponibilizou mais de 19 mil milhões de euros em assistência financeira” e isto “sem contarmos o apoio militar que prestámos”.
100 milhões de euros para escolas
“Estamos aqui para o que der e vier. A reconstrução da Ucrânia exigirá recursos gigantescos. Para vos dar um exemplo, os ataques russos danificaram ou destruíram mais de 70 escolas. Meio milhão de crianças ucranianas começaram o ano letivo na União Europeia. Mas, na Ucrânia, muitas outras não têm uma sala de aula para onde ir. Por isso, anuncio-vos hoje que irei trabalhar com a primeira dama para apoiar a reconstrução das escolas ucranianas danificadas. E para isso vamos providenciar 100 milhões de euros. Porque o futuro da Ucrânia começa nas suas escolas”.
O impacto das sanções na Rússia
No discurso do estado da União, Von der Leyen recordou o impacto das sanções internacionais à Rússia, as quais “vieram para ficar”: “O setor financeiro da Rússia está de rastos. Cortámos o acesso de três quartos do setor bancário russo aos mercados internacionais. Quase um milhar de empresas internacionais deixaram o país”, indicou.
“A indústria da Rússia está numa situação crítica. E foi o Kremlin que deu à economia russa este rumo devastador”, disse de forma clara a presidente da Comissão Europeia.
“A produção de automóveis diminuiu três quartos comparativamente ao ano anterior. A Aeroflot está a deixar aviões em terra porque não tem peças sobresselentes disponíveis. O exército russo está a retirar circuitos integrados de máquinas de lavar louça e frigoríficos para reparar o seu equipamento militar porque já não tem semicondutores”, prosseguiu von der Leyen.
Os países a caminho “da nossa União”
A responsável europeia apontou que a Comissão irá trabalhar com a Ucrânia para garantir um acesso harmonioso ao mercado único “e vice-versa”: “O mercado único é uma das histórias de maior sucesso da Europa. É agora tempo de incluir nessa história os nossos amigos ucranianos”.
A responsável da Comissão também deixou palavras de incentivo aos países “que já estão a caminho da nossa União”: Quero dizer aos cidadãos dos Balcãs Ocidentais, da Ucrânia, da Moldávia e da Geórgia: vocês fazem parte da nossa família, o vosso futuro é connosco na União e a União não fica completa sem vocês!”.
“O que vimos nas ruas de Bucha, nos campos de cereais queimados e, mais recentemente, à entrada da maior central nuclear da Ucrânia não é apenas uma violação de normas internacionais. É uma tentativa deliberada de as eliminar” – von der Leyen.
A propósito da invasão russa, a responsável pela Comissão Europeia frisou ainda que “esta não é só uma guerra desencadeada pela Rússia contra a Ucrânia. Esta é uma guerra contra a nossa energia, contra a nossa economia, contra os nossos valores, enfim, uma guerra contra o nosso futuro. Uma guerra de uma autocracia contra a democracia. E hoje estou aqui, perante vós, com a convicção de que, com coragem e solidariedade, Putin será derrotado e a Europa prevalecerá”.
“Temos de livrar a Europa da dependência russa”, exorta von der Leyen.
“Uma lição a retirar desta guerra é que devíamos ter dado ouvidos a quem conhece Putin. A Anna Politkovskaya e a todos os jornalistas russos que expuseram os crimes e, por isso, pagaram o preço mais alto. Aos nossos amigos na Ucrânia, na Moldávia e na Geórgia e à oposição na Bielorrússia. Devíamos ter dado ouvidos às vozes que se levantaram no interior da nossa União — na Polónia, nos países bálticos e por toda a Europa Central e Oriental. Há anos que nos diziam que Putin não pararia. E agiram em conformidade. Os nossos amigos nos países bálticos trabalharam arduamente para acabar com a sua dependência da Rússia. Investiram em energias renováveis, em terminais de GNL e em interconetores. Todas esta tecnologias são muito dispendiosas. Mas a dependência dos combustíveis fósseis russos tem um preço muito mais elevado. Temos de livrar a Europa desta dependência”.
“Por isso, chegámos a acordo quanto ao aprovisionamento comum. Neste momento, estamos nos 84%, valor que excede já a nossa meta. Infelizmente, porém, isto não será suficiente”, diz von der Leyen.
“Afastámo-nos da Rússia e diversificámos os fornecedores em quem podemos confiar. Estados Unidos, Noruega, Argélia e outros. No ano passado, o gás russo representava 40% das nossas importações de gás. Hoje, importamos 9% de gás transportado por gasodutos. Mas a Rússia continua a manipular ativamente o nosso mercado da energia. Prefere queimar o gás do que garantir o seu fornecimento. Este mercado deixou de funcionar. Além disso, a crise climática pesa drasticamente nas nossas contas. As vagas de calor fizeram disparar a procura de eletricidade. A seca fez encerrar centrais hidroelétricas e nucleares”, afirmou a presidente da CE.
“Em consequência, os preços do gás aumentaram mais do que 10 vezes em comparação com os que vigoravam antes da pandemia”, elucidou von der Leyen.
Por isso, “temos de continuar a trabalhar para reduzir os preços do gás. Temos de garantir a segurança do aprovisionamento, sem descurar a nossa competitividade à escala mundial”, concluiu.