Paco Rabanne (1934-2023): o revolucionário metalúrgico da moda despediu-se

O estilista espanhol Paco Rabanne morreu esta sexta-feira, aos 88 anos, na casa em que vivia em França. A informação já foi confirmada pelo grupo espanhol Puig, empresa dona da grife de vestuário e perfumes criada pelo designer, ainda que a causa do falecimento não tenha sido divulgada. No Instagram, a Paco Rabanne colocou uma…
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Paco Rabanne (1934-2023) rasgou normas no mundo da moda, ao criar peças de Alta Costura, altamente desejadas, que primam pelo futurismo e magnetismo. Coco Chanel chamava-lhe o "metalúrgico da moda".
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O estilista espanhol Paco Rabanne morreu esta sexta-feira, aos 88 anos, na casa em que vivia em França. A informação já foi confirmada pelo grupo espanhol Puig, empresa dona da grife de vestuário e perfumes criada pelo designer, ainda que a causa do falecimento não tenha sido divulgada.

No Instagram, a Paco Rabanne colocou uma mensagem que homenageia o seu “visionário designer e fundador que faleceu hoje aos 88 anos. Faria 89 anos no dia 18 de fevereiro. Entre as figuras da moda mais seminais do XX, o seu legado permanecerá uma constante fonte de inspiração”.

A empresa reforça: “Somos gratos a Monsieur Rabanne por estabelecer a nossa herança de vanguarda e definir um futuro de possibilidades ilimitadas”.

Francisco Rabaneda Cuervo, o seu nome, nasceu em Pasaia, na província espanhola de Guipúscoa (no País Basco), em 1934, tendo deixado um legado que ultrapassa o universo da moda e das fragrâncias.

“Paco Rabanne tornou a transgressão magnética. Quem mais poderia levar as mulheres da moda parisiense a clamar por vestidos feitos de plástico e metal? Quem, senão Paco Rabanne, poderia imaginar uma fragrância chamada Calandre [lançada em 1969, n.d.r.] – a palavra significa ‘grelha de automóvel’ – e transformá-la um ícone da feminilidade moderna?”, aponta José Manuel Albesa, presidente da divisão de moda e beleza da Puig.

“Aquele espírito radical e rebelde diferenciava-o: há apenas um Rabanne. Com a sua morte, recordamos mais uma vez a sua enorme influência na moda contemporânea”, frisou.

Filho de uma costureira da Casa Balenciaga, Paco Rabanne mudou-se com a família para França, quando tinha apenas quatro anos, por causa da Guerra Civil espanhola, durante a qual o seu pai foi mortos pelos franquistas. Estudou arquitetura em Paris, mas logo se aventurou no mundo da moda. 

Nos seus primeiros anos de atividade e para ganhar dinheiro, ele desenhou acessórios para estilistas como Givenchy (para esta insígnia criou botões e jóias), Dior e a próprio Balenciaga. 

Os seus primeiros trabalhos assinados na década de 1960 (a sua primeira coleção com a sua marca data de 1966) surpreenderam pela utilização de materiais “não-tecidos” e inusitados, como papel reciclado, alumínio e plástico, montados com mestria e arame e cola.

De resto, os discos discos metálicos com que ornamentou peças de roupa valeram-lhe o epíteto de “o metalúrgico da moda”, um rótulo que lhe aplicado por Coco Chanel.

As icónicas túnicas metálicas que criou na sua primeira coleção , batizada de “12 Vestidos Inutilizáveis feitos com Materiais Contemporâneos”, foram impactantes.

30 anos da boneca Barbie – A boneca vestida por Paco Rabanne. MICHELINE PELLETIER/SYGMA VIA GETTY IMAGES

Os seus desenhos também apareceram em filmes. Audrey Hepburn, em “Um Caminho para Dois” (1967), foi a primeira celebridade a envergar as criações metálicas na forma de vestido de Paco Rabanne.

Também foi o autor das roupas futuristas que Jane Fonda usou em “Barbarella” (1968), as quais foram uma bandeira da chamada “Era Espacial na moda”.

Os designs por si criados foram vestidos ​​por estrelas como Brigette Bardot, Audrey Hepburn, Elizabeth Taylor, entre muitas outras personalidades.

Também são de Paco Rabanne os looks criados para o filme “Casino Royale”, de John Huston (1967).

O estilista Paco Rabanne, aqui em julho de 1966, no set de filmagem de “Casino Royale” em Elstree. O criador trabalhou nas roupas junto com Julie Harris para este filme de 007. DOREEN SPOONER/MIRRORPIX/GETTY IMAGES

Criativo, foi o primeiro estilista a apresentar um vestido de chocolate, o que aconteceu em outubro de 1998.

Os vestidos foram acompanhados pela conceção de acessórios igualmente futuristas, caso de bolsas compostas por discos metalizados.

Em 1999, o estilista aposentou-se oficialmente.

Julien Dossena, diretor criativo que atualmente lidera a Paco Rabanne, tem continuado o carismático legado do mestre, com peças claramente com o carimbo desta casa de alta Costura.

Entre as atuais divas do mundo pop que veste Paco Rabanne conta-se a cantora Taylor Swift que utilizou recentemente o icónico vestido Paco Rabanne, criado por Julien Dossena, para um concerto, a propósito do seu mais recente lançamento, “Anti-hero”.

Taylor Swift, com um vestido Paco Rabanne, desenhado por Julien Dossena

Referindo-se à figura de Paco Rabanne, Julien Dossena, deixa um rasgado elogio: “Obrigado Mr. Rabanne,
Obrigado por ser um costureiro que definiu uma nova modernidade e acompanhou uma revolução cultural. Um artista total que, através da expressão da sua utopia pessoal, tem contribuído para mudar a visão do mundo. Obrigado por este legado”.

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