Valores de Contratação Pública de Inovação podem triplicar em Portugal

Contratação pública de inovação. O alcance da expressão poderá nem sempre ser óbvio, mas, na prática, significa algo como isto: uma autarquia está à procura de um sistema centralizado de gestão de transportes para o município, mas não encontra no mercado uma solução à medida das suas necessidades. O lançamento de um processo de Compra…
ebenhack/AP
Aumentar o nível de contratação pública de inovação no país permitiria uma mais rápida modernização do setor público, bem como um incremento na competitividade das empresas, revela análise do ISCTE.
Negócios

Contratação pública de inovação. O alcance da expressão poderá nem sempre ser óbvio, mas, na prática, significa algo como isto: uma autarquia está à procura de um sistema centralizado de gestão de transportes para o município, mas não encontra no mercado uma solução à medida das suas necessidades. O lançamento de um processo de Compra Pública de Inovação (CPI) resultaria não só na obtenção de uma tecnologia inovadora, como, para as empresas participantes, significaria o lançamento de um novo produto ou até de um novo mercado que aumentaria a sua competitividade.

Segundo o estudo “Mercado da contratação pública em Portugal”, desenvolvido pelo ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa para a Agência Nacional de Inovação (ANI), o valor atual das CPI em Portugal deverá situar-se entre os 637 milhões e os 1,3 mil milhões de euros, abaixo de economias com o mesmo nível de desenvolvimento.

Esta análise sobre o potencial de mercado da contratação pública de inovação (CPI) em Portugal, realça, porém, que estas cifras têm potencial para crescer para valores entre os 1,9 e 3,8 mil milhões de euros ao ano, como os registados em países substancialmente mais ricos, como Reino Unido, França e Países Baixos.

Lançamento do Centro de Competências em Compras Públicas de Inovação Português

A carência até agora de uma abordagem estruturada para a capacitação em CPI em todo o país surge como uma das fragilidades apontadas pelo estudo.

“A implementação de um Centro de Competências em Compras Públicas de Inovação Português visa disponibilizar serviços que facilitarão a expansão do conhecimento sobre CPI em todas as entidades adjudicantes públicas e atuar no sentido da melhoria de condições de mercado para aproximar a oferta e a procura”, indicam os autores do documento por ocasião da apresentação deste centro, que aconteceu ontem, no Ministério da Economia e Transição Digital, com a presença do Secretário de Estado da Economia, João Neves, e do Secretário de Estado das Infraestruturas, Jorge Delgado.

O evento foi transmitido via livestreaming através do canal de Youtube da ANI e pode ser consultado neste link.

O Secretário de Estado da Economia, João Neves, refere que “as Compras Públicas de Inovação são, cada vez mais, um meio estratégico para responder aos desafios da sociedade, desde a sustentabilidade ambiental à saúde, para fomentar a competitividade através da inovação e de I&D, e para o cumprimento dos compromissos internacionais assumidos. A implementação do centro de competências, com a integração de conhecimentos específicos relativos aos processos de contratação pública, permitirá melhorar e modernizar os serviços públicos, apoiando simultaneamente o setor empresarial e facilitando o encontro de soluções de inovação que correspondam aos desafios do presente e do futuro, de forma mais inteligente e resiliente.”

“Centro de Competências em Compras Públicas de Inovação em Portugal é instrumento prático essencial para capacitação das entidades públicas”, diz secretário de Estado das Infraestruturas.

“O primeiro Centro de Competências em Compras Públicas de Inovação em Portugal [lançado ontem], é um instrumento prático essencial para a capacitação das entidades públicas, não apenas enquanto compradores, mas também enquanto fornecedores de inovação. Sendo certo que, também na área das compras públicas, o caminho passa pela inovação, e estando criadas as condições ao nível das medidas de contratação pública previstas na lei, é imperativo que tal avanço legislativo seja acompanhado pela devida formação e capacitação das entidades públicas, de modo a que melhor possam compreender estes mecanismos e, por essa via, abrir portas para que as entidades públicas optem pelas CPI, sempre que essa solução seja a mais adequada à compra pública pretendida. Estamos confiantes que o trabalho deste Centro de Competências em CPI terá um impacto relevante no mercado das compras públicas em Portugal, dotando-o de soluções mais inovadoras, mais adequadas e, esperemos, mais eficientes”, salienta o secretário de Estado das Infraestruturas, Jorge Delgado.

A presidente da ANI, Joana Mendonça entende que a CPI é “um instrumento importante de indução de inovação e atividades de I&D, quer nas empresas quer nas entidades públicas compradoras de produtos e serviços. Tem sido notório um conjunto de compras estratégicas como as compras públicas ecológicas, sustentáveis e circulares, que têm como objetivo permitir às entidades públicas adquirir bens, produtos e serviços com requisitos mais sustentáveis e eficientes, de forma a terem um impacto reduzido no ambiente e mais positivo na economia. A pandemia revelou-nos ainda o imperativo de termos uma economia mais autónoma e resiliente em setores estratégicos como o da saúde. As CPI vêm responder a todas essas necessidades essenciais para a recuperação que atualmente buscamos.”

“Os contratos públicos devem servir de alavanca para um crescimento sustentável e inteligente”, refere o Presidente do IMPIC.

Por seu lado, Fernando Batista, presidente do conselho diretivo do Instituto dos Mercados Públicos, do Imobiliário e da Construção (IMPIC), considera que “as compras públicas, atendendo o seu significativo impacto na economia, devem ser vistas numa perspetiva estratégica e utilizadas como instrumento de prossecução de políticas horizontais, para além do seu núcleo essencial da satisfação de necessidades públicas. Neste sentido, tendo por farol o ‘best value for money’, os contratos públicos devem servir de alavanca para um crescimento sustentável e inteligente, e para tal, devem ser indutores de inovação. É neste enquadramento que as CPI encontram a sua magna importância, uma vez que através delas a Administração Pública assume o papel de “comprador” de inovação, claramente indutor de uma dinâmica evolutiva no tecido empresarial. Desta forma, as CPI, são sem qualquer dúvida, um utensílio para a construção de uma sociedade com melhor qualidade de vida, aqui incluindo-se a prestação, aos cidadãos e empresas, de serviços públicos mais eficientes e eficazes.”

Mais Artigos