100 ideias para Portugal: a opinião de Major-General Isidro de Morais Pereira

Três pontos para podermos melhorar Portugal: 1. Defesa Nacional: Reforma, Investimentos, Parcerias e Colaboração Hoje, muito mais do que no passado recente é um imperativo reformar todo o "edifício" da Defesa Nacional. O atual sistema encontra-se num verdadeiro colapso.          Sendo uma tarefa de elevada complexidade, envolvendo múltiplas dimensões, não é impossível de levar a…
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Um leque de personalidades aceitou o desafio de pensar Portugal com audácia e inspirar os governantes. Recolhemos 100 ideias. Damos voz ao Major-General Isidro de Morais Pereira.
Líderes

Três pontos para podermos melhorar Portugal:

1. Defesa Nacional: Reforma, Investimentos, Parcerias e Colaboração

Hoje, muito mais do que no passado recente é um imperativo reformar todo o “edifício” da Defesa Nacional. O atual sistema encontra-se num verdadeiro colapso.

         Sendo uma tarefa de elevada complexidade, envolvendo múltiplas dimensões, não é impossível de levar a bom termo e deve justamente começar por uma avaliação tão abrangente quanto possível da situação geopolítica enquadrante e das potenciais ameaças à nossa segurança. De seguida, envolvendo os mais destacados especialistas no sentido de garantir uma abordagem séria e ajustada aos nossos tempos no sentido de encontrar as mais adequadas políticas de defesa, e ainda mais importante um cronograma temporalmente exequível para as implementar.

         É urgente analisar a eficiência operacional, a coordenação entre ramos, identificando as capacidades militares e tecnológicas necessárias para enfrentar as ameaças emergentes. Isso envolve investimentos em recrutamento, treino, equipamento militar, tecnologia cibernética, informações (“intelligence”) e outros domínios relevantes, indo ao encontro dos padrões mais evoluídos dos exércitos da NATO.

         A inovação e o desenvolvimento tecnológico no setor de defesa – o que inclui investimentos em investigação e desenvolvimento (ID), bem como parcerias com a indústria para garantir que as Forças Armadas estejam atualizadas e preparadas para todos os tipos de desafios e cenários de emprego – é necessário que sejam promovidos reservando para isso os recursos financeiros adequados e imprescindíveis para o efeito.

         A importância crescente da cibersegurança obriga a integrar medidas robustas para proteger as infraestruturas críticas sem esquecer a valorização do Soldado, garantindo remuneração condigna, condições adequadas de trabalho, treino contínuo e apoio ao bem-estar físico e mental dos militares. Qualquer base para uma reforma abrangente da Defesa Nacional deve garantir a colaboração e o consenso nacional como variáveis fundamentais para o sucesso de qualquer mudança significativa nessa área.

2. Complexo Militar Industrial: Pesquisa, Conhecimento, Investidores Estrangeiros, Opinião Pública e Parcerias Internacionais

Portugal tem todas as condições para desenvolver um complexo militar industrial. A nossa posição geográfica, longe da principal ameaça permite-nos funcionar como área logística da retaguarda.

         É uma evidência que o desenvolvimento de um complexo militar-industrial requer investimentos significativos em pesquisa, desenvolvimento e produção, e que em simultâneo é crucial perceber se Portugal possui igualmente os recursos financeiros necessários para o efeito em função de outras necessidades sociais. Isso inclui assegurar que o País possui conhecimento em áreas como cibernética, eletrónica, engenharia ou ciência dos materiais, mas a localização geográfica de Portugal, longe de ameaças imediatas, pode proporcionar uma perceção de segurança e estabilidade para o desenvolvimento dessas instalações industriais militares e atrair inclusivamente investidores estrangeiros.

         Embora a UE já tenha dado o sinal para o investimento nesta área, o ambiente político em Portugal, coloca algumas reservas porquanto a estabilidade é essencial para projetos de longo prazo, especialmente na indústria de defesa. Mudanças frequentes de políticas e de governos podem impactar negativamente o desenvolvimento e a continuidade de tais iniciativas, embora se tenha a noção de que a opinião pública em geral será recetiva a investimentos desta natureza, geradores de novos empregos e muito valor acrescentado. Seria, contudo, fundamental que neste campo Portugal estabelecesse parcerias internacionais que alavancassem a sua capacidade produtiva em tempo e qualidade.

3. Democracia e Liberdade: Educação, Debates, Treino e Conhecimento Prático, Fortalecer Valores Democráticos

É um imperativo de estado sensibilizar os cidadãos, principalmente os mais jovens, que a situação geostratégica europeia comporta riscos e ameaças muito sérias à democracia e à liberdade.

         É dever e um imperativo de todos nós, sem exceção, estarmos prontos para defender o nosso país e a nossa forma de vida. É necessário integrar a educação cívica no sistema nacional de educação para disponibilizar aos jovens uma compreensão sólida dos princípios democráticos, dos direitos fundamentais e das responsabilidades cívicas. Devem ser conhecedores da situação geostratégica e suas implicações, destacando ameaças e desafios reais de maneira objetiva, evitando exageros ou manipulações, incentivando a discussão sobre questões geopolíticas, ameaças à democracia e à liberdade nas nossas escolas, comunidades locais e mesmo através de plataformas online.

         Os jovens devem ter acesso a treino e conhecimento de medidas práticas que podem e devem adotar em emergências ou em caso declarado de guerra. A Defesa Nacional deve trabalhar para fortalecer os valores democráticos, a liberdade e a independência nacional como pilares últimos que os jovens devem privilegiar!

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