Quando penso em nós como país, penso no território, na cultura acumulada e nas pessoas que somos. A cola que nos une é a pertença a uma comunidade-país, que queremos que se desenvolva de forma harmoniosa para todos termos uma vida decente. Quando nasce, cada bebé traz consigo uma dotação de recursos que irá desenvolver ao longo da vida. Enquanto economista penso nessa dotação como um capital inicial. De três tipos: capital humano, capital financeiro e capital natural. Idealmente, ao longo da vida devemos ser capazes de investir e aumentar o valor do nosso capital pessoal – através da educação e do trabalho, investimos em nós mesmos e valorizamos o nosso capital humano; com a capacidade de geração de rendimento financeiro podemos canalizar poupança para investimento na economia, valorizando o nosso capital financeiro; e temos de ser capazes de preservar o capital natural para garantir a qualidade de vida humana no planeta.
As ideias que aqui apresento pretendem contribuir para alavancar as conquistas que, enquanto nação, os portugueses obtiveram até hoje e o potencial que está ainda por materializar. São três ideias, uma ideia para cada tipo de capital:
Capital Humano: Educar, como semear, para ver crescer mais tarde e colher os frutos
O investimento continuado na educação está a dar frutos e não pode ser descontinuado. Temos hoje a juventude no topo das melhores qualificações da Europa. É uma geração com escolha. Se alguns procuram hoje experiência internacional, também muitos ficam no país e, com o tempo e o aumento das qualificações no tecido empresarial, a produtividade aumentará mais, as empresas evoluirão e tornar-se-ão mais atrativas. Há motivos para termos esperança investindo no capital humano.
Capital Financeiro: Consolidar a trajetória de Desalavancagem e Desenvolver Mercados de Capitais como alavanca para crescimento económico
Para alavancarmos o país é importante consolidarmos a recente trajetória de desalavancagem financeira, não apenas no Estado, mas também nos privados – reduz custos e aumenta atratividade para investimento. Temos caminhado na construção de um sistema bancário mais seguro, que cumpre o seu propósito no que diz respeito a concessão de crédito. Mas um crescimento económico de maior fôlego, que assente em maior inovação e que possa permitir a participação de todos, implica, necessária e saudavelmente, que se corram alguns riscos – pelo que é essencial impulsionar-se financiamento com capital próprio para projetos que promovam crescimento económico com maior escala. A abertura do capital das empresas é um passo importante, a par do desenvolvimento dum mercado de capitais dinâmico onde se podem correr os riscos que a sociedade não quer ter no sistema bancário, mas que potenciam maiores ganhos de rendibilidade e oportunidades de investimento e diversificação.
Capital Natural: Infraestruturas mais sustentáveis, que aumentem a nossa centralidade
Se o país deu passos importantes no que diz respeito à geração e consumo de energia de fontes renováveis, é agora essencial consolidar o investimento em formas de mobilidade mais verde. Um bom exemplo será a ferrovia, quer para passageiros quer para mercadorias. Um país coberto por uma boa rede de alta velocidade promove mobilidade mais limpa, aumenta a nossa centralidade na Europa e aproxima-nos uns dos outros. É evidente que ir do Porto a Lisboa em menos de uma hora e meia fará diferença – e muito mais se pode fazer no nosso mapa. Para além do impacto na vida das empresas (e não apenas no setor do turismo, mas também), estes projetos impactarão a vida das pessoas: pela dimensão de sustentabilidade ambiental, pelo potencial de tornar atrativas para residir zonas geograficamente mais distantes do local de trabalho e mais acessíveis. E é de não esquecer o potencial de financiamento sustentável (por exemplo, títulos verdes) para investimentos desta natureza, que nada têm de greenwashing.
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