Três pontos para podermos melhorar Portugal, interna e externamente:
1. Economia, Política e as Falsas Dicotomias
Político-economicamente é fácil constatar que a sociedade portuguesa lida mal com extremismos, sejam eles de “Esquerda” ou de “Direita”, mas – e isto não tem sido posto em evidência – também os portugueses tendem a acumular num ápice processos de resistência a quaisquer maiorias absolutas. Neste último plano, as coisas acabam sempre mal: tanto na primeira iteração da AD com Sá Carneiro, seguido por Francisco Pinto Balsemão, a do PSD do Professor Cavaco Silva, como o PS do Eng. Sócrates e, há pouco, a inesperada maioria do governo de António Costa.
Em Portugal, maiorias absolutas depressa se desviaram para uma tentação fatal em “mexicanizar” o poder, colando-se-lhe. Quando tal acontece, as opiniões públicas têm reagido de forma drástica. Sempre que um partido (ou uma coligação prévia) ganha uma destas maiorias, os abusos políticos depressa são apontados por uma sociedade civil mais ou menos atenta, e os governos caem.
A economia tem sido, à outrance, um campo de batalha, com discursos partidários que se focam ou nos perigosos riscos de um engordamento do Estado ou na tragédia de um rápido empobrecimento de quaisquer entidades privadas, como se não houvesse possibilidade de ambos os domínios, o público e o privado, coexistirem como opções. Reduzir a economia apenas a decisões do Estado, ou apenas a iniciativas privadas, dá voz a uma falsa dicotomia, mal-aceite por uma grande fatia dos portugueses, sempre atentos por se lembrarem das consequências passadas desta outra forma de polarização.
2. Internacionalização: Democracia e Cosmopolitismo
Parece-me óbvio que educação, saúde, habitação e segurança são questões centrais para uma qualquer sociedade preocupada com o seu desenvolvimento e a sua sustentabilidade a longo termo – coisas que se têm vindo a modificar com as crescentes interdependências que decidimos, a meu ver bem, partilhar a nossa soberania – o que fizemos com a entrada na ONU, na NATO e na UE.
De início, é de sublinhar, o Estado não quis abdicar da sua inquestionável primazia, quando não de uma soberania absoluta que, mais tarde ou mais cedo, não seriam aceites pela ampla sociedade civil. Com o feliz advento da Democracia, infelizmente tal continua a ser o caso com as franjas polarizadas que têm vindo a crescer, ou as movimentações oportunistas de populismos “nacionalistas” que vão reemergindo de maneira recorrente. Tendo os cuidados necessários para garantir uma imigração que não nos divida, ao mesmo tempo que tentamos prevenir uma emigração que nos tem vindo a honrar, mas também a lesar.
Era bom acordarmos, e nos lembrarmos que crescemos quando nos abrimos ao exterior, indo também muitos de nós para fora e aceitando as entradas com um pluralismo democrático e cosmopolita sadio. O tempo dos mitos nacionais “orgulhosos” já passou. A nossa época dourada foi a de um Renascimento que todos nós parecemos ter esquecido…
3. Da Colaboração com os nossos Aliados a uma Inclusividade verdadeiramente Abrangente
Numa conjuntura global pós-bipolar hoje em dia numa crise de segurança e defesa, com uma escala nunca vista desde a Segunda Guerra Mundial, torna-se imperativo tomar consciência que “sozinhos” não iremos longe antes de uma nova série de crises sérias nos cair em cima.
Todos menos um ou dois dos partidos políticos entenderam o risco e têm sido seguidas as boas práticas dos nossos Aliados formais. Mas, num ano com 83 eleições no plano global, algumas das nossas Alianças podem soçobrar, designadamente com uma possível vitória de Trump nos EUA e dos partidos não-democráticos que têm vindo a crescer, na Europa Comunitária e no resto do chamado Ocidente Alargado.
Torna-se, para isso, indispensável uma implementação, tão rápida quanto possível, de uma estratégia nacional abrangente, articulada com os Aliados ocidentais em quem podemos confiar. Por meio de convergências em domínios essenciais como a segurança e a defesa coletiva, bem como com um reforço sério a nível da educação, a nível da economia (incluindo a saúde e a habitação) e, obviamente, também a nível militar. Para o conseguir, um bom sistema de educação é basilar e crucial, a todos estes níveis.
Tal só será exequível, no entanto, se soubermos evitar “sindicatos de voto” apostados em substituir processos democráticos livres, inclusivos e transparentes, garantindo um sistema de incentivos, de isenções fiscais, uma redução de impostos e sobrecargas absurdas que vêm de trás – dos períodos de maiorias absolutas que geram partidarismos autofágicos -, e por uma legiferação rápida convergente com as melhores práticas já em marcha entre uma grande parte dos nossos aliados.
Atendo-me a alguns exemplos: há que atuar, com rapidez, em domínios abrangentes como o reforço e gestação de novas empresas privadas e públicas (as start-ups inovadoras e, nelas, os unicórnios), em inovações de fundo nos nossos sistemas de educação (tornando-a mais meritocrática e menos focada nos seus interesses corporativos estritos e estreitos); no reforço de alternativas na saúde; no crescimento de uma habitação de que tanto precisamos; e, numa ampliação estratégica e cautelosa q.b., mas rápida e sustentável, dos domínios securitário e militar.
Teimamos em não ver que temos inúmeros aliados internos e externos, aos quais há que apoiar, o quanto antes, o terem mais voz.
Com efeito, decisões destas têm vindo a receber apoios fortes das gerações mais novas, que já perceberam a urgência de mudanças estruturais deste tipo. Elas são o nosso futuro. Há que ouvir com atenção as vozes dos nativos digitais, das mulheres, e das múltiplas minorias de todo o tipo que têm vindo a emergir. Sobretudo daquelas que, mal, temos vindo a menosprezar. Ou seja, celebrar a diversidade.
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