Quem entra no Zoo Santo Inácio, que surgiu numa quinta de família em Avintes, em Vila Nova de Gaia, sente logo que não está prestes a entrar num zoo tradicional. A casa da quinta, a pequena igreja, a vista para o rio Douro – da esplanada situada no alto da encosta -, tudo nos leva a crer que este espaço foi pensado ao pormenor pelos fundadores do projeto.
Intitulado o zoo mais verde do norte de Portugal, a verdade é que quase todo o percurso, que nos leva a conhecer cerca de 700 animais de 150 espécies distintas, é ladeado de frondoso arvoredo. Muitas destas árvores estão a agora a ser catalogadas, para que possam também ser dadas a conhecer aos visitantes. A integração dos animais com o paisagismo é uma das características deste bem conseguido espaço de preservação da natureza. Em 2023, o Zoo Santo Inácio recebeu 245 mil visitantes, o que representou um crescimento de 16% face ao ano anterior.
O zoo foi fundado no ano 2000 numa quinta da família Guedes, dona da Aveleda, uma das maiores empresas de vinhos nacionais, propriedade que estava então sem utilização. Atualmente já atinge os 15 hectares de parque, mas há projetos para aumentar o espaço para os 20 hectares.
Teresa Guedes, 42 anos, diretora do parque e elemento da família dona da Aveleda – que ainda mantém uma participação de 5% no local -, revela que serão necessários cerca de 3 milhões de euros para fazer as melhorias desejadas, como a ampliação do habitat e a reconversão do restaurante. O plano de investimento já está em marcha.
A paixão de Teresa Guedes pelos animais
Teresa Guedes tem quatro filhos pequenos, entre os cinco e os 11 anos, e todos adoram estar no zoo e dizem que querem estar, um dia, ligados ao local, ou como veterinários, ou como tratadores ou com outra função. Tal como a mãe, que seguiu o curso de Engenharia Zootécnica, na UTAD – Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, por paixão aos animais, também os quatro rebentos querem seguir o seu coração.
“A minha família sempre foi muito ligada à natureza. Costumo dizer que somos abençoados por pertencer à Quinta da Aveleda, que tanto nos trouxe, quer em termos de fauna quer de flora.”, refere Teresa Guedes. Explica que sempre acompanhou o pai, Roberto Guedes, – o mais novo dos irmãos da quinta geração de descendentes do fundador, que hoje gerem a Aveleda SA -, na jardinagem e nas pequenas tarefas da terra.
Quando foi estudar optou pelo curso que mais se aproximava desta paixão e esta foi uma decisão feliz. “Engenharia Zootécnica foi o curso que mais me preencheu e que me ensinou que, estudar o cavalo me aproxima da zebra, estudar a galinha, aproxima-me do flamingo. Depois é observar e ler muito para chegar ao conhecimento dos animais”, explica.
O projeto nasceu com a missão, desde o primeiro dia, de preservar as espécies, especialmente aquelas mais ameaçadas, num investimento inicial que terá rondado os 4 milhões de euros.
O Zoo Santo Inácio abriu as suas portas ao público em 2000, mas o sonho começara quatro anos antes, pela mão do seu pai. Roberto Guedes, que trabalhava na altura na Aveleda, ficou com a responsabilidade de criar um projeto para a Quinta de Santo Inácio, em Fiães, Avintes, para que o espaço, com 60 hectares, não se começasse a degradar. A opção recaiu sobre um parque zoológico, mas algo diferente do que era ainda habitual na época, ou seja, muito centrados na exposição em jaulas. “A ideia da família foi criar um parque onde se pudesse observar e sentir os animais selvagens em espaços amplos onde eles pudessem mostrar seus comportamentos naturais”, explica.
Assim nasceu o projeto com a missão, desde o primeiro dia em que nasceu, de preservar espécies, especialmente aquelas mais ameaçadas, num investimento inicial que terá rondado os 4 milhões de euros. Abriu primeiro como um pequeno zoo, com muitas aves e ao longo dos 24 anos de existência, foi crescendo a bom ritmo.
Inicialmente não foi fácil angariar visitantes, mas como o público escolar foi o que mais aderiu às visitas, este público acabou por trazer depois as suas famílias.
Teresa Guedes entrou na empresa em 2006, como diretora adjunta, para apoiar a gestão do pai, e aos poucos a equipa familiar foi angariando novas espécies, mais atrativas, como um hipopótamo e uma pantera das neves. Logo a seguir surgiram “os leões, os tigres, ou seja, os pesos pesados, que fazem a diferença na escolha e na credibilidade do negócio”, explica a diretora. Mudaram também de nome de Quinta de Santo Inácio, para Zoo de Santo Inácio, para não ser confundida com uma quinta com animais domésticos. Teresa assume, em 2011, quando o pai se reforma, a gestão do projeto familiar.
Quando o negócio muda de mãos
Porém, em 2013, o conde francês de La Panouse, e a sua esposa, foram visitar os jardins da Quinta da Aveleda e em conversa com um dos primos, chegaram à conclusão que também esta família, dona de dois zoos em França, queria investir num espaço de raiz em Portugal, em Fornos de Algodres. Depois de várias conversas, a família La Panouse, que tinha casa em Pedrógão Grande, investiu, através do seu grupo, Thoiry, no Zoo de Santo Inácio, adquirindo 95% da empresa à Aveleda. “Os valores e o espírito da família eram exatamente os mesmos do que os nossos e eles adoraram o zoo. E com os mesmo valores e a mesma missão, tudo flui. A grande aposta foi ampliar o zoo e fazer várias estruturas novas, como um túnel de vidro que atravessasse o habitat dos leões”, explica a diretora.
Com este investimento, o zoo, que na altura tinha 5 hectares com animais, passou a 7 hectares e meio. Foi feita a zona da savana africana, com as girafas, os rinocerontes, os leões, os tigres, as hienas.
Como o novo acionista tinha já 40 anos de experiência e o músculo financeiro era outro, o zoo começou a crescer e atrair mais visitantes. Porém, em 2016, a família francesa, ao tratar da sucessão, acaba por vender o grupo Thoiry a uma empresa de investimento francesa, a Ekko Capital que, entretanto, em 2022 também a vende à Kartesia, empresa especializada em investimentos em pequenas e médias empresas.
Questionada sobre as alterações que sentiu na gestão, devido ao facto de o zoo estar ligado a uma empresa de investimento, Teresa Guedes afirma apenas que “há maior exigência de resultados, mas sinto-me mais motivada para os atingir.
Sensibilização e preservação: qual o modelo de negócio?
Teresa Guedes refere que é possível aliar a preocupação pela preservação da natureza e o negócio. “O zoo é essencialmente sustentado pela venda de bilhetes e pelas vendas do restaurante e da loja. Mas o grosso é a bilheteira, que representa 70% das receitas”, refere.
Explica que o principal papel do zoo é a sensibilização para as espécies, para o equilíbrio dos habitats como um todo. “Sinto, com bastante orgulho, que o Zoo Santo Inácio foi um membro muito importante em Portugal para contribuir para este alerta. Em Portugal, os parques têm feito este papel, como o Oceanário de Lisboa, que tem feito um trabalho incrível. Por isso, sinto que as pessoas quando visitam o zoo vêm em lazer, sim, mas também saem com uma mensagem importante de conservação, da necessidade de fazer mais qualquer coisa”, explica a diretora.
Teresa Guedes fala ainda das ambições futuras: o próximo projeto para o zoo é ampliar com mais habitats para animais, com espaços grandes, e um parque infantil com mais diversão, para garantir um dia bem passado. Na calha também está a melhoria do restaurante existente. “Este é um projeto a dois anos, que deverá ser posto em marcha possivelmente ainda este ano. Neste momento temos 15 hectares e queremos aumentar mais 5, para atingir os 20 hectares de exposição. Trata-se de um investimento de cerca de 3 milhões de euros, que inclui novas infraestruturas e o restaurante”, refere.
Na sua vida pessoal, a ambição passa por conseguir equilibrar cada vez melhor o papel de mãe com o de gestora, o que nem sempre é fácil. “A maior dificuldade é a de ser mulher, mãe e profissional. Às vezes falhamos em algum lado e sentimos que não estamos a dar tudo o que queríamos dar. É preciso todo um equilíbrio para conseguir fazer todas as coisas bem feitas. Mas penso que estou a conseguir”, remata.