Licenciado em Gestão pela Universidade Nova de Lisboa e com posteriores formações em gestão, finanças e liderança (na Universidade Católica Portuguesa e em Londres, na London Business School), Martim de Botton assumiu as funções de CEO do LACS (Lisbon Art Center & Studios) no ano em que o cluster criativo completava quatro anos de existência, em 2022. Foi Managing Partner e fundador do Aruki Sushi Delivery, e anteriormente administrador da Santini, tendo estado envolvido em projetos de inovação na restauração ao longo de mais de dez anos.
À frente do LACS, Martim de Botton, 36 anos, quer potenciar o ADN da LACS, de expansão de espaços de trabalho flexíveis para proporcionar aos funcionários das empresas “uma extensão de casa num local de trabalho”.
Para Martim de Botton, o facto do LACS ser um espaço multi-empresas, onde criativos, freelancers, equipas de start-ups ou grandes empresas se cruzam, permite criar um cluster criativo de que todos os envolvidos podem beneficiar.
Que novos paradigmas trouxe o pós-pandemia à forma de trabalhar?
O LACS sempre se posicionou como sendo uma marca que oferece espaços de trabalho flexíveis para qualquer tipo de empresa ou profissão. Sempre quisemos ser um local onde grandes, médias ou pequenas empresas, empresários em nome individual, artistas, nómadas digitais, freelancers ou criativos convivessem e criassem uma comunidade que vista de fora, por ser tão heterogênea, fizesse pouco sentido, mas que debaixo do mesmo teto possibilitasse a criação de múltiplas sinergias. No pós-pandemia o LACS seguiu com a sua estratégia e aquilo que notámos foi um acentuar da procura de espaços de trabalho flexíveis por empresas multinacionais e de maior escala. Sempre fomos uma marca que agrega valor para o mercado numa perspetiva mais alargada, não só para pequenas empresas e freelancers, mas também para grandes empresas e multinacionais.
“No pós-pandemia, notámos um acentuar da procura de espaços de trabalho flexíveis por empresas multinacionais e de maior escala”.
Do lado do tecido empresarial notou-se uma nova procura por algo que não era uma necessidade antes – espaços para trabalhar que dêem às pessoas aquilo que o trabalho remoto permite, isto é, um maior conforto e flexibilidade enquanto se trabalha. Do ponto de vista das pessoas, começou-se a procurar uma extensão de casa dentro das empresas e esse é o nosso maior desafio em termos de serviço que devemos providenciar aos nossos membros: criar uma extensão de casa num local de trabalho. Aquilo que a marca LACS sempre ofereceu, mas que hoje sentiu necessidade de reforçar, vai ao encontro dos novos hábitos na forma de trabalhar das empresas e das pessoas, que foram exponenciados com o fim da pandemia. O nosso desafio passa por ajudarmos as empresas a trazerem as pessoas de volta ao escritório. Como? Ao criar um ambiente confortável, dinâmico, em que os trabalhadores conhecem outras realidades que os estimulem, que se alinhem com valores de lifestyle e lazer, mas sempre com o intuito de trabalharem e de se relacionarem com os outros. Os novos paradigmas são, nesse sentido, uma maior aposta em work-life balance.
“O nosso desafio passa por ajudarmos as empresas a trazerem as pessoas de volta ao escritório. Como? Ao criar um ambiente confortável, dinâmico”
Ainda tendo em conta o pós-pandemia, os espaços de coworking perderam vitalidade ou, pelo contrário, ganharam um impulso. Qual o motivo?
O sentimento de comunidade que encontramos no LACS leva-nos a perceber que ganhamos um maior impulso. Fruto do trabalho remoto, a ocupação dos escritórios ditos tradicionais ficou mais vazia e as empresas que pagam uma renda para terem 100% da sua equipa a trabalhar full-time percebem que tiram muito mais benefícios por estarem num espaço como o LACS. A flexibilidade na dimensão do espaço é um dos fatores chave para as empresas hoje escolherem o LACS. Num curto espaço de tempo uma empresa poderá aumentar os seus recursos e consequentemente o seu espaço de trabalho, sem ter que deslocar fisicamente a sua sede. Outro factor importante, nomeadamente para as empresas que querem manter os seus headquarters, é a possibilidade de diminuírem custos com os seus arrendamentos, tendo sedes mais pequenas e terem no LACS espaços mais pequenos, mais perto das áreas de residência dos seus trabalhadores e que não só reduzam o tempo de commuting, mas principalmente que possibilitam manter uma cultura de empresa, algo que tendo as suas equipas a trabalhar de casa acaba inevitavelmente por desaparecer. A criação de sinergias, de relacionamento com outras empresas e outros trabalhadores é outro factor que tem pesado bastante no momento de as empresas optarem pelo LACS em detrimento de outras soluções. Tendo em conta estes fatores, ao trabalhar no LACS, as empresas e os seus colaboradores conseguem atingir níveis de bem-estar e produtividade muito altos.
“Num curto espaço de tempo uma empresa poderá aumentar os seus recursos e consequentemente o seu espaço de trabalho, sem ter que deslocar fisicamente a sua sede”.
Como se consegue criar uma cultura de networking numa empresa?
Existe a cultura da empresa, que é criada pela própria empresa e que só estando fisicamente conectados acreditamos que seja reforçada. Depois existe a cultura da comunidade, que é criada por nós, pela equipa que gere o espaço LACS e que tenta sempre ir ao encontro daquilo que a comunidade pretende. O facto de termos uma comunidade que se caracteriza por ter espírito jovem, por ser dinâmica, empreendedora e social, faz com que a cultura da empresa seja reforçada através do networking que acontece no espaço de trabalho colaborativo. O dia a dia tem de ser de comunidade e não somente de trabalho. Quem vem trabalhar para o LACS vai ter momentos de inspiração por se relacionar com pessoas de diversas empresas e nacionalidades e esses momentos agregam valor para as empresas e traduzem-se em maior produtividade. De forma orgânica, acabamos por criar uma maior cultura de networking para todas as empresas que aqui se fixam.
“O dia a dia tem de ser de comunidade e não somente de trabalho”.
E como é que se consegue construir um espaço de trabalho voltado para a inovação e criatividade? Que conselhos daria?
O modelo de trabalho durante vários anos teve pouca evolução e podemos considerar que era muito mais standard. Hoje acreditamos num modelo de trabalho diferente, mais dinâmico e mais flexível, que dá largas à imaginação e permite impactar a produtividade de uma forma que antes era impensável. O facto é que o LACS se adapta às necessidades das empresas e ao seu ADN e isso permite agregar uma comunidade de empresas que encontram pontos comuns na sua criatividade e inovação, o que nos ajuda a moldar o paradigma do trabalho para uma versão que bebe muito da partilha. São exemplos disso as LACS Talks, uma iniciativa de conhecimentos transmitidos e partilhados que organizamos regularmente tanto com membros internos do LACS como com pessoas e entidades externas.
Este modelo de trabalho “permite agregar uma comunidade de empresas que encontram pontos comuns na sua criatividade e inovação”.
Para lá destas dinâmicas comuns e de comunidade, existem muitas outras paralelas que pertencem a cada empresa. No LACS damos espaço a cada um dos nossos membros para que tenham os seus momentos de cultura interna. A utilização dos seus private studios permite que tenham a sua “bolha” e para lá da cultura de comunidade poderem também trabalhar a sua cultura individual. Da nossa parte existem dinâmicas que permitem potenciar a inovação e a criatividade de cada empresa, tendo sempre em atenção que a principal atividade do LACS consiste em dar as melhores condições de trabalho a cada um dos seus membros.
Existe do lado de quem trabalha em coworking interesse em fazer networking com profissionais de outras empresas ou este tipo de “fusão” ainda não se verifica?
Sem dúvida que sim. Temos exemplos dentro do LACS de empresas que trabalham e trabalharam juntas e que cresceram pelo contacto que houve dentro da comunidade. O networking entre profissionais permite vender ideias e dar um boost ao próprio negócio. Estamos a desenvolver uma app para os nossos membros e isso permitirá potenciar negócios entre as empresas que estão no LACS e dessa forma satisfazer as necessidades dentro da nossa comunidade ao invés de ir ao mercado contratar esse serviço.
“Estamos a desenvolver uma app para os nossos membros e isso permitirá potenciar negócios entre as empresas que estão no LACS”.
Quais são as tendências internacionais que emergem para a criação de novos modelos de olhar para o trabalho?
O modelo de trabalho flexível é uma tendência mundial e estou certo que ditará o futuro no que respeita à forma de trabalhar. Há 5 anos, aquando da criação do LACS, houve essa visão e conseguimos, com muito trabalho da nossa equipa, introduzir essa tendência em Portugal. Ao dia de hoje não há uma cidade no mundo que não tenha um espaço de cowork, mas queremos distinguir-nos pela forma como estamos a criar uma tendência de fixar empresas do mundo em Portugal. As tendências emergentes que observo são precisamente as que temos estado a apostar no LACS sendo uma das principais a flexibilidade que damos aos nossos membros e às empresas que se instalam connosco. A aposta cada vez maior no conforto dos nossos espaços e na criação de zonas comuns para potenciar a produtividade e o networking entre os nossos membros é outro ponto que considero importante. Temos que ser cada vez mais exigentes para atrairmos as empresas e os seus talentos para dentro dos nossos espaços.
“Não há uma cidade no mundo que não tenha um espaço de cowork, mas queremos distinguir-nos pela forma como estamos a criar uma tendência de fixar empresas do mundo em Portugal”.
Em Portugal, esses “ventos” já se sentem?
Sim, temos, hoje, referências internacionais que apostaram no LACS, porque efetivamente também temos uma cultura internacional, muito pela forma flexível e adaptável com que olhamos para o trabalho.
É isso que o Martim procura trazer para o LACS, agora que está à frente da empresa?
Quero continuar a fazer do LACS um local diferente para os nossos membros e para quem nos visita, mantendo-nos fiéis à ideia de termos espaços onde o trabalho, a cultura e o lazer funcionam em perfeita harmonia. Nos últimos cinco anos, foi feito um trabalho notável que fez com que o LACS seja, ao dia de hoje, uma referência. O objetivo passa agora não só por manter a base, mas também crescer em termos de espaços, comunidade e satisfação dos nossos membros. Procuro manter o que de bom tem sido feito, potenciar ainda mais a marca e criar este ecossistema de empresas que vai desde a grande empresa ao freelancer ou artista, ao empreendedor ou ao nómada digital.
“O objetivo passa agora não só por manter a base, mas também crescer em termos de espaços, comunidade e satisfação dos nossos membros”.
Que objetivos pretende alcançar enquanto CEO do LACS?
Quero que a marca LACS seja uma marca para quem já é cliente, mas também para quem ainda não é. Diariamente muitas pessoas passam pelo LACS e a ideia é abrir o LACS para fora das suas portas e torná-lo uma marca para todos. Um dos principais objetivos é transformar o LACS nessa referência de ecossistema de trabalho, para quando as pessoas pensarem no LACS, idealizarem um espaço que pode ser aquilo que quiserem, adaptado a si, à sua empresa e que pode abranger o espectro de A a Z em termos de trabalho. No LACS as portas estão sempre abertas para qualquer forma de trabalho, seja ela individual (hotdesk p.ex.) ou em conjunto (private studios, salas de reunião, eventos,..), ou também para lazer e lifestyle, como por exemplo as nossas happy hours ou as aulas de yoga.
Que ideias em concreto traz para o LACS e que gostava de implementar?
Olhando para o negócio internamente, queremos qualificar cada vez mais a equipa, profissionalizar métodos de trabalho, posicionarmo-nos de forma diferente e conquistar mercado. A nossa equipa é a base do sucesso do LACS e para prosperarmos temos que estar preparados para reagir à exigência dos nossos clientes. Queremos prestar um serviço exímio, desde a forma como recebemos um novo membro, a todo o onboarding e feedback contínuo para que possa crescer e evoluir connosco. Outro tema que para mim é importante e que já estamos a implementar, é a criação de sinergias com marcas âncora que já têm um posicionamento muito bem trabalhado no mercado e com abrangência de clientes. Ao criar sinergias com marcas que são referência no setor onde atuam e com as quais, acima de tudo, nos identificamos em termos de valores e forma de estar no mercado, permite-nos entrar em novos territórios e entrar em contacto com novos públicos que podem ser futuros clientes do LACS. Já começámos a implementar esta estratégia, por exemplo, quando levámos o LACS ao mundo do surf e do ténis, com o Millennium bcp.
“Outro tema que para mim é importante e que já estamos a implementar, é a criação de sinergias com marcas âncora. Permite-nos entrar em novos territórios e entrar em contacto com novos públicos que podem ser futuros clientes do LACS”
No caso do LACS, este ano abriram um quarto espaço, em Santos. Qual foi a intenção e porquê esta localização?
O LACS Santos ainda não inaugurou oficialmente, mas dentro do plano de expansão este edifício encaixa na perfeição, não só pela sua localização próxima do LACS Conde d’Óbidos, mas também porque permite continuar a nossa aposta em espaços onde somos o único arrendatário. A intenção é sempre escolher edifícios icónicos e que tenham uma história e o caso do LACS Santos [localizado no nº 98 da Avenida 24 de julho] assentou na perfeição nessa estratégia visto que é um edifício Prémio Valmor de Arquitetura desenhado pelo arquiteto Gonçalo Byrne.
Este quarto espaço, que hoje nos põe a gerir mais de 25 mil metros quadrados, abriu porque percebemos que havia essa necessidade junto de atuais membros cujas empresas estavam a crescer e precisavam de evoluir para espaços mais amplos e também pela crescente procura de empresas em se instalarem no LACS.
Este espaço em Santos que características tem? É diferente dos outros três?
Este espaço tem cerca de 5.000 metros quadrados distribuídos por cinco pisos e um rooftop com uma vista 360º sobre o Rio Tejo e o jardim do Museu Nacional de Arte Antiga. É similar aos outros três no que diz respeito à continuidade que queremos dar na linguagem, mas vai marcar um ponto de viragem que irá ser replicado em seguida nos demais espaços. O LACS Santos visa apresentar uma nova identidade da marca LACS.
Planeiam abrir mais espaços em Lisboa até ao final do ano? Quantos e onde?
Estão em negociação mais espaços em Lisboa, e também fora de Lisboa. O LACS vai continuar a fazer o seu caminho.
Que tipo de empresas e pessoas recorrem a espaços como os que o LACS possui?
O LACS é um espaço multidisciplinar onde criativos, freelancers, equipas de startups ou grandes empresas se cruzam. Posicionamo-nos como um cluster criativo muito ligado às indústrias criativas e de entretenimento, mas que ao mesmo tempo conta com um crescente número de empresas e empreendedores. Aproximadamente metade dos nossos membros é de origem estrangeira, de 52 nacionalidades diferentes, que encontraram no LACS a sua comunidade e um hub com grande diversidade de culturas e interesses.
“Posicionamo-nos como um cluster criativo muito ligado às indústrias criativas e de entretenimento”.
Quantos profissionais atualmente trabalham nos espaços do LACS e em termos de ocupação que percentagem ainda têm disponível?
Temos uma comunidade que já alcançou mais de dez mil pessoas e duas mil empresas. Atualmente nos 4 LACS temos mais de 3 mil membros e 250 empresas instaladas. Na cidade de Lisboa, na Rocha Conde d’Óbidos e nos Anjos, temos uma taxa de ocupação de 100%. Já o pólo de Cascais, tem tido um crescimento muito acentuado na procura e conta com uma taxa de ocupação de 80%. O LACS Cascais, por exemplo, é o local perfeito para grandes empresas que têm as suas sedes em Lisboa criarem pequenos pólos. Permite que os seus colaboradores que morem perto desse nosso edifício ao invés de trabalharem remotamente de casa, se instalem no LACS Cascais e dessa forma, ao estarem juntos, conseguem seguramente aumentar a sua produtividade e manter viva a cultura da empresa. O edifício de Santos que ainda não abriu oficialmente, já tem uma ocupação de 70%.
Qual é a tipologia de espaços mais procurados?
Os espaços tendencialmente mais procurados são os “private offices”. A marca LACS tem sido procurada cada vez mais por empresas corporate, algo que era inimaginável no passado – estarem presentes em espaços de cowork e não com a sua própria morada. Agora, mesmo as maiores empresas podem manter a sua sede num espaço mais reduzido e depois terem espaços polarizados com maior proximidade às áreas de residência dos trabalhadores, o que aumenta a qualidade de vida dos mesmos. Hoje ainda, pela flexibilidade que damos aos clientes, somos cada vez mais procurados para eventos, workshops, team buildings, mesmo que por parte de empresas que não estejam sediadas nos nossos edifícios e que querem beneficiar da comunidade.
“Mesmo as maiores empresas podem manter a sua sede num espaço mais reduzido e depois terem espaços polarizados com maior proximidade às áreas de residência dos trabalhadores, o que aumenta a qualidade de vida dos mesmos”.
Um dos vossos serviços é um escritório virtual, apresentando-o como “para quem ainda não precisa de um espaço de trabalho físico, mas já tem a sua empresa e necessita de uma morada profissional”. Tem uma boa procura esse serviço ou nem por isso?
Sim, este serviço de “escritório virtual” tem uma elevada procura. Em primeiro lugar, por estrangeiros que acabam de chegar a Lisboa e ainda estão a dar os primeiros passos para entender se será uma mudança a longo prazo, e por outro lado, por empresas recém-criadas que podem ainda não ter uma equipa que precise de reunir fisicamente. As empresas crescem com o LACS e nós estamos sempre a adaptar-nos ao que precisam e quando precisam. Quando vêm buscar o correio, por exemplo, que é um dos benefícios de terem a morada profissional aqui, vibram com a comunidade e os eventos a acontecer e prometem voltar.
Em jeito de convite, o que diria a algum profissional liberal ou empresa para os convencer a optar por trabalhar num espaço como os do LACS?
As palavras-chave são partilha e flexibilidade. Acredito que depois de uma pessoa entrar pela porta do LACS não é necessário convencê-la a ficar. Será quase uma decisão natural após sentir o espaço, experienciar a cultura de comunidade e toda a vibração que os espaços LACS têm para oferecer. O LACS é um espaço de todos e para todos.