Em conversa com a Forbes Portugal, Maria Ana Encarnação, Startup Manager do Web Summit, fala sobre o que está a transformar o universo das startups: da revolução da inteligência artificial ao novo perfil de fundadores que combinam tecnologia, propósito e responsabilidade. Com experiência em empresas como o Santander e a Leroy Merlin, e formação pela Università Bocconi e pela IE Business School, Maria Ana integra hoje uma das equipas mais influentes do panorama tecnológico global, responsável por selecionar e acompanhar milhares de startups que se apresentam nos palcos do Web Summit.

Que trends emergentes é que estão a moldar o futuro das startups, local e globalmente?
Maria Ana Encarnação: A evolução da inteligência artificial é, sem dúvida, a tendência mais dominante e transformadora dos últimos anos, com um impacto duradouro no cenário das startups, tanto a nível local como global. A maioria das startups utiliza agora alguma forma de IA nas suas soluções, levando ao surgimento de novas aplicações. Em Portugal e em toda a Europa, as startups de tecnologia financeira também apresentam um crescimento sustentado.
A evolução da inteligência artificial é, sem dúvida, a tendência mais dominante e transformadora dos últimos anos.
Que critérios privilegia na seleção das startups que participam em eventos como o Web Summit?
Maria Ana Encarnação: O nosso foco na seleção de startups é a inovação e a escalabilidade, visto que o nosso objetivo é oferecer aos nossos investidores e parceiros o acesso a empresas que não só resolvem problemas, mas que têm potencial para se tornarem líderes globais.

Quais considera serem as principais qualidades que definirão a próxima geração de fundadores de startups bem-sucedidos?
Maria Ana Encarnação: A próxima geração de fundadores vai destacar-se pela forma como compreende e utiliza a IA, bem como pela sua capacidade de manter a resiliência num mundo em que o capital é mais difícil de obter. Construir uma empresa exigirá fazer mais com menos. Ao mesmo tempo, os fundadores precisarão de um forte sentido de propósito e responsabilidade.
A tecnologia traz consequências reais, tanto sociais como regulatórias, e tanto investidores como consumidores estão cada vez mais atentos. Os fundadores mais bem-sucedidos serão aqueles que conseguirem equilibrar a inovação com a ética e que se conseguirem adaptar rapidamente através de pensamento estratégico.
Os fundadores mais bem-sucedidos serão aqueles que conseguirem equilibrar a inovação com a ética e que se conseguirem adaptar rapidamente através de pensamento estratégico.
Como antevê a evolução do papel de grandes eventos tecnológicos, como o Web Summit, nos próximos anos?
Maria Ana Encarnação: À medida que a inteligência artificial e outras tecnologias continuam a evoluir a um ritmo acelerado, os eventos Web Summit tornam-se espaços essenciais para que as pessoas conectem, debatam ideias e compreendam as mudanças que estão a acontecer.
O que começou em 2009 como um encontro de 150 pessoas em Dublin cresceu e tornou-se um dos maiores ecossistemas tecnológicos do mundo, reunindo mais de um milhão de fundadores, investidores, meios de comunicação e decisores políticos nos seus eventos globais. Os nossos palcos já receberam muitas das vozes mais influentes da tecnologia, política, cultura e sociedade, incluindo Sam Altman, Elon Musk, Tim Berners-Lee, Al Gore, Ursula von der Leyen, Serena Williams e Will Smith.
Os nossos palcos já receberam muitas das vozes mais influentes da tecnologia, política, cultura e sociedade, incluindo Sam Altman, Elon Musk, Tim Berners-Lee, Al Gore, Ursula von der Leyen, Serena Williams e Will Smith.

Mas não se trata apenas do que acontece nos nossos palcos. A nossa missão é simples: conectar pessoas e ideias que moldam o futuro. Em Lisboa, Doha, Rio de Janeiro e Vancouver, os nossos eventos motivam conversas que levam a parcerias, investimentos e o surgimento de novas empresas que acabam por mudar indústrias. Um bom exemplo é a Revolut. A equipa chegou à Web Summit com pouco mais do que um pequeno stand de um metro e, hoje, é a empresa privada de tecnologia mais valiosa da Europa. Histórias como esta mostram o verdadeiro espírito da Web Summit: fundadores ambiciosos que chegam com uma ideia e saem com as relações, a visibilidade e o impulso necessários para transformar o mundo.
A nossa missão é simples: conectar pessoas e ideias que moldam o futuro.
Que regiões ou setores acredita que irão gerar as startups mais promissoras num futuro próximo?
Maria Ana Encarnação: Há um crescimento expressivo em toda a África, especialmente na Nigéria, impulsionado por uma população jovem e pela procura crescente por soluções de fintech e healthtech. Esse dinamismo também se estende ao Médio Oriente. Em 2023, lançámos o Web Summit Qatar e, em apenas dois anos, o evento já atraiu milhares de fundadores, investidores de capital de risco e líderes empresariais a Doha. O Web Summit Qatar está a tornar-se um ponto de encontro para a nova geração de empreendedores de toda a região: do Médio Oriente e África à Índia e além. E já vemos resultados concretos: startups como a Snoonu estão a expandir-se internacionalmente, enquanto fundos como a Qatar Investment Authority estão a investir em programas que apoiam a inovação local e ajudam os fundadores a escalar para o mundo. O sul e o leste da Europa também estão a fortalecer a sua posição como centros competitivos para talentos de engenharia, especialmente para startups B2B com ambições globais.

O Web Summit Qatar está a tornar-se um ponto de encontro para a nova geração de empreendedores de toda a região: do Médio Oriente e África à Índia e além.
No que diz respeito aos setores, as maiores oportunidades estão na intersecção da IA e da deep tech, com grandes avanços em áreas como a saúde, particularmente em soluções de diagnóstico, e na transição energética.
Nota, ou considera, que a relação entre investidores e startups está a mudar a nível global?
Maria Ana Encarnação: Os investidores estão a ser mais seletivos, especialmente no que diz respeito ao financiamento em fases mais avançadas. A era do “crescimento a qualquer custo” acalmou e os investidores estão agora mais focados no crescimento sustentável e na rentabilidade.

Qual será o maior desafio, e simultaneamente a maior oportunidade, para as startups na próxima década?
Maria Ana Encarnação: O maior desafio será a concorrência pela eficiência e pelo talento em IA. As startups que não conseguirem integrar a IA para otimizar os seus processos terão dificuldades em competir em termos de custo e velocidade. Ao mesmo tempo, a IA traz a oportunidade de transformar indústrias inteiras e abre espaço para novas ideias e novas formas de trabalhar.
A IA traz a oportunidade de transformar indústrias inteiras e abre espaço para novas ideias e novas formas de trabalhar.
É por isso que a IA será um grande foco na Web Summit 2025. Fundadores, investidores e líderes globais vão discutir como adotar a IA e usá-la como uma vantagem competitiva desde o primeiro dia.
Pessoalmente, estou interessada em palestras que explorem como os governos estão a moldar políticas de segurança, acesso a dados e propriedade económica em IA, juntamente com sessões sobre o aumento do chamado vibe coding, em que os produtos são criados através de linguagem natural em vez da programação. Estou muito curiosa para ouvir o que empresas como a Replit e a Lovable terão a dizer nos palcos da Web Summit.





