“Vivemos num mundo em que há uma notória escravatura humanizada, uma mercantilização do desporto”

O Grupo TrueClinic, em parceria com a SIGA – Sport Integrity Global Alliance, promoveu o Fórum “Saúde e Integridade no Alto Rendimento”, que se realizou na Arena da Liga Portugal, no Porto, reuniu especialistas do desporto profissional nacional, para debater desafios e construir pontes entre saúde, bem-estar, ética, proteção e integridade dos atletas. O painel…
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Jerry Silva, advogado que participou no Fórum “Saúde e Integridade no Alto Rendimento”, sobre ética, bem-estar e proteção física e mental dos atletas, organizado pela TrueClinic, denuncia a “mercantilização do desporto” que tornou os desportistas profissionais envolvidos numa “notória escravatura”.
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O Grupo TrueClinic, em parceria com a SIGA – Sport Integrity Global Alliance, promoveu o Fórum “Saúde e Integridade no Alto Rendimento”, que se realizou na Arena da Liga Portugal, no Porto, reuniu especialistas do desporto profissional nacional, para debater desafios e construir pontes entre saúde, bem-estar, ética, proteção e integridade dos atletas.

O painel “A proteção da integridade física do Atleta – Implicações jurídico-legais” centrou o debate na necessidade de conjugar a proteção jurídica e clínica dos atletas, garantindo a sua integridade física, sem comprometer a carreira profissional.

De acordo com Jerry Silva, advogado, juiz-árbitro do TAD (Tribunal Arbitral Desporto), “vivemos num mundo em que há uma notória escravatura humanizada, uma mercantilização do desporto”. O juiz-árbitro relevou a importância de se discutir “de que forma é que a proteção do cidadão, do ser humano – sobretudo da sua saúde e integridade física – vai encontrar amparo. não só do ponto de vista legal e regulamentar, mas também das opções estratégicas das instituições”.

João Gonçalves, jogador do AFS, falou sobre a sua lesão, uma rotura do ligamento cruzado anterior que o afastou do desporto vários meses, e do que experienciou ao longo de todo o processo de recuperação. Referiu ainda a importância da partilha de experiências entre atletas, para melhor se compreender a necessidade de acompanhamento físico e psicológico.

Da esquerda para a direita: Nuno Vieira (moderação), Jerry Silva, Júlio Marinheiro e João Gonçalves

Nesse sentido, o médico ortopedista Júlio Marinheiro propôs a criação de um “passaporte médico único”, disponível para os clubes, com todo o historial médico do atleta: “Os atletas querem ver as suas lesões resolvidas, muitas vezes não estão preocupados em saber a extensão das mesmas, sejam elas físicas ou mentais. Há clubes que têm capacidade para as resolver e outros, por questões estruturais, não. Por isso, é importante a existência de seguros de saúde para os atletas, pois garante-lhes proteção”.

O segundo painel teve como tema “O Atleta para além do ativo”, e abordou a transição do atleta após a carreira ativa, a saúde mental e o bem-estar a longo prazo.

Jorge Andrade, ex-futebolista, relembrou que “o mais difícil não foi a primeira lesão, mas as seguintes, sobretudo na parte final da minha carreira. Mentalmente foi muito complicado. Estou orgulhoso da minha carreira, mas ciente de que mentalmente não estava preparado para enfrentar determinadas situações, nomeadamente nos tempos de recuperação das lesões”.

Jorge Andrade

Vítor Gomes, ex-futebolista e diretor de futebol do Rio Ave FC, recordou que, “durante muitos anos, jogar com dor era normal. Os clubes queriam resultados, e era o que mais interessava. Nos últimos anos, os jogadores têm deixado de ser tratados como ‘coisas’”. Alertou também que, no futebol, “um jogador pode ser muito importante para determinado jogo, mas pode estar a forçar ou a piorar uma lesão”.

António Miguel Cardoso, presidente do Vitória SC, afirmou que “o excesso de jogos e o calendário sobrelotado é perigoso e pode matar o futebol. É muito importante os atletas e a restante estrutura terem férias, o ‘parar’ é necessário”. Realçou ainda que “além da qualidade técnica, os hábitos alimentares e as rotinas diárias também são fundamentais para o desenvolvimento [do atleta]”.

Da esquerda para a direita: Sérgio Krithinas (moderação), Jorge Andrade, Vítor Gomes, António Miguel Cardoso e Miguel Gouveia de Brito

Miguel Gouveia de Brito, CEO da TrueClinic e Council Vice-Chair da SIGA sublinhou que “o Grupo TrueClinic trabalha diretamente na indústria do desporto e valoriza profundamente a integridade e a transparência. Este Fórum é uma aposta forte para se falar sobre integridade, mas aprofundando o tema do bem-estar do atleta, um ativo muito importante, que tem de ser visto pelas sociedades desportivas como mais do que um ativo financeiro: acima de tudo, é um ativo humano”.

Miguel Gouveia de Brito

O CEO da TrueClinic acrescentou que “é preciso fazer prevenção (…). Em Portugal, as sociedades desportivas já começaram a perceber que fazer este investimento nos departamentos de performance, não é um custo, mas sim uma garantia, pois perceberam que é importante preservar bem os seus ativos, para conseguirem estar em máxima performance”.

O encerramento ficou a cargo de Emanuel Macedo de Medeiros, Global CEO da SIGA, que reforçou a importância de iniciativas internacionais na promoção de integridade e boa governança no desporto. “É preciso dar atenção aos atletas, não apenas ao seu bem-estar físico, não apenas responder e prevenir muitos dos desafios que se têm acumulado e agravado ao longo dos anos – como a sobrecarga física e psicológica que sobre eles impende. As competições não podem aumentar sem ser à custa do dispêndio enérgico, físico, anímico dos atletas e treinadores”, concluiu.

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