Uma vila histórica em Roma com a única pintura de teto de Caravaggio – e um preço de US$ 410 milhões – não conseguiu garantir nenhuma oferta durante um leilão ordenado pelo tribunal, como parte de uma disputa de herança numa das famílias nobres mais antigas da Itália que possui a propriedade há mais de quatro séculos.
Villa Aurora, uma mansão localizada ao sul dos Jardins Borghese de Roma, não recebeu nenhuma licitação durante o leilão online realizado através de um portal online que vende, entre outros itens, propriedades que foram contestadas em tribunal ou apreendidas.
O preço pedido para esta casa, que tem a pintura “Júpiter, Netuno e Plutão” no seu teto, era de cerca de US$ 410 milhões, mas o leilão teria aceitado lances mínimos a partir de US$ 307,6 milhões. Mas tal não aconteceu.
Mediante isto, outro leilão foi agendado para 30 de junho, e o preço pedido será reduzido em 20%, para cerca de US$ 327,6 milhões, na esperança de atrair mais investidores.
O mural de Caravaggio tem 2,75 metros de largura e retrata Júpiter, Neptuno e Plutão numa cena alegórica.
A Villa Aurora faz parte de uma disputa de herança entre a princesa Rita Boncompagni Ludovisi, nascida no Texas, e os três filhos do seu falecido marido, o príncipe Nicolò, cuja família comprou a propriedade há cerca de 400 anos.
Esta foi já a segunda vez que a Villa Aurora não garantiu nenhum lance em leilão, o que o professor especializado em clássicos da Rutgers University, T. Corey Brennan – que trabalha em estreita colaboração com Rita Boncompagni na pesquisa e digitalização dos arquivos da propriedade – disse à Forbes que este desinteresse pode ser devido ao facto da venda estar a ser tentada através de um portal de leilões, comparando o processo a “vender Monticello no eBay”.
Todo este processo resulta da execução de uma ordem de um tribunal italiano que exigiu que Rita Boncompagni leiloasse a casa e dividisse os lucros com os seus enteados após anos de batalhas legais desde que Nicolò morreu em 2018.
A propriedade foi originalmente avaliada em cerca de US$ 546 milhões, o que a tornaria a casa mais cara alguma vez vendida.
Mas o fracasso da Villa Aurora em obter quaisquer lances no preço mínimo de quase US$ 400 milhões durante o primeiro leilão em janeiro fez com que o preço inicial fosse reduzido em cerca de 20% para o segundo leilão, que se realizou agora.
Se a propriedade não receber lances pela terceira vez, existe a possibilidade de o Estado italiano intervir, dado que também tem o direito de preferência e – se igualar o preço final do leilão – pode comprar a propriedade. Uma petição online, pedindo que o Ministério da Cultura da Itália adquira a casa, foi lançada, de resto, no ano passado.
Nesta casa, atualmente, Rita Boncompagni disse à Forbes que está a hospedar em Villa Aurora uma família de quatro pessoas que fugiu da Ucrânia.
De acordo com o professor de história da Universidade Sapienza de Roma, Alessandro Zuccari, que foi contratado pelo tribunal para avaliar a propriedade antes da venda, o valor apenas do mural de Caravaggio é de US$ 360 milhões.
Apenas cerca de 90 pinturas atribuídas a Caravaggio ainda existem, e “Júpiter, Netuno e Plutão” é a única no teto. Caravaggio foi contratado para pintar o teto quando tinha vinte e poucos anos pelo cardeal italiano Francesco Maria del Monte, que construiu a Villa Aurora e também colecionou algumas das pinturas mais conhecidas de Caravaggio, incluindo “Os Músicos”, “Baco” e “A Adivinha”.
A Villa Aurora já fez parte de uma propriedade muito maior e extensa de 35 hectares que foi transformada em lotes menores em 1885 para criar a Via Veneto, a principal rua comercial de Roma.
Além do teto de Caravaggio, esta propriedade abriga obras de arte atribuídas a Michelangelo, Guercino, Pomarancio, Paul Bril, Giovanni Battista Viola e Domenichino.
A propriedade fica perto do ponto mais alto das Muralhas Aurelianas de Roma, onde, segundo alguns historiadores, Júlio César hospedou Cleópatra numa de suas casas.