O trabalho de atriz consiste em vestirmos outras peles, outras máscaras, interpretar personagens distantes de nós. Esse trabalho, que faço há mais de 20 anos, permite-me hoje ter outro olhar sobre o mundo e sobre as pessoas que me rodeiam, permite-me sentir mais empatia pelo outro. Às vezes olho à minha volta e sinto muitas pessoas doentes. Sinto que existem muitas pessoas com olhares tristes por trás das máscaras sociais. Sinto que há emoções mal geridas causadas por feridas profundas.
Há uns dias parei no trânsito à frente de um polícia sinaleiro. Uns minutos depois deixei descair um pouco o carro por distração, e a reação do polícia foi de raiva comigo, querendo impor o seu poder como se eu estivesse a fazer-lhe uma afronta. Comecei logo a questionar-me que questões pessoais terá para eu ter despoletado uma reação tão agressiva. Questionei-me também sobre que mundo é este em que as hierarquias de poder se sobrepõem à troca de olhares humanos e palavras doces.
Também eu vivi durante muitos anos num sofrimento escondido. Tinha aquela que penso ser a necessidade mais comum a todos os seres humanos – necessidade de amor, necessidade de que gostassem de mim. Essa necessidade fazia-me colocar as necessidades dos outros à frente das minhas, fazia-me desvalorizar-me no meu trabalho e nas minhas relações.
Comecei a ter reações físicas: tonturas, dificuldade em respirar, coração acelerado, alterações de humor… Felizmente nunca tive grande dificuldade em adormecer, apesar de observar essa condição em muitas pessoas. Choca-me como adultos jovens começam tão cedo a tomar ansiolíticos e comprimidos para dormir e como esse hábito se normaliza por toda a vida adulta. O mais comum é procurarmos “pensos rápidos” e diagnósticos palpáveis como síndrome do cólon irritado, gastrites ou algo que justifique o nosso estado físico e que nos permita tomar um qualquer comprimido para que passe. A questão é que não passa. Enquanto tratarmos os sintomas sem tratar as suas causas, não há cura possível. É urgente tirarmos tempo para o nosso bem-estar. É urgente cuidarmos de nós sem culpa e tratar as nossas feridas emocionais. É urgente fomentar o amor e a empatia.
A psicoterapia de análise bioenergética mudou a minha vida. Fiquei a conhecer-me melhor, aprendi a autorregular-me e deixei de ter sintomas incómodos que eram manifestações dos meus medos, inseguranças e falta de amor-próprio. Em paralelo, as terapias não convencionais começaram a ganhar cada vez mais espaço na minha vida, e passei a praticar a prevenção em vez de tratamentos agressivos. Aprendi sobre novas formas de pensamento e passei a aplicar esse conhecimento na minha vida, obtendo resultados imediatos.
Não podia guardar tudo isto só para mim. A vantagem de ser figura pública é o alcance da nossa voz. Podemos chegar a muitas pessoas em pouco tempo, e as redes sociais trouxeram a possibilidade de comunicarmos de forma mais direta e eficaz. Criei o podcast Kológica porque queria aprofundar todos os temas que já mencionei, falar e aprender com especialistas de diversas áreas. O podcast tornou-se num palco para pessoas que admiro e a quem consigo dar voz. Nunca pensei que chegasse tão longe. Comecei a receber muitos pedidos de ajuda e mensagens de agradecimento. Pedem-me contactos de psicólogos e partilham desafios pessoais buscando conselhos e alento. Há momentos em que nos sentimos sozinhos e pensamos que temos pensamentos e emoções que mais ninguém vai entender, e com a Kológica quero quebrar essa sensação. Quero aproximar seres humanos que almejam mais qualidade de vida e felicidade. Quero desmistificar a crença de que “psicoterapia é para malucos”. Malucos vamos ficar se não começarmos a ouvir o nosso corpo e a tratar das nossas emoções e pensamentos!
A pandemia, com todos os seus desafios económicos e pessoais, trouxe um despertar global. Os nossos valores foram questionados, e as nossas vidas, sacudidas. Deixámos de tomar por garantido o nosso trabalho, as nossas posses, a nossa saúde e as nossas relações. Deparámo-nos com a nossa própria vulnerabilidade, com a solidão, com as nossas necessidades mais profundas. A mim, trouxe-me algo de muito positivo, apesar de eu ter algum pudor em verbalizá-lo. Trouxe-me um dos bens mais valiosos – tempo. Usei esse tempo para aprender a ser feliz. Tirei vários cursos online, comecei a ter uma prática de ioga e meditação regular, investi na minha criatividade com o meu filho, aproveitei as tecnologias para falar com pessoas com quem não falava há anos, ganhei mais consciência do nosso impacto no planeta. Na verdade, passei a sentir mais conexão, e é essa conexão que quero levar às pessoas com o meu projeto.
Kológica é raciocínio positivo. Kológica é um mote, um lema, uma forma de estar (bem). O que começou por ser um podcast pouco depois se desenvolveu para uma plataforma de cursos online. Autoconhecimento, corpo, alimentação, ambiente e relacionamentos são as caixas onde entram todos os temas de desenvolvimento pessoal que quero partilhar. Tal como faço a curadoria dos meus convidados no podcast, na minha plataforma faço a curadoria de formadores que tanto respeito. A plataforma passou a ser a minha galeria de arte onde faço a curadoria de curadores.
Agora quero estar cada vez mais perto das pessoas e criar uma comunidade de seres humanos conscientes. Há cada vez mais necessidade de sentir que pertencemos a algo. Há cada vez mais necessidade de lugares, ambientes e eventos onde nos podemos expressar e viver em verdade sem medo do julgamento de quem está mais perto de nós. A Kológica oferece retiros para quem quer tirar um tempo para si, oferece viagens conscientes para quem quer viajar com propósito e cria ainda programas e palestras personalizadas a empresas, de acordo com as necessidades.
O negócio do bem-estar não é uma moda, é uma urgência, e merece ser valorizado. Acredito em boas intenções e sinergias, não acredito em competição neste meio. Eu, como tantos outros, estou a investir o meu tempo e o meu dinheiro em adquirir ferramentas que possam vir a impactar positivamente a vida das pessoas. A pandemia trouxe novas ideias e novos negócios com propósito. Quero dar a oportunidade às pessoas de poderem investir em si próprias também e descobrirem como a vida é bela e que vale a pena ser feliz.
Artigo publicado na edição de abril/maio 2023 da Forbes Portugal.