Durante a Forbes Annual Summit, Carlos Oliveira, CEO da Fundação José Neves, Nádia Reis, diretora de responsabilidade social do Continente, e Miguel Poiares Maduro, Dean na Católica Global School of Law, falaram sobre o tema da economia de impacto e responsabilidade social. Em baixo, reveja os temas que marcaram desta conversa.
Inovação
“A inovação faz parte do nosso ADN e terá de fazer. A inovação tem inerente a questão de corrermos o risco. Temos tentado da melhor forma entrar neste território do empreendedorismo social, da inovação social e do investimento social. É um caminho ainda necessário desbravar. Temos tido um apoio substancial, que nos vai permitindo perceber onde devemos atuar, onde é que colocamos cada euro, mas também com este retorno de medir o impacto social. Não queremos apenas manter-nos naquela lógica tradicional da filantropia de dar apenas o peixe, mas também dar a cana e capacitar.”
– Nádia Reis
Evolução tecnológica
“Com esta revolução que estamos a ter no mundo, uma evolução acelerada, eu acredito que é a primeira vez que a espécie humana está em tempo real a assistir a um desenvolvimento exponencial em que a tecnologia está a alterar tudo o que fazemos, da educação aos negócios. Eu não acho que isto seja um hype, este tema da inteligência artificial, é de facto algo que está a transformar aquilo que é possível fazer, as competências que as pessoas necessitam para fazer o que fazem. E portanto, temos que alterar os nossos temas e o sistema de ensino em Portugal. A Fundação tenta alertar para essa questão.”
– Carlos Oliveira.
Educação
“Nós vimos há poucos dias os alarmantes dados, não surpreendentes, mas alarmantes, do Programme for International Student Assessment em que demonstram que um estudante de 15 anos em Portugal tem hoje menos um ano de escolaridade que um estudante em Portugal que tinha 15 anos em 2018.”
– Carlos Oliveira
“Um jurista tem um determinado número de funções que uma máquina consegue fazer, que é repetitivo. Quer dizer que as pessoas vão ter de ter outras competências, não é um drama. Seguramente as pessoas vão perder profissões, mas vão-se criar tantas outras necessidades que o importante é nós ao longo da vida irmos atualizando os conhecimentos. Os portugueses têm de entender que a educação continua a ser fundamental para o desenvolvimento do país e para o seu desenvolvimento pessoal. Aqueles que não o fizerem, neste estado das coisas, vão estar ainda pior do que aqueles que vão fazer. Nós não podemos continuar a satisfazer-nos com tão pouco. Isso não é bom para um país que precisa muito de desenvolver-se.”
– Carlos Oliveira
Políticas públicas e privadas
“Eu acho que é interessante, talvez muitas pessoas não saibam, mas foi no governo em que eu fui ministro que se criou o Portugal Inovação Social, que é o primeiro programa com fundos europeus de promoção de investimento de impacto e de inovação social. E deixem-me dizer, porque é um caso raro em Portugal, nós temos o mérito de o criar, mas há muito mérito também de quem o manteve. Penso que é essa continuidade que se conseguiu ter nessa matéria que faz com que Portugal seja um exemplo.”
-Miguel Poiares Maduro
Impacto
“O que interessa não é saber quantos professores nós temos, quantos metros quadrados de escolas construímos, o que interessa é saber que impacto é que isso tem no sucesso escolar, o que estamos a conseguir ter em termos da redução do abandono escolar. São esses os resultados que nos interessam. O que nos deve interessar não é saber o número de pessoas que tem formação profissional, o que nos deve interessar é saber quantas dessas pessoas é que conseguem emprego no mercado de trabalho, qual é o salário que essas pessoas conseguem, que melhoria de salário é que conseguem ter. É mudar a cultura das políticas e das instituições públicas nesse sentido dos resultados.”
– Miguel Poiares Maduro
“A Escola Missão Continente nasce com a necessidade de reduzirmos a obesidade infantil em Portugal, valores substancialmente preocupantes, e uma empresa como nós tem de ter esse tema como preocupação. Este programa pretende ao longo de todo o ano levar conteúdos que permitam mudar o comportamento das crianças para que mais tarde sejam consumidores mais sustentáveis e que tenham um consumo mais consciente. O impacto deste programa está a ser medido cientificamente, estamos ao longo de quatro anos a analisar o comportamento, e a medir qual é a mudança de comportamento ao longo de quatro anos. Em apenas dois anos já houve uma redução no consumo de refrigerantes, cerca de 12% destas crianças já consomem menos 12% de refrigerantes, e aumentaram em 10% o consumo de frutas e legumes. É uma forma de medição, associada àquilo que é o nosso setor de atividade, mas de forma a criar um impacto social positivo que não passa exclusivamente por financiar um ou outro projeto.”
– Nádia Reis
“O tema da medição de impacto é que eu acho que é o tema fundamental. Se nós continuarmos a olhar para estes incentivos de uma forma ‘é dinheiro que está disponível para ser gasto’ e não como ‘é dinheiro que está disponível para ter impacto’, provavelmente vamos ter uns efeitos pouco sistémicos. A mudança tem de acontecer não só ao nível do país, mas também ao nível da União Europeia.”
– Carlos Oliveira
“Temos de aprender a assumir mais o risco e o nível de ambição também.”
– Nádia Reis
Economia portuguesa
“Sobre a questão dos últimos oito anos, para evitar partidarizar este painel, eu prefiro olhar para os últimos 25 anos. Se olharmos, aliás a partir de 1950, eu acho que é isso que nós temos em primeiro lugar como país de olhar para termos consciência onde estamos. O período em que o país se comportou pior economicamente e que mais divergiu da Europa são os últimos 25 anos. Durante esses 25 anos, tivemos uma ligeira redução da desigualdade, mas ao custo sobretudo do empobrecimento generalizado da sociedade. Em Portugal são precisas cinco gerações para alguém passar de uma classe social para outra classe social. Continua a ser melhor termos mais educação, em média por ano adicional de escolaridade ganha-se mais 8%, mas temos vindo a assistir a uma diminuição do prémio salarial por ano de educação adicional. Uma redução do incentivo para as pessoas se qualificarem. Se olharmos para estes números dos últimos 25 anos, nós temos de nos preocupar. A minha preocupação é que eu vejo o país muito complacente. Como eu costumo dizer, satisfeito com a mediocridade. Desde que não tenhamos uma nova banca rota, parece que está tudo bem. Eu gostava que o país tivesse uma ambição bem diferente dessa.”
– Miguel Poiares Maduro