O número de unicórnios – startups avaliadas em mais de mil milhões de dólares – continuam a crescer no mundo. São, segundo dados da CB Insigths, que publica a lista completa, 1245 unicórnios que valem, no seu conjunto cerca de 3,9 biliões de dólares (cerca de 3,5 biliões de euros)
Portugal regista apenas um unicórnio, a Feedzai, que mantém a sua sede em Portugal, mas são contabilizados, como tendo origem nacional, outros cinco, com sede fora de fronteiras – porque o seu tamanho assim o exige. Já foram sete, mas a Farfecht, fundada pelo empresário de Guimarães, José Neves, deixou de ter o estatuto de unicórnio quando dispersou o capital em bolsa – e agora, depois da falência, deixou até de pertencer ao empreendedor nacional.
Segundo os dados da lista da CB Insights estas seis companhias valem juntas perto de 25 mil milhões de dólares (cerca de 22,5 mil milhões de euros. A Talkdesk é a mais valiosa, com um total de 10 mil milhões de dólares (cerca de 9 mil milhões de euros), seguindo-se a Outsystems, avaliada em 4,3 mil milhões de dólares (cerca de 3,9 mil milhões de euros). A Remote vale agora 3 mil milhões de dólares (cerca de 2,7 mil milhões de euros), sendo que a Sword Health e a Anchorage registam a mesma avaliação feita pelo mercado. A Feedzai mantém o seu valor inicial do estatuto, de mil milhões de dólares (cerca de 900 milhões de euros).
A Remote tem potencial para subir mais alto
“O trabalho remoto é algo que veio para ficar”, assume Marcelo Lebre, presidente e co-fundador da startup Remote, o que mostra claramente que a empresa está bem de saúde e com potencial para alcançar patamares mundiais bastante elevados nesta atividade.
Fundada em 2019, pelo português Marcelo Lebre e pelo holandês Job van der Voort, atual CEO, a empresa surgiu com o objetivo de quebrar as barreiras à contratação dos melhores funcionários do mundo pelas melhores empresas do mundo. Para isso, a Remote construiu uma plataforma de Recursos Humanos, projetada para gerir equipas remotas em qualquer parte do planeta, simplificando a gestão dos RH.
Os dois fundadores, amigos há alguns anos, perceberam que existia um problema a nível mundial na questão do trabalho remoto: não é possível, em praticamente país algum do mundo, por motivos de legislação, uma empresa estabelecer um contrato com profissionais que queiram trabalhar remotamente, mantendo-se nos seus países, se esta não tiver uma filial ou escritório instalada nesse mesmo país. “Ao discutirmos este problema, percebermos o que poderia ser uma solução para as empresas poderem contratar os melhores trabalhadores em qualquer geografia e ao mesmo tempo as pessoas conseguirem melhores empregos, sem ter de se deslocar. Chegámos, assim, à criação da Remote”, explica o presidente.
“A pandemia foi um catalisador que acabou por servir para mostrar que muitos trabalhos podem ser feitos a partir de qualquer lado, e vemos cada vez mais empresas a serem criadas precisamente nessa perspectiva”, diz Marcelo Lebre.
Daqui a tornar-se um unicórnio, foi um pulinho: esta é uma das empresas a nível mundial que atingiram mais rapidamente a valorização de unicórnio. Aconteceu em 2021, numa ronda de financiamento de série B, na qual angariou 150 milhões de dólares (cerca de 135 milhões de euros), valor que a elevou à fasquia de unicórnio. Marcelo Lebre nunca viu esta distinção como algo que marcasse efetivamente a atuação da empresa. “Não achamos que a classificação como unicórnio tenha tido um impacto relevante perante o mercado. Somos muito pragmáticos em relação ao nosso trabalho, e termos atingido esse “estatuto” foi uma pequena meta (claro que foi engraçado atingir), mas o nosso foco continua a ser o do nosso cliente. Creio que, como na maioria dos negócios, uma relação de sucesso com os clientes não é baseada em acontecimentos pontuais, mas sim no caminho que fazemos juntos”, explica à Forbes Portugal Marcelo Lebre.
Na última ronda de investimento, em 2022, numa Série C, recolheu mais uma tranche de 300 milhões de dólares (270 milhões de euros), avaliando a empresa em 3 mil milhões de dólares (cerca de 2,7 mil milhões euros). “O facto de continuamos a existir, a crescer e a criar novas soluções acaba por ser o melhor sinal de avaliação que podemos ter”, remata. Diz ainda a propósito “Que a principal receita para manter e fazer crescer um unicórnio – e para ser sincero, um unicórnio e qualquer outra empresa – é o trabalho. É não ter medo de arriscar e de fazer coisas novas e é não se contentar com aquilo que já está feito”.
No capital da Remote, sedeada em S. Francisco, nos Estados Unidos, entraram já investidores como a Accel, a Sequoia, a Index Ventures, a Two Sigma, a General Catalyst e a Day One Ventures. Sem adiantar as respetivas participações acionistas, Marcelo Lebre revela que os dois sócios mantêm o controlo da empresa em partes iguais. Presente em 75 países, a empresa jáá faz negócios em cerca de 35 moedas distintas.
A empresa que nasceu para inovar
Questionado sobre como tem evoluído a atividade da empresa após ter alcançado o estatuto de unicórnio, Marcelo Lebre pouco adianta e apenas diz: “A Remote foi criada para ser uma empresa dedicada à inovação e isso não mudou. A empresa mantém uma postura de inovação, de criar produtos novos, e de continua evolução.”
Diz ainda que o crescimento tem sido muito positivo, com muitos desafios enfrentados. “Os últimos anos foram de muito trabalho e tiveram acontecimentos muito desafiantes à escala global (pandemia, recessão, conflitos armados) – que influenciaram e continuam a influenciar a economia e os mercados de trabalho, mas a empresa conseguiu adaptar-se para dar resposta a esses desafios”. Acrescenta ainda que, relativamente à estratégia seguida, “hoje em dia, as coisas acontecem mais depressa e têm mais impacto relativo do que aquilo que acontecia anteriormente. Qualquer empresa de sucesso tem de ter uma boa noção daquilo que quer ser e quer fazer, mas ao mesmo tempo tem que ter a capacidade de se adaptar e de saber como e quando mudar de rumo quando a situação assim o requer”.
Afinal, em que consiste o negócio da Remote? A startup entra em cena cada vez que uma empresa que não está presente em Portugal, ou qualquer outro país onde tenha os seus serviços, quer contratar um profissional que vai trabalhar a partir de casa. O processo de seleção e de recrutamento fica a cargo da empresa cliente, que entra depois na plataforma, entrega os dados da pessoa recrutada e o valor do contrato e começa aí todo o processo de onboarding. “No fundo, a plataforma funciona como um departamento de Recursos Humanos automatizado em que pede os dados pessoais do trabalhador e gera um contrato de trabalho, que fica associado ao contrato que a Remote estabelece com o empregador”, explica Marcelo Lebre.
“Na última ronda de investimento, em 2022, numa Série C, recolheu mais uma tranche de 300 milhões de dólares (270 milhões de euros), avaliando a empresa em 3 mil milhões de dólares (cerca de 2,7 mil milhões euros)”.
A Remote cobra um preço fixo, independentemente do salário que a pessoa aufere, ou seja, a empresa cliente paga sempre o mesmo valor mensal, que é quase um custo de subscrição, e a startup trata de tudo o que envolva o colaborador, como o pagamento de salários, dos seguros de saúde, entre outros benefícios.
O seu crescimento anual tem sido sempre admirável e a pandemia acabou por ajudar a acelerar o negócio. Só entre dezembro de 2020 e dezembro de 2021, a Remote terá crescido cerca de 1.500%. “A pandemia foi um catalisador que acabou por servir para mostrar que muitos trabalhos podem ser feitos a partir de qualquer lado, e vemos cada vez mais empresas a serem criadas precisamente nessa perspetiva. Do lado dos trabalhadores, aquilo que vemos, é que a maioria das pessoas que experienciam o trabalho remoto acabam por preferir essa opção”, explica Marcelo Lebre.