O número de unicórnios – startups avaliadas em mais de mil milhões de dólares – continuam a crescer no mundo. São, segundo dados da CB Insigths, que publica a lista completa, 1.245 unicórnios que valem, no seu conjunto qualquer coisa como de 3,9 biliões de dólares (cerca de 3,5 biliões de euros).
Portugal regista apenas um unicórnio, a Feedzai, que mantém a sua sede em Portugal, mas são contabilizados, como tendo origem nacional, outros cinco, com sede fora de fronteiras – porque o seu tamanho assim o exige. Já foram sete, mas a Farfecht, fundada pelo empresário de Guimarães, José Neves, deixou de ter o estatuto de unicórnio quando dispersou o capital em bolsa – e agora, depois da falência, deixou até de pertencer ao empreendedor nacional.
Segundo os dados da lista da CB Insights estas seis companhias valem juntas perto de 25 mil milhões de dólares (cerca de 22,5 mil milhões de euros. A Talkdesk é a mais valiosa, com um total de 10 mil milhões de dólares (cerca de 9 mil milhões de euros), seguindo-se a Outsystems, avaliada em 4,3 mil milhões de dólares (cerca de 3,9 mil milhões de euros). A Remote vale agora 3 mil milhões de dólares (cerca de 2,7 mil milhões de euros), sendo que a Sword Health e a Anchorage registam a mesma avaliação feita pelo mercado. A Feedzai mantém o seu valor inicial do estatuto, de mil milhões de dólares (cerca de 900 milhões de euros).
Sword Health, o unicórnio que se preocupa com a sua saúde
“Excedemos as expectativas e as perspetivas que tínhamos sobre o nosso negócio e o seu potencial”. Quem o afirma é Márcio Colunas, co-fundador e Chief Scientific Officer da startup de origem portuguesa Sword Health. Fundada em 2015, por Virgílio Bento e Márcio Colunas, a génese da empresa está num projeto de investigação, realizado na Universidade de Aveiro, em 2008, que deu origem ao doutoramento de Virgílio Bento, que começou por desenvolver, e obter uma patente de uma solução de fisioterapia digital permitindo que os pacientes pudessem ser tratados remotamente a partir de suas casas.
É uma empresa que atua na área de artificial intelligence care, tendo desenhado a primeira plataforma de IA Care no mundo, para que os pacientes tenham acesso a soluções de saúde a qualquer hora e em qualquer lugar. “Começámos com uma só solução em Portugal, na Austrália e nos Estados Unidos, e depois expandimos para novos mercados como o Canadá. Hoje já disponibilizamos aos nossos clientes e pacientes um portefólio de sete soluções numa só plataforma tecnológica que resolvem diferentes problemas”, explica Márcio Colunas. Para o co-fundador da empresa, “O problema que estamos a resolver afeta mais de dois mil milhões de pessoas em todo o mundo. Nos Estados Unidos, o tratamento de doenças músculo-esqueléticas é o maior custo de saúde, superior, por exemplo, ao custo com tratamento de doenças oncológicas e doenças mentais em conjunto”.
Com mais de 800 colaboradores a nível global, dos quais mais de 300 só em Portugal, a empresa está a recrutar cerca de 100 profissionais para diferentes áreas.
A Sword Health tornou-se um unicórnio em 2021, quando a sua avaliação ultrapassou a barreira dos mil milhões de dólares (cerca de 900 milhões de euros) através de uma ronda de financiamento que a valorizou em dois mil milhões de dólares (cerca de 1,80 mil milhões de euros). Anunciou, muito recentemente, que realizou um evento de liquidez privado tendo os colaboradores da empresa encaixado, entre Portugal e os Estados Unidos, através da venda de ações dos próprios, cerca de 100 milhões de dólares (cerca de 90 milhões de euros). Foram cerca de uma centena os colaboradores portugueses que aderiram à operação e encaixaram um valor total de 55 milhões de dólares (50 milhões de euros).
Paralelamente, a empresa avançou ainda com uma nova ronda de financiamento institucional no valor de 30 milhões de dólares (cerca de 27 milhões de euros), envolvendo investidores portugueses de capital de risco como a Oxy Capital e a Lince Capital. Esta entrada de capital catapulta a valorização da empresa para o patamar os 3 mil milhões de dólares (cerca de 2,7 mil milhões de euros).
“Internamente partilhamos muito a expressão «Still only 5% done», porque nos relembra e inspira que a nossa missão é muito ampla e, como tal, continuamos diariamente a ter muitos desafios por resolver”, diz Márcio Colunas.
Márcio Colunas explicou à Forbes Portugal, a propósito da necessidade futura de recorrer a novos financiamentos, que “não temos necessidade de receber novos investidores para executar o nosso plano de crescimento. Se existirem objetivos estratégicos que façam sentido, iremos avaliar que tipo de investidores fazem sentido captar”. No entanto, afirma que, apesar de não necessitarem levantar mais capital para cumprir os objetivos, o principal foco da empresa é na inovação, por isso será sempre o foco de investimento da empresa.
Phoenix, a versão melhorada da plataforma
A Sword Health anunciou que o capital levantado na ronda anterior vai servir para reforçar a inovação em AI Care, através do Phoenix, uma nova solução baseada em Inteligência Artificial (IA), uma ferramenta digital que vai ajudar os pacientes através de sessões de terapia virtual, ajudando-os a gerirem a dor e evitando tratamentos com opioides e cirurgias. Graças a modelos sofisticados de Inteligência Artificial, o Phoenix é capaz de fornecer feedback em tempo real durante as sessões, estabelecer um diálogo, fazer perguntas e, com base nas respostas dos pacientes, fazer recomendações personalizadas, bem como ajustar os planos de tratamento, sempre supervisionados pela equipa clínica da Sword Health.
“O lançamento do Phoenix representa o maior avanço do nosso modelo até hoje, e estamos muito motivados com o impacto que terá na forma como, atualmente, as pessoas acedem e recebem cuidados de saúde”, diz o responsável. Avança ainda que com mais de três milhões de sessões de AI Care realizadas até à data, “conseguimos provar que o nosso modelo é capaz de cumprir a nossa visão inicial de utilizar Inteligência Artificial para tornar os cuidados de saúde de alta qualidade tão acessíveis quanto a água potável, contribuindo, simultaneamente, para poupar milhões de dólares em custos de saúde desnecessários aos nossos clientes e chegar a cada vez mais pacientes”.
Questionado sobre a importância de obter o estatuto de unicórnio, Márcio Colunas admite que “Não é um estatuto que nos move, nem ao qual damos particularmente atenção. O estatuto de unicórnio contribuiu para conseguirmos cumprir a nossa missão, mas não é o foco. O que realmente nos move e o motivo pelo qual trabalhamos todos os dias é a nossa missão de libertar mais de dois mil milhões de pessoas da dor em todo o mundo”. Diz ainda que “Internamente partilhamos muito a expressão «Still only 5% done», porque nos relembra e inspira que a nossa missão é muito ampla e, como tal, continuamos diariamente a ter muitos desafios por resolver”.
“O lançamento do Phoenix representa o maior avanço do nosso modelo até hoje, e estamos muito motivados com o impacto que terá na forma como, atualmente, as pessoas acedem e recebem cuidados de saúde”, diz Márcio Colunas
O crescimento da Sword Health tem sido contínuo e acelerado. Esta é a tecnológica de origem portuguesa de maior crescimento na região EMEA, segundo a consultora multinacional Deloitte que acaba de anunciar a sua lista de vencedores do prémio Technology Fast 500 EMEA 2023. Manter esse crescimento será mais difícil? Talvez não, acredita a empresa. “Como estamos a diversificar nas soluções que disponibilizamos aos nossos clientes, temos um potencial de crescimento muito elevado e existe um product market fit muito relevante para continuarmos a expandir, não só nos Estados Unidos, e em mercados como a Austrália e o Canadá, mas também a nível global”, explica Márcio Colunas.
Com mais de 800 colaboradores a nível global, dos quais mais de 300 só em Portugal, a empresa está a recrutar cerca de 100 profissionais para diferentes áreas, desde a Inteligência Artificial, à engenharia, passando pelo marketing, pelo comercial e pelas áreas de clínica e de operações. Está disponível em mais de 10 mil empresas e planos de saúde.