O músico Dino d’Santiago, também presidente da ONG Mundu Nôbu, participou do Forbes Annual Summit, onde partilhou a sua experiência de vida e visão sobre um Portugal mais inclusivo e solidário.
Na sua intervenção, Dino d’Santiago recordou as histórias dos seus pais, que emigraram de Cabo Verde para Portugal em diferentes épocas – o pai em 1972, ainda no período colonial, e a mãe em 1982, ano do seu nascimento. O cantor destacou as dificuldades que enfrentaram ao procurar dignidade e um lugar na sociedade portuguesa, num país onde, mesmo para os portugueses, a vida era desafiante.
Dino d’Santiago relembrou a sua infância num bairro social sem condições básicas, como água potável e eletricidade, uma realidade que, segundo ele, ainda persiste em pleno século XXI em alguns bairros sociais do país. Esta experiência moldou a sua visão de mundo e inspirou-o a criar um legado que não fosse apenas material, mas também humano e transformador.
Papel da ONG Mundu Nôbu
O projeto Mundu Nôbu é fruto de anos de reflexão e trabalho colaborativo, Dino revelou que a inspiração para a sua ONG surgiu em viagens aos Estados Unidos, onde conheceu modelos de inclusão comunitária bem-sucedidos em bairros afro-americanos e latinos. A adaptação desse modelo à realidade portuguesa deu origem à Mundu Nôbu, que tem como objetivo criar um espaço onde sonhos não morrem e são apoiados de forma estruturada e sustentável.
A sede da Mundu Nôbu em Alvalade é um reflexo desse compromisso, sublinha o musico luso-cabo-verdiano, mais do que um edifício, a “Casa das Orquídeas” é um centro de acolhimento para jovens de 14 a 18 anos, com suporte psicológico e uma equipa de monitores dedicados 24 horas por dia. Dino sublinhou a importância de criar um ambiente seguro e acolhedor, onde cada jovem seja tratado como parte de uma família.
Portugal: Um país multicultural e com potencial transformador
O cantor destacou o “novo Portugal”, caracterizado pela diversidade cultural, com mais de 40 nacionalidades presentes nas escolas, principalmente na região sul do Tejo. Dino acredita que essa diversidade é uma oportunidade para o país se tornar melhor e mais inclusivo, superando as barreiras impostas pelas fronteiras e preconceitos.
Para o artista, o verdadeiro desafio é reconhecer e valorizar a riqueza humana que já existe em Portugal. Dino defendeu que um futuro regenerado e transformador depende da empatia e compaixão, valores que herdou dos seus pais, apesar das adversidades e do racismo que enfrentaram, nunca alimentaram o ódio, ensinando-o a olhar para todos como irmãos.
Dino d’Santiago encerrou o seu discurso com um apelo à solidariedade e à consciência coletiva. “Muitas vezes, não cumprimentamos quem encontramos no elevador ou ignoramos quem limpa os nossos escritórios e casas. São essas pessoas invisíveis que merecem o nosso reconhecimento”, afirmou.
Dino espera contribuir para um país mais justo, onde cada indivíduo tenha a oportunidade de deixar a sua marca e viver plenamente. “Acredito que podemos criar um Portugal regenerado e transformador, onde todos tenham lugar e oportunidade de brilhar”, concluiu.