O Turismo de Portugal (TdP), através da Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa, é um dos parceiros do Programa Reconectar, lançado pela Central de Cervejas, cujo mote é a capacitação e a empregabilidade dotando os participantes de uma formação teórica e prática certificada. Em entrevista à Forbes, à margem da apresentação do programa, o presidente do conselho diretivo do Turismo de Portugal, Carlos Abate, sublinha a importância da formação para que os profissionais acompanhem o crescimento sustentável que se pretende no setor do turismo. Carlos Abade detalha ainda as linhas mestras com que se vai desenhar a “Estratégia Turismo 2035”.
Como é que Portugal pode continuar a ser atrativo em termos turísticos?
O turismo é uma grande indústria económica e em Portugal, de facto, tem sido uma indústria que tem ajudado a crescer. Tem sido um grande motor daquilo que é o desenvolvimento económico do país. E isso traduz o trabalho de muitos anos, muitas pessoas têm feito, de facto, coisas extraordinárias para que o turismo possa hoje ser o setor que é. O grande objetivo do setor é, obviamente, criar cada vez mais valor e poder, de facto, entregar cada vez mais valor às comunidades e às pessoas e aos seus trabalhadores. E isso é aquilo que está no seu ADN. Hoje estamos a trabalhar na nova estratégia, 2035, para os próximos 10 anos, precisamente porque os objetivos da atual estratégia já foram atingidos. Mas nesta nova estratégia nós seremos cada vez mais precisos relativamente aos objetivos que queremos atingir.
Em traços gerais, quais são esses objetivos?
Os objetivos que queremos atingir têm de ser muito isto, que é crescer, claro, crescer em valor, de uma forma sustentável, de uma forma responsável, conseguir entregar cada vez mais valor às comunidades, distribuí-la de uma forma cada vez mais justa pelo território e com cada vez menor taxa de sazonalidade, ou seja, ao longo de todo o ano. E é este o trabalho que temos de fazer. Para que isso aconteça, nós, de facto, temos de ter aqui um papel fundamental naquilo que é a formação, a capacitação das pessoas, porque se nós queremos uma indústria de excelência, naturalmente que temos de ter equipas de excelência. E essas equipas têm de ser capacitadas, têm de ser formadas e têm de ser valorizadas, no sentido de que continuamente tem de se melhorar aquilo que são as respetivas condições de trabalho.
É nessa ótica que o Turismo de Portugal se associa ao Programa Reconectar lançado pela Central de Cervejas?
O que fizemos com este programa Reconectar, foi basicamente associar-nos a mais entidades que estão alinhadas com estas preocupações e criar aqui um programa que permita, neste caso, a formação de 10 jovens que serão formados na área da restauração na Escola de Hotelaria de Lisboa e que serão depois integrados no mercado de trabalho através da AHRESP, que com os seus associados tomarão conta dessa parte. E é isso que nós temos de fazer, é trabalhar em parceria, ver o que é que cada um de nós pode aportar e criar mais valor para o programa e, de facto, estamos muito alinhados nisto que é garantir que haja formação, que haja capacitação, que haja inclusão do ponto de vista daquilo que é a empregabilidade, porque isso, na verdade, gerará o maior enriquecimento do próprio setor e este programa, de facto, está muito alinhado com estes princípios.
Tem-se falado muito da escassez de mão-de-obra e alguns hoteleiros referem que poderiam trazer, por exemplo, pessoas de outras unidades fora do país para Portugal, mas depois esbarram com as questões burocráticas, não há concessão de vistos. Como é que o Turismo Portugal poderia ajudar?
Nós temos a noção de que temos um papel dentro de uma questão mais vasta. Como é evidente, estamos aqui a contribuir com a formação e capacitação das pessoas, para que essas pessoas estejam formadas e qualificadas para integrar o mercado de trabalho. Claro que a nossa preocupação é mais vasta do que essa. Porque não podemos fazer isto sem que haja uma boa integração, nomeadamente, daqueles que escolheram Portugal para vir trabalhar. Esse é, evidentemente, um esforço que nós temos todos os dias. Várias entidades esforçam-se todos os dias para criar as melhores condições para que essa integração seja feita da melhor forma possível. Do lado do Turismo Portugal, temos aqui um papel forte ao nível da formação, ao nível da qualificação, ao nível da interação com o tecido empresarial do setor do turismo, para que haja condições de trabalho para essas pessoas que vêm trabalhar para Portugal e que são essenciais para o processo de crescimento do setor do turismo. E aquilo que nós pretendemos fazer é dar qualificação a essas pessoas, valorizar o seu trabalho, integrá-las no mercado de trabalho e integrá-las neste processo de crescimento sustentável e responsável que o setor quer ter.
Em 2024 vai ser atingido os 27 mil milhões de euros de receitas turísticas que seria o objetivo para 2027. O que contribuiu para se ter chegado de forma mais rápida a esse número?
Portugal tem, de facto, ativos estratégicos extraordinários no âmbito do turismo. Para já, em primeiro lugar, a hospitalidade do povo português e a capacidade de receber e de acolher bem todos aqueles que nos visitam. A dimensão do seu espírito de inclusividade, de abertura ao mundo é absolutamente um ativo estratégico e é o ativo central daquilo que é o posicionamento do setor do turismo. Naturalmente que o tema do clima, o tema da segurança, o tema da diversidade daquilo que é a nossa riqueza cultural, a nossa riqueza natural e cultural, aquilo que são temas como a nossa gastronomia, os nossos vinhos.
Portugal está bem posicionado nos rankings…
A nossa qualidade de oferta turística permite posicionar Portugal no 12º destino turístico mais competitivo do mundo. E isso, naturalmente, faz com que Portugal tenha, relativamente aos outros destinos concorrentes, mais-valias competitivas que, naturalmente, as coloca todos os dias em cima da mesa para captar um mercado que traga cada vez mais valor para Portugal. E essa é outra dimensão em que nós estamos vindo a trabalhar. É diversificar cada vez mais os mercados, procurar mercados, segmentos, nichos de mercados que possam aportar cada vez mais valor a Portugal. E o que tem feito com que, ao longo dos últimos anos, o rácio entre aquilo que é o crescimento das dormidas e aquilo que é o crescimento em valor tem, de facto, sido muito mais positivo relativamente ao crescimento em valor. Por exemplo, estes anos estamos a crescer quase 10% no volume de receitas turísticas que entrou em Portugal e cerca de 4%/5% relativamente àquilo que é o crescimento das dormidas. Isso significa que Portugal, com os seus atributos, com as suas mais-valias competitivas, tem conseguido entrar em mercados de maior valor acrescentado e isso, naturalmente, vem enriquecer o mercado e enriquecer aquilo que é a criação de riqueza em cada uma das empresas do setor.
Já não somos só um destino sol e praia…
Há muito que não somos só um destino sol e praia. Temos uma oferta muito diversificada ao longo de todo o território. E é precisamente esses atributos, esses recursos, esses produtos que nós estamos, neste momento, a promover e a distribuir internacionalmente.
Por isso se diz que o setor está a contribuir para a economia quase mais do que a bazuca europeia que se situa nos 22 mil milhões de euros…
A bazuca é só para se ter um bocadinho a referência do valor, porque naturalmente a bazuca tem, que é o PRR, tem uma importância extrema naquilo que é a criação de novas condições, melhores condições para que o país seja mais competitivo. Agora, é verdade que a dimensão das receitas do turismo que entram em Portugal é, de facto, muito grande por ano. E aquilo que temos de trabalhar é para tornar este crescimento constante, sustentável, responsável, assente muito naquilo que é a inovação, na qualificação dos recursos humanos, na capacidade de gerar valor. Isso é um trabalho de todos os dias e é com isso que nós estamos comprometidos.